Está em marcha uma operação de normalização da guerra em nome da “cidadania”, da “segurança” e da “paz”. Sob a capa do Referencial de Educação para a Segurança, a Defesa e a Paz, o Instituto da Defesa Nacional (IDN), em articulação com a Direção-Geral da Educação, leva às escolas uma verdadeira campanha de doutrinação ideológica, promovendo as Forças Armadas como solução de futuro para os jovens, em tempos de crise social e desemprego.
Há cerca de duas semanas foi em Coimbra, com Nuno Melo ao lado dos militares, a falar aos diretores escolares e aos alunos do Conservatório de Música. E por aí têm andado. Amanhã, será em mais escolas, mais cidades, mais jovens expostos à retórica de guerra travestida de pedagogia cívica. Chamam-lhe formação, mas é aliciamento. Chamam-lhe cultura de paz, mas é treino para a guerra. Esta campanha não é inocente. É política. E é perigosa.
O que se quer com isto?
Querem tornar aceitável o inaceitável. Habituar os jovens à ideia de que a guerra é inevitável. Que a participação em “missões de paz” – leia-se ocupações militares – é uma honra. Que a submissão à lógica da NATO e da indústria da guerra é um dever patriótico. Estão a preparar o terreno para o recrutamento disfarçado. E a Ucrânia como destino é apenas o início.
O Referencial propõe-se a “capacitar para a paz”, mas fá-lo glorificando instituições militares, promovendo a lógica securitária, inculcando a ideia de que vivemos sob constante ameaça. Não há uma linha crítica sobre os riscos do militarismo. Não há lugar para a objeção de consciência, para a resolução pacífica de conflitos, para os movimentos sociais ou para as causas populares da verdadeira paz: justiça, igualdade, solidariedade.
Quem fala em nome da paz, se nas escolas se ouvem generais?
Quem defende a soberania dos povos, se o que se ensina é a subordinação à estratégia militar da União Europeia e da NATO?
Quem representa a democracia, se não há debate, apenas propaganda militarizada?
A escola pública não é quartel. A educação não é terreno de recrutamento. Os nossos jovens não são carne para canhão ao serviço de missões estrangeiras, com bandeira humanitária, mas com fins geopolíticos e económicos claros.
Sim, devemos tomar posição.
A neutralidade, nestas circunstâncias, é cumplicidade.
A hipocrisia é tão grande que ao mesmo tempo que se aumenta o esforço financeiro para a guerra não se faz qualquer esforço para evitar a continuação dramática da aniquilação das populações em Gaza, no Sudão do Sul, no Tigré, no Iemen, na Síria ou no Líbano, entre muitas outras localizações em que o negócio da guerra prospera, deixando como única esperança a morte.
Recusamos esta tentativa de formar jovens para a guerra, em vez de os formar para a cidadania crítica, a solidariedade entre os povos, a justiça social e a construção da paz verdadeira — aquela que se faz com diálogo, com igualdade, com desmilitarização e com coragem política.
Defendemos uma escola para a paz — mas não a paz dos cemitérios. A paz dos povos, não a paz das tropas de ocupação. A paz viva, crítica, popular e ativa. A que se constrói com pão, saúde, cultura, justiça e liberdade — não com drones, tanques e fardas.
Dizemos não à doutrinação militar nas escolas.
Dizemos não ao Referencial da Guerra.
Dizemos não à preparação da juventude para servir interesses militares e geoestratégicos alheios.
Dizemos sim à educação para a paz verdadeira, feita com consciência, liberdade e solidariedade.
Organizemo-nos. Denunciemos. Interviremos em cada escola, em cada associação, em cada sala de aula onde tentem semear o medo e a obediência.
Porque a paz não se ensina com armas.
Ensina-se com liberdade.
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
— Duas, de lado a lado —,
Jaz morto e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
- Fernando Pessoa
Relembrando Gandhi, não nos venham com outras lógicas que serão sempre belicistas ou militaristas
Não há um caminho para a Paz.
A Paz é o caminho!
Paz sim! Guerra NÃO!