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Resposta a Miguel Sousa Tavares

"Transformar um dia de luta, com perda salarial numa demonstração de preguiça, diz mais sobre quem acusa do que sobre quem luta."

16 de dezembro, 2025

As declarações de Miguel Sousa Tavares (MST) sobre a Greve Geral de 11 de dezembro repisam um discurso recorrente marcado pela arrogância, pela desvalorização sistemática da luta dos trabalhadores e, em particular, pelo desprezo dirigido aos educadores, professores e investigadores.

É politicamente desonesto — e socialmente irresponsável — tentar reduzir esta greve a um gesto oportunista ou inconsequente, quando cerca de 3 milhões de trabalhadores afirmaram, de forma clara, que não aceitam o maior ataque aos direitos laborais das últimas décadas, consagrado nas propostas do chamado pacote laboral.

É reveladora a afirmação de que os professores terão aderido à greve para usufruírem de “fins de semana prolongados”. Trata-se de uma ideia gasta, repetida com ligeireza, que não é apenas falsa: é profundamente insultuosa. Serve apenas para reciclar preconceitos antigos sobre toda uma classe profissional, alimentando um discurso de hostilidade e suspeição permanentes contra profissionais que têm uma função social imprescindível, não obstante, como está bem à vista, a sua condição venha a ser profundamente desvalorizada por sucessivos governos. Transformar um dia de luta, com perda salarial e, em muitos casos, com o esforço de participação em piquetes e concentrações, numa demonstração de preguiça, diz mais sobre quem acusa do que sobre quem luta.

Ao procurar minimizar, com notório desdém, a adesão de milhares de professores à Greve Geral, MST alinha com o discurso do governo, ignorando factos objetivos: o encerramento de milhares de escolas em todo o país, com a participação histórica de trabalhadores de todos os setores, do público ao privado, da educação pré-escolar ao ensino superior.

Os educadores e os professores que lutam pela valorização da profissão, com estabilidade no emprego, carreiras dignas, horários regulados e salários justos, lutam em defesa de uma Escola Pública de qualidade e para todos. MST, ao optar por este tipo de discurso, revela não só um profundo desconhecimento da realidade escolar, mas também incómodo perante a capacidade de mobilização e união de quem ensina e investiga. Parece comprovar, também, escasso entendimento do que se passou no dia da Greve Geral e, já agora, no dia que se lhe seguiu.

Este discurso não é inocente nem inócuo. Parecendo confirmar uma antipatia pessoal que já produziu acusações do mesmo teor, contribui para o desgaste da imagem social dos professores, normaliza os ataques à sua dignidade profissional e alimenta um ódio que já bem conhecemos. Este tipo de ataques parece advir, sobretudo, de má convivência com alguns direitos consagrados – nomeadamente o direito à greve – e revela grande incómodo com a capacidade de os trabalhadores se organizarem na prossecução das suas justas reivindicações.

Os professores não fizeram greve para descansar. Fizeram greve para resistir. E quem insiste em reduzi-los a caricaturas revela, acima de tudo, rancor contra uma classe profissional consciente, organizada e determinada a não aceitar o retrocesso social que lhe querem impor.

 

Lisboa, 16 de dezembro de 2025

Pel’ O Secretariado Nacional da FENPROF

Francisco Gonçalves
José Feliciano Costa
(Secretários-gerais)