Nacional
Contra o desemprego e a precariedade

Resolução aprovada nas manifestações promovidas pela CGTP-IN em Lisboa e no Porto no dia 1 de Abril

08 de maio, 2006

Milhares de trabalhadores em representação de todos os sectores de actividade e de diferentes regiões participaram nas manifestações que decorreram no passado dia 1 de Abril nas cidades de Lisboa e do Porto, por iniciativa da CGTP-IN. Na capital , a concentração teve lugar na Praça do Chile, com desfile para o Rossio e contou com a participação de trabalhadores oriundos dos distritos de Lisboa, Setúbal, Évora, Beja, Portalegre, Santarém, Castelo Branco e ainda do Algarve. Manuel Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP-IN, falou no Rossio aos trabalhadores aí concentrados. No Porto, a Praça da Batalha foi o local de concentração dos trabalhadores dos distritos do Porto, Vila Real, Braga, Aveiro, Bragança, Coimbra, Guarda, Viana do Castelo, Viseu e daí desfilaram para a Praça D. João I. O principal orador foi João Torres, coordenador da União dos Sindicatos do Porto.

Os direitos laborais e sociais dos trabalhadores têm estado debaixo de fogo. O poder económico e financeiro e Governo reclamam, em nome da crise, mais sacrifícios aos trabalhadores e à população mais desfavorecida, prosseguem e aprofundam políticas e práticas que agravam a situação e a vida dos trabalhadores, enquanto os lucros aumentam escandalosamente, alerta a CGTP-IN
Por este caminho, alerta a Central,  continuam-se a agravar as injustiças, acentuam-se as desigualdades e a pobreza alastra-se. Os trabalhadores denunciam estas situações e lutam por um sistema público, solidário e universal de segurança social; por um sistema de saúde de qualidade e tendencialmente gratuito, como diz a Constituição que agora faz 30 anos; pela defesa dos serviços públicos de qualidade ao serviço dos cidadãos; pela valorização do papel do Estado e das suas funções sociais e por uma Administração Pública moderna, eficiente e respeitadora dos seus trabalhadores e utentes.

Na jornada de 1 de Abril foi aprovada a Resolução que aqui deixamos:

1. Pese embora a mais que reconhecida falência do modelo de competitividade assente em baixos salários e trabalho pouco qualificado, a maioria das empresas portuguesas não se mostra disposta a inverter esse caminho, enquanto a generalidade do patronato prossegue uma prática sistemática de desrespeito pelas leis e direitos contratuais e tem em curso uma ofensiva concertada contra a contratação colectiva.

Por outro lado, a acção governativa, ao eleger o combate ao défice orçamental e o cumprimento cego do Pacto de Estabilidade e Crescimento como prioridade absoluta, revela-se incapaz de tomar medidas para dinamizar a economia, defender o sector produtivo, reorientar o investimento para necessidades estruturais que sirvam a população e promover o emprego.

Entretanto, o Governo anuncia um conjunto de medidas destinadas, segundo diz, à reestruturação da Administração Central do Estado, marcado por uma concepção economicista que, no essencial, perspectiva a redução de postos de trabalho, mais privatizações e o enfraquecimento do Estado Social e, pasme-se, elimina a Inspecção Geral do Trabalho, enquanto estrutura autónoma, substituindo-a, ao que parece, por uma denominada Autoridade para as Condições de Trabalho, cujas funções e competências se desconhecem.

A ofensiva desencadeada pelo actual Governo contra os trabalhadores da Administração Pública, através da redução dos salários, congelamento das carreiras, mudanças na legislação do trabalho e de medidas no âmbito dos sistemas da segurança social e de saúde, é o melhor exemplo que o patronato do sector privado precisava para continuar e aprofundar os ataques aos direitos dos trabalhadores e aumentar a exploração do factor trabalho, boicotar a contratação colectiva, fazendo letra morta dos preceitos constitucionais relativos ao trabalho, ao emprego e aos direitos dos trabalhadores, pondo em causa disposições legais bem como a essência do papel da contratação colectiva.

O resultado de tudo isto, é o permanente atraso do país, o encerramento de empresas e os despedimentos, o agravamento do desemprego e da precariedade, o aumento das discriminações no local de trabalho e na sociedade, a diminuição do poder de compra dos salários e pensões, o ataque aos sistemas públicos da segurança social, da saúde e da educação, os aumentos escandalosos dos preços de serviços e bens essenciais para a população, numa espiral que conduz a um forte agravamento do custo de vida, acentuando ainda mais as injustiças e desigualdades sociais.

Contudo, a crise não bate a todas as portas. Os lucros colossais apresentados pelos bancos e os grandes grupos económicos e financeiros, a febre das OPA's e a especulação financeira daí decorrente, mostram que há quem engorde e se dê bem com o caminho que as coisas levam, nem tenha qualquer problema de consciência, mesmo sabendo que a sua riqueza é obtida à custa de centenas de milhar de despedimentos, de falências, do agravamento do nível de vida das famílias ou, ainda, da miséria e exclusão social de muitos portugueses.

2. A luta dos trabalhadores e dos seus sindicatos tem sido o factor determinante para impedir um ainda maior agravamento das suas condições de vida e de trabalho e o agudizar dos problemas do país.

São inúmeros os exemplos das acções desenvolvidas nos últimos meses contra o encerramento de empresas e mais despedimentos; pela melhoria dos salários, dos direitos contratuais e da contratação colectiva; pelo emprego com direitos e contra a precariedade; contra a carestia de vida; contra o enfraquecimento dos sistemas públicos da segurança social, da saúde e do ensino; por uma Administração Pública que respeite os direitos dos seus trabalhadores e sirva com eficácia os seus utentes.

Os resultados obtidos comprovam a imperiosa necessidade de continuar a luta reivindicativa e dar-lhe mais força, numa acção articulada que conjugue e faça convergir as principais reivindicações dos trabalhadores, no sector privado e no sector público, uma luta onde todos se sintam envolvidos pelas mesmas causas.

3. Os trabalhadores presentes na manifestação decidem:

-        Saudar o 30º aniversário da Constituição da República que consagrou os direitos e liberdades fundamentais conquistadas com o 25 de Abril. Apesar das sucessivas revisões constitucionais já efectuadas que alteraram o espírito e a matriz da sua versão original, a CRP continua a manter um vasto leque de preceitos constitucionais que asseguram ao Povo um importante quadro de direitos políticos, económicos e sociais e no qual o trabalho e os direitos dos trabalhadores assumem dignidade constitucional, razão pela qual os trabalhadores afirmam a defesa do quadro constitucional;

-        Reafirmar a sua firme determinação em continuar a luta por melhores salários e contra a carestia de vida; pelo emprego com direitos e contra o desemprego e a precariedade; pelo direito à contratação colectiva, contra a caducidade dos contratos e o boicote patronal à negociação; pela defesa dos sistemas públicos da segurança social, da saúde e do ensino; por uma Administração Pública moderna e eficiente, que respeite os direitos dos seus trabalhadores;

-        Solidarizar-se com todos os trabalhadores dos diversos sectores de actividade e empresas que estão em luta ou que perspectivam fazê-la nos próximos tempos;

-        Apelar à participação dos trabalhadores e da população nas comemorações populares do 25 de Abril que, este ano, têm ainda maior significado por coincidir com o 30º aniversário da CRP;

-         Assumir o compromisso de tudo fazerem para que as comemorações do 1º de Maio constituam uma grande e poderosa manifestação de festa e de luta pela dignificação do trabalho, pela afirmação dos direitos laborais e sociais dos trabalhadores e da melhoria das condições de vida das famílias, pelo progresso e pela paz.

A LUTA CONTINUA

1 DE ABRIL de 2006