EDITORIAL
Conta-se uma história, de uma sociedade muito organizada, em que determinado indivíduo precisava de um par de botas. Dirigiu-se à repartição que lhe fora indicada e, sendo do sexo masculino, foi remetido para determinada secção. Nessa, constatando-se que pretendia de cor castanha, mandaram-no para a subsecção adequada. Aí, tendo sido apurado que preferia botas de camurça, disseram-lhe que só tinha de se deslocar à sala mais abaixo. E por aí adiante, até que, chegado ao fim da linha, foi informado que estava no balcão certo. Questionado, mais tarde, por um amigo sobre o que se passara, respondeu: a organização era estupenda, ali ninguém se perde, pois é informado com precisão, agora, botas é que não tinham.
É um pouco o que acontece no nosso país em relação aos professores. Dos governantes, ouvem-se dos mais rasgados elogios: são dos melhores do mundo; trabalham muito bem e merecem ser valorizados; têm horários de trabalho sobrecarregados e são obrigados a desempenhar tarefas burocráticas que, realmente, não lhes deveriam ser atribuídas; temos um corpo docente envelhecido, pelo que é preciso fazer alguma coisa… o problema é quando chega o momento de fazer essa coisa…
O que tem acontecido é que, aos melhores professores do mundo, não se quer contar anos de serviço em que, naturalmente, terá sido desenvolvida da melhor atividade docente do mundo (e os resultados dos alunos confirmam isso mesmo); no sobrecarregado horário dos melhores do mundo não se mexe, pois isso obrigaria a abrir mais vagas nos quadros e a contratar mais alguns, coisa que as finanças não autorizam; apesar de ser necessário rejuvenescer o corpo docente das escolas, o melhor será preservar esta “colheita vintage”, vá lá saber-se por que razão…
Não pode ser assim. Sejam ou não dos melhores do mundo – e, seguramente, são! – do que os professores têm consciência é que dão o seu melhor e conseguem superar-se, apesar das condições que as escolas oferecem. Portanto, se cumprem de forma irrepreensível os seus deveres profissionais é absolutamente legítimo que exijam respeito pelos seus direitos. Desde logo, o de lhes ser contado integralmente, para todos os efeitos, o tempo de serviço que prestaram no exercício da sua atividade profissional. Enquanto o governo recusar fazê-lo, os professores continuarão a lutar por esse justíssimo objetivo porque, também na luta, são dos melhores do mundo.
Mário Nogueira, Secretário-Geral da FENPROF
Neste número (entre outros textos) poderás ainda encontrar:
04. AÇÃO SINDICAL
Tomadas de Posição reafirmam vontade, disponibilidade e mobilização para a Luta
07. AÇÃO SINDICAL
Greve de 1 a 4 de outubro: Pré-Aviso entregue no M.E.
08. EM FOCO
Relatório da OCDE parte de dados falsos e põe a circular mentiras
11. AÇÃO SINDICAL
Plenário Nacional de Quadros Sindicais aponta caminho de unidade e de luta
14. IMPRESSÕES
14 mil razões para rever o regime legal de concursos. VÍTOR GODINHO
16. ENTREVISTA
Ana Simões ao JF:
"Dificilmente, desta forma, teremos Inclusão!"
18. EM FOCO
A imposição de uma falsa Autonomia e Flexibilidade. Curricular! BRÍGIDA BAPTISTA
20. REPORTAGEM
Encontro Internacional sobre o desgaste na profissão docente: reportagem, declarações, mesa redonda com Mário Nogueira, Henrique Silveira e Raquel Varela
26. SETORES
PREVPAP no Superior:
Um ano depois e ainda sem resultados à vista. TIAGO M. DIAS
27. SETORES
Emprego científico: O artigo 23.º do nosso descontentamento… ANDRÉ CARMO
28. SETORES
A farsa do descongelamento das carreiras no Superior. A. FERNANDES DE MATOS
32. NACIONAL
Notícias dos Açores e da Madeira
33. CULTURAIS
Jazz, fotografia e teatro