Manuela Mendonça
Presidente do Conselho Nacional
Reunido em Buenos Aires, Argentina, de 29 de julho a 2 de agosto, o 10º Congresso Mundial da Internacional da Educação (IE) adotou 42 resoluções, agrupadas em 5 secções: A – Fazer crescer os nossos sindicatos; B – Elevar as nossas profissões; C – Defender a democracia; D – Garantir a equidade; E – Promover a paz.
Os 1200 delegados presentes, incluindo 4 da FENPROF, elegeram Mugwena Maluleke (SADTU, África do Sul) como novo Presidente da IE, sucedendo a Susan Hopgood (AEU, Austrália), em funções desde 2009. David Edwards foi reeleito para o cargo de Secretário-Geral. Elegeram ainda os restantes membros do Comité Executivo mundial.
Na intervenção de abertura, Susan Hopgood referiu-se à crise mundial da educação, sublinhando a necessidade de uma ação imediata em questões críticas como a falta de professores, o financiamento da educação, a negociação coletiva e outras formas de diálogo social, a tecnologia da educação, os refugiados, o trabalho infantil, o efeito da guerra na educação e nas crianças, a crise climática. Sublinhando o papel dos sindicatos na construção do futuro, apelou a uma ação coletiva em defesa do bem comum e de uma visão da educação que promova os direitos humanos, a sustentabilidade e a democracia.
Na sua intervenção, considerou, ainda, “históricas” as recomendações do Painel de Alto Nível sobre a Profissão Docente, criado por António Guterres, lembrando que estas contêm soluções para o problema da escassez mundial de professores e que os sindicatos podem usá-las para pressionar os governos a garantir o investimento público na educação e a valorização da profissão docente.
Por sua vez, David Edwards afirmou que, perante as “tentativas de substituir o relacional pelo transacional” e” as promessas excessivas da tecnologia”, a IE continuará a lutar por uma escola pública de qualidade, livre, emancipatória e inclusiva. Acrescentou ainda que as sucessivas crises (nomeadamente a Covid-19 e as guerras) tornaram a escola “um símbolo vivo de resiliência e ambição” e forjaram uma solidariedade sindical internacional “mais forte do que nunca”. A IE continuará a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para restabelecer os direitos sindicais dos professores e os valores da dignidade, da humanidade e da solidariedade, onde quer que estejam ameaçados.
O Congresso aprovou resoluções em solidariedade com a Palestina, a Ucrânia, contra a extrema-direita e a favor da educação para a paz. Das crianças palestinianas que não têm acesso a uma educação básica às crianças ucranianas forçadas a aprender em linha ou nas estações de metro, das raparigas no Afeganistão que são proibidas de ir à escola às crianças em risco de serem raptadas da escola por grupos armados que operam na Nigéria e na República Democrática do Congo, 222 milhões de crianças em idade escolar são afetadas por crises e emergências. 35% (78,2 milhões) dessas crianças não frequentam a escola.
Afirmando que “as guerras e os conflitos são as maiores violações dos direitos humanos”, o congresso declarou a sua oposição à despesa militar desenfreada, apelou aos governos para que, em vez disso, se concentrem em todos os meios para promover a paz mundial e sublinhou o papel da educação na construção de sociedades pacíficas, justas e sustentáveis.
Destaques
Discurso de Despedida de Susan Hopgood
Um dos momentos altos do congresso foi o discurso de despedida de Susan Hopgood, a australiana que foi Presidente da IE, nos últimos 15 anos.
“Comecei a ensinar e aderi ao sindicato numa altura de discriminação flagrante. O fundo de pensões foi-me negado quando casei, porque as mulheres casadas não eram elegíveis para o fundo. O meu diretor perguntou-me uma vez, quando me candidatei a um cargo com mais responsabilidades, se estava a pensar ter um filho. A mensagem era clara e comum: “Não vamos perder o nosso tempo a dar-te um cargo se vais ter um filho”. Atualmente, o sexismo, o racismo e outras formas de discriminação não são muitas vezes tão óbvios. Mas é claro que existem na nossa profissão, como em todas as outras.
Há mais de meio século, fui para a universidade para ser professora. Pouco tempo depois, fui convidada a fazer parte de uma comissão do meu sindicato, uma comissão que tratava das questões das mulheres. Não vim para a nossa profissão com o objetivo de aderir ao meu sindicato. Mas aderi.
Através dos nossos sindicatos, definimos a noção de educação pública de qualidade e as condições essenciais da sociedade para a tornar acessível a todos os estudantes, em todo o lado. As nossas 373 organizações membros em 180 países e territórios, representando 32 milhões de membros, encontram-se numa nova encruzilhada. Neste cruzamento, não há escolha. A nossa direção está definida. O mundo conta connosco. Não podemos parar. Não nos pararão!


Solidariedade com a luta dos sindicatos argentinos
Numa altura em que as liberdades sindicais estão a ser restringidas em muitos países, nomeadamente sob governos autoritários, os delegados ao 10.º congresso da IE estiveram ao lado dos sindicatos argentinos, na sua luta contra as políticas de Javier Milei. Como afirmou David Edwards, “Aqui na Argentina, queremos expressar solidariedade com os nossos colegas, os nossos extraordinários anfitriões, trabalhadores e acolhedores. Enfrentam uma inflação galopante, cortes salariais, pobreza crescente e, quando se manifestam, são alvo de repressão, mentiras e ameaças pessoais. Mas eles não desistem, defendem os seus alunos, as suas comunidades, a sua nação. La patria no se vende”.

Reeleição de Manuela Mendonça para o Comité Executivo
Manuela Mendonça, presidente do Conselho Nacional da FENPROF, foi eleita para um novo mandato na Comité Executivo da Internacional da Educação, tendo obtido a melhor votação entre 19 candidaturas. A Comissão Executiva da IE, constituída por 27 elementos, é eleita a cada 5 anos pelo Congresso e é responsável pela gestão da organização e pelo cumprimento das decisões e compromissos assumidos em cada Congresso, o órgão máximo da IE. Manuela Mendonça irá ocupar um dos lugares abertos deste importante organismo e a sua eleição representa o reconhecimento da importância da FENPROF e do trabalho que desenvolve, também, no plano internacional.