JF Online, abril 2023
Internacional

CSEE toma posição sobre impacto do ChatGPT na profissão docente

24 de abril, 2023

Desde os primeiros meses de 2023, que o ChatGPT tem vindo a suscitar grande debate. Entre o muito que se tem escrito na imprensa e nas redes sociais sobre a forma como essa tecnologia pode transformar o mercado de trabalho, a educação e a sociedade como um todo, um artigo de Alex Mitchell no New York Post prognosticava que o ChatGPT poderá tornar obsoletos alguns dos designados ‘empregos de colarinho branco’, em que incluía a docência.

Lançado no mercado em Novembro de 2022 pela empresa norte-americana OpenAI, o ChatGPT (sigla para “Generative Pre-Trained Transformer”) é uma das novas plataformas de inteligência artificial generativa. É uma ferramenta diferente de outros designados chatbots, já que enquanto um chatbot tradicional é programado de acordo com um guião previamente definido, respondendo apenas às perguntas para as quais foi programado, o ChatGPT é uma tecnologia capaz de responder a um número infinito de perguntas, decodificando-as a partir de dados disponíveis na internet, permanentemente atualizados e alimentados com novas informações.

Por outras palavras, o que torna o ChatGPT e outras plataformas similares de IA únicas é a capacidade de produzir texto original (em 95 línguas!), um desenvolvimento que tem inevitáveis implicações para o ensino e a aprendizagem, nomeadamente ao nível da avaliação dos alunos   - veja-se a dificuldade em detetar casos de plágio quando o ChatGPT é capaz de reescrever sucessivas versões de um mesmo texto.... Neste contexto, várias instituições de ensino proibiram já a utilização do ChatGPT.

Analisando as oportunidades e riscos que este e outros modelos de IA colocam ao setor da educação, o Comité Sindical Europeu da Educação(CSEE)[1], na reunião realizada em 21 de março de 2023, aprovou uma posição, em que:

- insta as instituições de ensino e as autoridades educativas (a nível local, nacional e europeu), a desenvolverem um efetivo diálogo social com os profissionais da educação e os seus sindicatos, a fim de avaliar o impacto das ferramentas de Inteligência artificial generativa, como o ChatGTP, nas condições de trabalho de professores, académicos, investigadores e outros trabalhadores da educação, assim como na atratividade e estatuto da profissão docente;

- apela aos governos e às autoridades educativas a que incluam modelos de IA generativa, como o ChatGPT, no campo de aplicação dos regulamentos existentes e futuros sobre a utilização de IA;

- manifesta séria preocupação pela previsível multiplicação de violações da propriedade intelectual de professores, académicos e Investigadores, por parte de ferramentas como o ChatGPT, defendendo que a regulamentação da IA, nomeadamente a próxima legislação da UE sobre a IA, deve incluir a obrigação de uma declaração por parte dos promotores destes sistemas de IA sobre a legalidade dos dados obtidos, responsabilizando-os por todas as violações de legislação nacional e europeia sobre direitos de autor;

- exige a criação de condições, ao nível da formação inicial e da formação contínua, para que professores, académicos e restantes profissionais da educação possam adquirir as competências necessárias para apreender as oportunidades e desafios ligados à IA, tanto no quadro das suas condições de trabalho como das pedagogias educativas. Essa formação deve ser facilmente acessível, gratuita, organizada durante o horário de trabalho e atualizada de forma regular.

Como a Internacional da Educação tem vindo a afirmar, as tecnologias digitais só serão úteis no processo de ensino-aprendizagem, se permitirem reforçar a qualidade da educação. O sucesso da inovação digital terá de ser medido em função do seu contributo para a equidade, o bem-estar humano, a criatividade, os valores democráticos e o desenvolvimento sustentável. Daí a necessidade de acompanhar de perto a aplicação da IA no setor da educação, sendo vital que professores, comunidades escolares e sistemas educativos estabeleçam os termos para o uso da IA nas escolas, de forma a garantir a centralidade do humano no seu desenvolvimento.

 

Manuela Mendonça
Presidente do Conselho Nacional da FENPROF

 


[1] O Comité Sindical Europeu para a Educação representa 127 Sindicatos da Educação e 11 milhões de professores em 51 países da Europa. O CSEE é um Parceiro Social na educação a nível da EUE e uma Federação Sindical Europeia no seio da CES, a Confederação Europeia de Sindicatos. É ainda a Região Europeia da Internacional da Educação, a federação mundial de sindicatos de educação.