Apresentação
Nos 46 anos, 46 escolas por Abril
Em 2020, 46 anos depois da Revolução de 25 de abril de 1974 e da libertação dos últimos presos políticos mantidos na Cadeia do Forte de Peniche (27 de abril de 1974), os alunos de 46 escolas e jardins de infância produziram os 46 painéis de azulejos que compõem este projeto. Para que não voltemos a viver sem liberdade e democracia.
Este mural foi promovido pela Federação Nacional dos Professores (FENPROF), com o apoio do Município de Peniche e da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, em parceria com o CENCAL (Caldas da Rainha), a União dos Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) e a Associação 25 de Abril.
Participaram neste projeto as escolas e os agrupamentos de escolas indicados.
Inaugurado em 25 de abril de 2021. Um ano depois, devido à pandemia por COVID-19.
Promotores
Mário Nogueira
Secretário-Geral da FENPROF
Homenagear Abril com os olhos no futuro
25 de Abril é, desde 1974, tempo de alegria, de esperança, de futuro ou não tivesse Abril posto termo a dias cinzentos em que a falta de liberdade, a guerra colonial ou os presos políticos eram, até aí, o velho normal.
Homenagear Abril, ontem, hoje e sempre, não se deve esgotar em memórias, mas projetar-se no futuro, dando, assim, continuidade ao ideal democrático que o impulsionou. Procurando simbolizar esse projeto, a FENPROF decidiu assinalar os 46 anos de Abril juntando futuro às memórias e, nesse sentido, propôs a 46 agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas que elaborassem um painel que, no conjunto, edificará um Mural que olhará de frente um dos espaços em que o fascismo encarcerou ideais, cultura, arte, liberdades e ceifou vidas.
Das escolas chegaram o entusiasmo e os painéis, pensados e elaborados por crianças e jovens ajudados pelos seus professores, e, apesar de serem tão diferentes, juntos formam uma bela obra de arte imaginada por artistas da democracia.
Com o apoio entusiasmado do município de Peniche e o imprescindível parecer da Direção-Geral do Património Cultural, a obra foi ganhando corpo até que, a um mês e pouco da homenagem aos cravos, aos capitães e à liberdade, o mundo foi fustigado por uma pandemia que se revelou inimiga das liberdades, impedindo a homenagem que se previa em 2020. Um ano depois, as restrições continuam a tolher-nos espaços de liberdade, mas acomodarmo-nos a elas seria um ato de resignação que não se compaginaria com Abril.
Com respeito pelas normas que a todos se exigem, pois em causa está a saúde pública, um ano depois dos 46 anos é tempo de dar continuidade à homenagem iniciada um ano antes. E quanto a Abril, pouco importa quantos anos passaram, desde que Abril seja infinito em futuro.
O Mural de Abril agora inaugurado, em 2021, é obra do presente, encara de frente o passado, escrito em pedras que contam histórias de resistência e liberdade, e, sendo obra de pequenos e jovens construtores, confirma que Abril vai continuar com os olhos postos no futuro.
Henrique Bertino Batista Antunes
Presidente da Câmara Municipal de Peniche
Uma dificuldade ao falar de Abril é explicar às crianças e jovens aquilo que poderá ser entendido como um absurdo, a ausência de Liberdade antes de Abril de 1974. Felizmente, para os nossos jovens de hoje é quase impossível imaginar a forma como convivíamos com o medo de falar.
Só de imaginar que na nossa Fortaleza de Peniche estiveram presas mais de 2 500 pessoas porque tinham, essencialmente, uma opinião diferente de quem governou o nosso país durante quase 50 anos, poderá provocar nas gerações mais novas um forte sentimento de incompreensão e incredulidade.
Quando, em breve, a Fortaleza de Peniche vir terminada a instalação do Monumento de Resistência e Liberdade, passará a estar em Peniche o símbolo maior da Liberdade conquistada por homens e mulheres que, durante décadas, lutaram pela Liberdade de todos, e que tão bem foram representados por um punhado de bravos jovens militares de Abril, que deram corpo à ambição coletiva de sermos livres.
A Fortaleza de Peniche deixará de ser para nós, Penicheiros, um símbolo da lembrança de momentos tristes da nossa história, mas um espaço de reencontro entre Portugueses e passará a ser um espaço não de alguns, mas de todos.
Não devemos ignorar esses tempos difíceis para que seja impossível voltarmos a viver sob uma qualquer opressão. As escolas, os professores, têm aqui também um papel importante na transmissão de conhecimento e de saber àqueles que, mesmo sem os ter vivido, não poderão nunca deixar cair no esquecimento acontecimentos e eventos que marcam não só a nossa história, como todo um povo, todo um país.
Um agradecimento à FENPROF – Federação Nacional de Professores, pela proposta e pela dinamização da execução deste bonito e representativo trabalho de mural de azulejos, que as nossas crianças desenharam, pintaram e ofereceram ao Povo Português, no ano em que se comemoram os 46 anos dessa importante e deslumbrante data.
Um agradecimento aos que fizeram acontecer.
Aos professores e aos alunos.
Muito obrigado!
Viva Abril!
Descrição do Processo
Introdução
Esta iniciativa da FENPROF em parceria com a Câmara Municipal de Peniche tem o apoio de: Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (FBA.UN), URAP - União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, Associação 25 de Abril e o CENCAL - Centro de Formação Profissional para a Industria Cerâmica, de Caldas da Rainha. Consiste na criação de um mural composto por 46 mosaicos cerâmicos elaborados por alunos de 46 agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas, de todas as regiões do país, durante o ano letivo 2019/2020. Estes foram aplicados em local de destaque na cidade de Peniche com inauguração em 25 de abril de 2021, assinalando, dessa forma, os 46 anos de Abril, um ano depois da data prevista devido à pandemia por COVID-19.
Os 46 mosaicos cerâmicos, que têm uma dimensão de 60 centímetros de lado e 16 azulejos cada, ficarão dispostos num mural numa parede na cidade de Peniche e teve composição artística e organização tutelada pelas FBA.UL. Além destes 46 mosaicos foram executados mais 2, pelo CENCAL, perfazendo um total de 48. Nestes últimos iremos encontrar um texto de enquadramento e a lista dos estabelecimentos de educação e de ensino participantes.
No dia 5 de dezembro de 2019 foi realizada uma reunião na Direção Geral do Património Cultural (DGPC) com a finalidade de apresentar a iniciativa e o local escolhido para a aplicação do mural. Esta reunião contou com a presença dos representantes da FENPROF, URAP, FBA.UL e da CMP. A DGPC informou que quanto ao mural comemorativo, a sua implementação não tinha implicações significativas junto da Fortaleza de Peniche, imóvel classificado e futuro Museu Nacional Resistência e Liberdade. Todavia, salientou que seria importante garantir: uma adequada composição artística pela FBA.UL; uma fixação autónoma em suporte adequado, tendo sido discutida a solução de execução de uma “falsa parede” em material tipo VIROC fixa no paramento, o que deveria conferir ao painel um carácter não permanente; e uma requalificação mínima do espaço envolvente. Todas estas recomendações foram ou estão a ser concretizadas.
Local de implementação
O local selecionado foi uma parede com cerca de 15 metros de largura e 2,70 de altura no Campo da República que confronta para a entrada principal da Fortaleza de Peniche, mais precisamente a parede exterior oeste do logradouro do prédio com morada na Rua José Estevão, n.º 120-124. Parede esta de pertença privada, que teve aprovação por parte do proprietário. Dista para a entrada da Fortaleza de Peniche cerca de 48 metros.
Metodologia
- Sistema de suporte do painel - Este sistema será executado em placas tipo VIROC em duas camadas de espessura de 10mm. A primeira camada será um forro integral do paramento da parede (10x2,7m), tem como objetivo oferecer uma nova superfície para colagem dos mosaicos cerâmicos, a segunda camada de VIROC será recortada na área de implantação do mural, criando assim uma moldura. Esta aplicação dupla de placas tem como objetivo “encaixar” os mosaicos cerâmicos na parede de modo a não ficarem salientes, dando a ilusão que estão embutidos no paramento original. As placas são fixas em vários pontos no paramento com parafusos de aço inox e, por fim, toda a moldura será pintada de branco, dando a ilusão de parede original.
Conferindo ao sistema um carater não permanente, permitirá dotar o mural de possível itinerância futura. Assim poderá ser desmontado em diversas placas e montado em outro local, sem risco de danificar os azulejos na remoção. Permite igualmente remover secções do mesmo para reparação pontual ou restauro, caso necessário. - Colagem dos mosaicos cerâmicos - Colagem nas placas de VIROC com cimento cola, conforme disposição e organização da FBA.UN. Nesta aplicação as juntas verticais das placas de VIROC de suporte coincidem com juntas verticais dos mosaicos cerâmicos. Por fim, foi aplicado betume para azulejos em todas as juntas e no remate com a moldura.
- Requalificação do espaço envolvente – A CMP possui a intenção de requalificar não só este espaço, mas de toda a área fronteira à Fortaleza, estando o processo em fase de desenvolvimento de projeto.
Esquema gráfico do mural
Foi produzido um esquema pela FBA.UL que apresenta uma solução com 16x3 mosaicos cerâmicos.