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Nos 65 anos do Conselho Mundial da Paz

27 de julho, 2015

Há 65 anos, mais precisamente em 1949-50, surgiu uma estrutura mundial empenhado na defesa da Paz, da solidariedade e da cooperação entre os povos: o Conselho Mundial da Paz. Emanando de organizações de resistência ao nazi-fascismo, partidos políticos, sindicatos e movimentos sociais e da acção concertada de personalidades de várias nacionalidades e profissões, convicções políticas e crenças religiosas, o movimento mundial da Paz teve expressão em dezenas de países de todos os continentes. Pela primeira vez na história foi possível erguer uma vasta frente de luta pela Paz, o desarmamento e a soberania, contra a guerra, o fascismo, o colonialismo e qualquer outra forma de opressão dos povos.


Foi no âmbito deste movimento que, em Março de 1950, se lançou o Apelo de Estocolmo, contra as armas nucleares, que recolheu largos milhões de assinaturas em todo o mundo, sendo determinante para que o terror de Hiroxima e Nagasáqui não se tenha voltado a repetir. Foi este movimento que, desde a primeira hora, repudiou a NATO e os seus objectivos belicistas e expansionistas e contestou as guerras movidas contra os povos da Coreia, do Vietname, da Jugoslávia, do Iraque, do Afeganistão, da Líbia, entre outros. Foram o Conselho Mundial da Paz e as suas organizações membro nacionais que, lado a lado com os povos do mundo, se bateram pela celebração de acordos internacionais visando o desarmamento, nomeadamente o nuclear, e o desanuviamento das relações internacionais e que, nomeadamente, contribuíram para o êxito da Conferência de Helsínquia sobre Segurança e Cooperação na Europa, finalizada em 1975. Foi o CMP que apoiou sem reservas a emancipação dos povos da Ásia e de África do domínio colonial, que dinamizou campanhas em prol dos povos da Nicarágua, de Cuba, de Angola, da África do Sul, da Palestina ou Saara Ocidental e que nunca hesitou na solidariedade aos povos vítimas do fascismo – como, até 1974, foi o caso do povo português.

Da história deste movimento fizeram parte figuras tão destacadas quanto os físicos franceses Frédéric e Irene Joliot-Curie, o pintor Pablo Picasso, o poeta Pablo Neruda, o cantor Paul Robeson ou o psicólogo Henri Walon. Foram ainda seus activos protagonistas os portugueses Manuel Valadares, Maria Lamas, Ruy Luís Gomes, Alves Redol, Fernando Lopes-Graça e Francisco da Costa Gomes, só para referir algumas personalidades mais conhecidas e já desaparecidas. Ao longo dos anos foram milhões os que dedicaram o melhor das suas energias e capacidades ao movimento da Paz e à exaltante causa da construção de um mundo mais justo e solidário. As actuais gerações de partidários da Paz prosseguem este caminho com a mesma determinação e confiança.

Hoje, sete décadas após a derrota do nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial e 65 anos sobre o surgimento do movimento mundial da Paz, graves ameaças pairam sobre os povos: os focos de agressão e guerra multiplicam-se, do Médio Oriente à Ásia Central, da Europa de Leste ao Pacífico, de África à América Latina; as potências ocidentais confrontam a Federação Russa e a China, com consequências imprevisíveis; a corrida aos cada vez mais sofisticados e destruidores armamentos e as despesas militares não mostram sinais de abrandamento.

Sob pretextos como a «defesa dos direitos humanos», o «combate ao terrorismo», à «pirataria», à «imigração» e às «armas de destruição massiva», promove-se a guerra, a desestabilização de Estados e a promoção de forças de cariz fascista, neo-nazi, terroristas. Tudo para que sejam atingidos os reais propósitos que se escondem por detrás das ingerências e das guerras: o saque de riquezas e recursos, o controlo de mercados e fontes de energia e matérias-primas, o domínio de zonas sensíveis do globo e a limitação do crescimento das chamadas potências emergentes. Em vários países ressurgem tendências securitárias e limitadoras de direitos, no entanto, noutros países registam-se processos de avanço democrático e progressista.

É neste quadro concreto que o Conselho Português para a Paz e Cooperação intervém hoje; é nesta situação específica que é chamado a ter um papel cada vez mais activo, mobilizador e aglutinador. Temos a nosso favor o facto de a defesa da Paz ser do interesse dos povos do mundo, independentemente de nacionalidades, convicções políticas e credos religiosos, pois dela depende o bem-estar, o progresso, o desenvolvimento, a felicidade e a própria vida no planeta. Mas temos, também, a plena consciência de que querer a Paz não chega; é preciso defendê-la e intervir por ela de forma coerente, persistente e confiante.

Perante as ameaças e perigos actuais, também em Portugal é mais importante do que nunca mobilizar vontades e despertar energias em favor da Paz, do respeito pela soberania e independência dos Estados, dos princípios da Carta das Nações Unidas e do direito internacional. Lutar contra a guerra, exigir a dissolução da NATO, o desarmamento geral, simultâneo e controlado e o fim da corrida aos armamentos, levantar a voz em favor dos povos vítimas de agressão e ingerência, reclamar do governo – qualquer que ele seja – uma política de paz, solidariedade e cooperação com todos os povos do mundo, como obrigam os três primeiros pontos do artigo 7.º da Constituição da República Portuguesa. Estas são causas actuais e mobilizadoras.

Confiando na justeza dos seus ideais e princípios e na construção de um futuro melhor, o Conselho Português para a Paz e Cooperação reafirma, com inabalável determinação, o seu compromisso de sempre agir lado a lado com todos os homens e mulheres que resistem e intervêm, no plano nacional e internacional, com a aspiração e a convicção de que é possível um mundo de liberdade, justo, democrático, solidário e de Paz. Com a mesma alegria, convicção e determinação demonstradas pelos fundadores do movimento da Paz a que pertencemos, o CPPC prossegue hoje a sua acção, certo de que a guerra e a opressão, por mais força que tenham os que a promovem, podem ser travadas e derrotadas.

Direcção Nacional do CPPC