Nacional
Lusófona e Independente disputam Moderna e Portucalense

Privadas estão a preparar "meganegócio" no Superior

28 de março, 2005

 Diário de Notícias, 28/03/2005

 

As universidades Independente e Lusófona estão a preparar um meganegócio no ensino superior ao disputar entre si a compra da Portucalense e da Moderna de Lisboa, apurou o DN. As duas instituições, que já tinham adquirido, respectivamente, o Instituto Superior de Administração de Marketing (IPAM) e a Universidade Moderna do Porto, preparam-se para agitar ainda mais o que já é chamado o "mercado" das privadas

A Portucalense foi recentemente alvo de uma proposta de aquisição por parte da Independente, mas as indicações recolhidas pelo DN apontam para que a Lusófona tenha o negócio acertado. Em relação à Moderna de Lisboa, a situação é mais indefinida. A Lusófona tem a vantagem teórica de ter adquirido recentemente as instalações do Porto desta universidade. Mas convém não esquecer que a compra da Moderna é uma ambição antiga da Independente.

Em 2002, chegou a estar tudo acordado para a fusão destas instituições. Mas a oposição interna de estudantes e professores da Independente, devido ao escândalo que envolvia a Dinensino (proprietária da Moderna) e se arrastou durante anos nos tribunais, acabou por gorar o negócio. Mas esse período de "namoros" não concretizados parece agora ter terminado, com as privadas a avançarem decididas para as fusões e aquisições.

À parte as disputas com a Independente, é já dada como certa a compra do Instituto Superior de Estudos Contabilísticos pela Lusófona, que se perfila como a grande "jogadora" deste mercado. Consta ainda que o empresário espanhol Javier Vigo, ligado à Universidade Internacional, "também está comprador", prevendo-se novidades para um futuro próximo.

Com todos estes ingredientes, o sector vive uma dinâmica como há muito não se via, que poderá produzir mudanças profundas . "Em Outubro, o panorama das privadas poderá ser completamente diferente", disse ao DN uma fonte universitária.

Processos na DGeS. Algumas novidades poderão estar iminentes. Helena Tavares, chefe de Divisão de Rede da Direcção-Geral do Ensino Superior (DGES, Ministério da Ciência e do Ensino Superior), entidade responsável pelo pré-licenciamento das fusões e aquisições no sector privado e cooperativo, disse ao DN que há dois processos "que irão entrar brevemente" na DGES, e admitiu ainda a existência de "outros em fase de negociações" que se poderão seguir.

"São processos que levam algum tempo a entrar", explicou. "Este processo que se concretizou agora [aquisição da Moderna do Porto pela Lusófona] andava há cinco ou seis anos em negociação." Esta responsável não quis referir os nomes das entidades envolvidas nos próximos negócios, por estes "não terem sido formalizados", mas o DN apurou que os nomes da Independente e da Lusófona podem estar envolvidos.

"Movimentos positivos". Apesar de estas mudanças surgirem numa altura em que muitas instituições superiores privadas atravessam notórias dificuldades, nomeadamente algumas das que agora estão a ser disputadas, Jorge Carvalhal, presidente da Associação Portuguesa do Ensino Superior Particular (APESP), rejeita reduzir as fusões a um mero sintoma da crise no sector. Até porque, considera, a crise "não começou agora nem atravessa um momento particularmente mau. A crise das universidades privadas é antiga. Não é mais do que a crise de todo o sistema do ensino superior. Não é explicável apenas 'per si', mas no contexto da realidade do país", acrescenta.

Para este professor universitário, o que está a suceder até pode ser considerado um sinal da capacidade de resposta das privadas perante os desafios que enfrentam "Neste momento, o que se está a assistir é a alguns movimentos muito positivos de reorganização do sector", diz. "Os adversários do ensino superior privado já vaticinaram o seu fim há muitos anos. Mas essas previsões têm saído sempre goradas. Ainda cá estamos", acrescentou.

Com este consenso alargado, falta saber o que pensa sobre o processo o novo ministro da Ciência e do Ensino Superior. As fusões das instituições privadas tiveram o aval dos anteriores governos, a partir de 2002, mas Mariano Gago ainda não se pronunciou sobre a matéria.