Ciência
Estudo pioneiro sobre o impacto da alimentação nos doentes com cancro (Lusa, 4/03/2005)

Cancro: cientista portuguesa recebe prémio internacional

21 de março, 2005

Uma cientista portuguesa foi premiada internacionalmente por um estudo pioneiro sobre o impacto da alimentação nos doentes com cancro, através do qual concluiu que uma nutrição adequada ajuda a tolerar melhor os tratamentos, atenuando os sintomas. Os resultados do trabalho sustentam que a nutrição tem de ser um aspecto a ter em conta no tratamento global dos doentes com cancro, explicou Paula Ravasco à Lusa.

A investigadora da Unidade de Nutrição e Metabolismo do Instituto de Medicina Molecular (IMM) está a fazer o doutoramento na área da nutrição e oncologia, na qual trabalha há três anos.

Prestes a completar 30 anos de idade, a cientista e nutricionista no Hospital de Santa Maria foi agora distinguida com o prémio Eminent Scientist of the Year 2004 & Millenium Golden International Award, na área da oncologia clínica, que será entregue no dia 18 de Março, no IMM.

O galardão é concedido pela associação International Research Promotion Council, que nomeia cientistas de acordo com a relevância e impacto dos trabalhos publicados.

"Comecei por estudar o impacto e peso da nutrição nos doentes com cancro, como afecta a sua qualidade de vida, a sua sintomatologia, em comparação com outras variáveis", explicou.

A investigação foi desenvolvida em ambiente clínico, em doentes do serviço de radioterapia do Hospital de Santa Maria, que mantém uma colaboração com o IMM.

Após concluir que o papel da nutrição nestes doentes "era muito significativo", Paula Ravasco decidiu estudar "qual seria o impacto de uma intervenção personalizada", adequando a alimentação "à doença e à pessoa".

"A nutrição tem de ser adequada a isso tudo", sustentou, acrescentando que os últimos trabalhos publicados ou que vai publicar se debruçam sobre a alimentação adequada a doentes com cancro do cólon e recto e da cabeça e pescoço.

Os benefícios desta adequação vão desde uma "melhor tolerância aos tratamentos" à "atenuação dos sintomas", com influência na qualidade de vida destes doentes.

"Nunca ninguém fez este tipo de estudo", revelou, sublinhando que os seus trabalhos sustentam que a nutrição tem de ser integrada no tratamento global dos doentes com cancro.

Uma questão referida, aliás, pelo Conselho da Europa, um órgão internacional que inclui 44 Estados membros do continente europeu.

"Os sintomas são atenuados, os doentes têm mais força, mais motivação, e por isso toleram melhor os tratamentos", reforçou à Lusa, afirmando que "vai continuar a explorar esta área".

Os resultados da investigação de Paula Ravasco foram já publicados em várias revistas científicas internacionais, como a "Clinical Oncology", "Clinical Nutrition" ou "Head and Neck".

Lusa, 4/03/2005