As declarações de Miguel Sousa Tavares (MST) sobre a Greve Geral de 11 de dezembro repisam um discurso recorrente marcado pela arrogância, pela desvalorização sistemática da luta dos trabalhadores e, em particular, pelo desprezo dirigido aos educadores, professores e investigadores.
É politicamente desonesto — e socialmente irresponsável — tentar reduzir esta greve a um gesto oportunista ou inconsequente, quando cerca de 3 milhões de trabalhadores afirmaram, de forma clara, que não aceitam o maior ataque aos direitos laborais das últimas décadas, consagrado nas propostas do chamado pacote laboral.
É reveladora a afirmação de que os professores terão aderido à greve para usufruírem de “fins de semana prolongados”. Trata-se de uma ideia gasta, repetida com ligeireza, que não é apenas falsa: é profundamente insultuosa. Serve apenas para reciclar preconceitos antigos sobre toda uma classe profissional, alimentando um discurso de hostilidade e suspeição permanentes contra profissionais que têm uma função social imprescindível, não obstante, como está bem à vista, a sua condição venha a ser profundamente desvalorizada por sucessivos governos. Transformar um dia de luta, com perda salarial e, em muitos casos, com o esforço de participação em piquetes e concentrações, numa demonstração de preguiça, diz mais sobre quem acusa do que sobre quem luta.
Ao procurar minimizar, com notório desdém, a adesão de milhares de professores à Greve Geral, MST alinha com o discurso do governo, ignorando factos objetivos: o encerramento de milhares de escolas em todo o país, com a participação histórica de trabalhadores de todos os setores, do público ao privado, da educação pré-escolar ao ensino superior.
Os educadores e os professores que lutam pela valorização da profissão, com estabilidade no emprego, carreiras dignas, horários regulados e salários justos, lutam em defesa de uma Escola Pública de qualidade e para todos. MST, ao optar por este tipo de discurso, revela não só um profundo desconhecimento da realidade escolar, mas também incómodo perante a capacidade de mobilização e união de quem ensina e investiga. Parece comprovar, também, escasso entendimento do que se passou no dia da Greve Geral e, já agora, no dia que se lhe seguiu.
Este discurso não é inocente nem inócuo. Parecendo confirmar uma antipatia pessoal que já produziu acusações do mesmo teor, contribui para o desgaste da imagem social dos professores, normaliza os ataques à sua dignidade profissional e alimenta um ódio que já bem conhecemos. Este tipo de ataques parece advir, sobretudo, de má convivência com alguns direitos consagrados – nomeadamente o direito à greve – e revela grande incómodo com a capacidade de os trabalhadores se organizarem na prossecução das suas justas reivindicações.
Os professores não fizeram greve para descansar. Fizeram greve para resistir. E quem insiste em reduzi-los a caricaturas revela, acima de tudo, rancor contra uma classe profissional consciente, organizada e determinada a não aceitar o retrocesso social que lhe querem impor.
Lisboa, 16 de dezembro de 2025
Pel’ O Secretariado Nacional da FENPROF
Francisco Gonçalves
José Feliciano Costa
(Secretários-gerais)


