?É uma tarefa difícil, de que não abdicaremos.
É esta a minha e a vossa certeza, companheiros.?
Lamento que por falta de saúde não possa estar fisicamente convosco.
Em 1945, ingénuo, ciente de que a vitória dos aliados provocaria a rotura do fascismo português, participei no grupo que intentou criar o sindicalismo docente público. Iniciativa gorada, o que não me conduziu à inércia e que só se tornou vitoriosa com Abril de 74.
O sinistro Salazar sabia que o sindicalismo docente, que no sector público abrangia 94% dos docentes, não facultaria a realização de um projecto, que envolveria a redução da obrigatoriedade escolar de 5 para 3 anos, o encerramento das escolas do magistério num país com milhões de analfabetos, a prática da docência por habilitados com a 3ª ou a 4ª classe primária, o culto da obediência e da pobreza, a impossibilidade de qualificação do elemento humano, a exclusão e a demissão de professores democratas, etc, etc, etc. Toda uma carga pesada que apesar dos sensíveis progressos registados com o 25 de Abril, nos situa, na área da qualificação humana, no último lugar dos países da União Europeia. Situação que se tem agravado com o actual governo. Há um enorme recuo, com aspectos paradoxais. Com dezenas de milhares de professores e educadores habilitados e sem emprego, com elevadas taxas de analfabetismo literal, elevadas taxas de insucesso , as maiores da União Europeia, de não cumprimento da obrigatoriedade escolar, com as mais diminutas taxas de frequência da educação pré-escolar, do ensino secundário e no superior.
Respostas do Governo: hipócrita afirmação de que é necessário e imprescindível activar a formação do meio humano, o problema social do abandono precoce da escola resolve-se com um discurso de um ministro que não terá explicado a um membro da sua equipa que Portugal tem um regime laico a partir de 1911; acresce o desemprego, o que quer dizer que diminui a frequência escolar; a frequência do ensino superior é diminuta, aumenta-se, por irracional que seja, o preço das propinas e diminui-se o acesso.
A Lei de Bases que em 1986 teve voto favorável de um partido então social democrata, em 2004 verá reduzir a escola única de 9 anos para 6, afasta a escola inclusiva, afecta a escola pública, de acordo com o voto contrário expresso pelo CDS, que não teve, ao contrário dos outros partidos, de apresentar projecto de lei. O diálogo com a FENPROF, instituição que, mais que qualquer outra, tem contribuído para a expansão de um ensino democrático e de qualidade tem sido negativo. Permanece a hostilidade salazarista ao sindicalismo que tem a ousadia sinistra de defender a legalidade e a justiça.
O projecto da FENPROF, atestado por uma linha de coerência e continuidade, supera a mera defesa de direitos corporativos, confunde-se com os interesses nacionais, numa sociedade democrática plena, só possível com a cobertura da área social.
A FENPROF, que nunca recorreu a efeitos da publicidade enganosa, quer, de facto, não em palavras retóricas, que Portugal venha, em contrário ao que sucede, aproximar-se dos valores médios dos países da União Europeia. Por isso lutaremos. É uma tarefa difícil, de que não abdicaremos. É esta a minha e a vossa certeza, companheiros.
J. Salvado Sampaio
Membro do Conselho Nacional da FENPROF