JF Online, setembro 2024 Em foco
Educação para a Paz

«Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar!»

30 de setembro, 2024

Manuel Guerra
Membro do Conselho Nacional da FENPROF

«É hora de uma paz justa baseada na Carta da ONU, no direito internacional e nas resoluções da ONU. Enquanto isso, Gaza é um pesadelo ininterrupto que ameaça levar toda a região com ele. Basta olhar para o Líbano. Todos nós deveríamos ficar alarmados com a escalada. O Líbano está à beira do abismo. O povo do Líbano, o povo de Israel e o povo do mundo não podem permitir que o Líbano se torne outra Gaza.»

Inicio este artigo com um excerto da recente intervenção do secretário-geral da ONU na abertura do Debate Geral da 79.ª sessão da Assembleia Geral, em 24 de Setembro de 2024, e com dois fotogramas registados em 2012, numa viagem à Palestina em que tive oportunidade de acompanhar os DRK Grupo de Teatro Fórum e do Oprimido da Cova da Moura e do Zambujal / GTO LX. A dado momento, nas ruas de Tulkarem, na Cisjordânia, uma criança aproximou-se da câmara para me/nos mostrar o seu pintainho. Nestes dias em que tantas outras crianças, jovens e mulheres, bem como professores, educadores, investigadores e outros profissionais de educação, morrem de forma bárbara e indiscriminada, o plano e o olhar da «criança do pintainho» ressurgem e interpelam. 

É urgente uma Educação para a Paz, é urgente que todas as vozes se ergam por uma Palestina Livre e pela Paz no Médio Oriente.

Os ataques de Israel contra a população da Faixa de Gaza, que farão em Outubro um ano da sua brutal intensificação, já provocaram mais de 40 000 mortos e mais de 92 000 feridos, na sua maioria civis. Mais de 200 funcionários da ONU foram mortos, muitos deles com as suas famílias. Praticamente toda a população da Faixa de Gaza — 1,9 milhões de habitantes, 90% da população — foi obrigada violentamente a deslocar-se mais do que uma vez.

Apesar de o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional — artigo 8.º, ponto 2, alínea ix) — determinar que constitui Crime de Guerra «Dirigir intencionalmente ataques a edifícios consagrados ao culto religioso, à educação, às artes, às ciências ou à beneficência, monumentos históricos, hospitais e lugares onde se agrupem doentes e feridos, sempre que não se trate de objetivos militares», na Faixa de Gaza sucedem-se os ataques a várias infra-estruturas civis.

Ainda recentemente, no dia 12 de Setembro, data em que muitas crianças e jovens, professores e educadores iniciaram um novo ano letivo em Portugal, foi perpetrado mais um ataque a uma escola na Faixa de Gaza, desta feita a uma escola da ONU que abrigava crianças e jovens, bem como famílias deslocadas, estimando-se a morte de pelo menos 34 pessoas, incluindo 6 funcionários da ONU. Infelizmente, este é só mais um ataque dos muitos infligidos a escolas e instituições de ensino.

Segundo dados disponibilizados pela plataforma Visualizing Palestine, no final do mês de Agosto, em Gaza, estimava-se a morte de pelo menos 9773 estudantes e 409 profissionais de educação. Mais de 625 000 estudantes não têm acesso a Educação e 85% das escolas foram atacadas ou destruídas, requerendo reparações significativas ou reconstrução total. Todas as universidades foram também bombardeadas, o que resultou na significativa ou completa destruição dos edifícios, e cerca de uma centena de professores do ensino superior foram mortos (dados até Abril de 2024), o que impede que cerca de 88 000 jovens tenham acesso a formação superior.

Entretanto, ao sofrimento do povo da Palestina, incluindo na Cisjordânia, junta-se agora o do povo do Líbano. Face aos mais recentes ataques de Israel, nas últimas horas o Ministério da Saúde libanês informou que 558 pessoas foram mortas e 1835 ficaram feridas. A ACNUR, a agência da ONU para os refugiados, confirmou a morte de 2 funcionários vítimas dos bombardeamentos. Estima-se que, desde 23 de Setembro, mais de 90 000 pessoas foram deslocadas no Líbano, um número que continua a crescer. Inaceitável e aterradora foi também a forma como indiscriminadamente e sem qualquer preocupação com vítimas civis, foram, no passado dia 17 de Setembro e seguintes, detonados milhares de aparelhos de comunicação pessoal.

Face a tamanha catástrofe e à necessidade de exigência de Paz, entre os dias 2 e 12 de Outubro, terá lugar em Portugal uma Jornada Nacional de Solidariedade, intitulada «Palestina Livre! Paz no Médio Oriente», convocada por CPPC, MPPM, CGTP-IN e Projecto Ruído. Esta Jornada terá o seu encerramento com uma grande manifestação em Lisboa, no dia 12 de Outubro, a partir das 15h, do Martim Moniz em direção à Praça do Município.

Professores, educadores e investigadores sabem bem a importância de educar para a paz, em toda a sua abrangência, e intervir pela paz. Não por acaso, em 2024, a UNESCO dedicou o Dia Internacional da Educação ao papel essencial que a educação e os professores desempenham no combate ao discurso de ódio e alertou para a importância, urgente mais do que nunca, de um compromisso ativo com a paz — cf. Recomendação da UNESCO sobre Educação para a Paz, os Direitos Humanos e o Desenvolvimento Sustentável.

A Educação para a Paz é exigência central do nosso tempo. Dentro e fora da sala de aula, com a criatividade e a diversidade de caminhos que nos caracteriza, que outra questão pode exigir mais a nossa atenção e acção no momento presente?

«Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar!»


Jornada Nacional de Solidariedade «Palestina Livre! Paz no Médio Oriente»

 

02 OUT | 18h00 | Coimbra: desfile, da Rotunda Cindazunda à Praça 8 de Maio

03 OUT | 18h00 | Portalegre: desfile da Praça da República ao Rossio

03 OUT | 18h00 | Setúbal: concentração na Praça do Bocage

04 OUT | 16h00 | Covilhã: desfile do Jardim Público ao Pelourinho

04 OUT | 18h00 | Alpiarça: concentração no Jardim Municipal

05 OUT | 10h00 | Viseu: Rossio

06 OUT | 15h30 | Porto: desfile da Praça dos Poveiros à Praça General Humberto Delgado

07 OUT | 18h30 | Évora: concentração na Rua João de Deus

08 OUT | 15h00 | Guarda: acção de esclarecimento do Jardim José de Lemos

08 OUT | 17h30 | Leiria: acto público na Fonte Luminosa

09 OUT | 17h00 | Viana do Castelo: desfile do Jardim D. Fernando à estação da CP

09 OUT | 18h00 | Beja: desfile na Praça da República

10 OUT | 17h30 | Braga: desfile com início no Largo São Francisco

10 OUT | 18h00 | Espinho: concentração do Largo da Estação

11 OUT | 18h00 | Castelo Branco: pintura de mural em frente ao tribunal

11 OUT | 18h00 | Faro: concentração no Jardim Manuel Bívar

12 OUT | 15h00 | Lisboa: desfile do Martim Moniz à Praça do Município