Nacional
Os números do emprego

Passos Coelho manipulador...

27 de dezembro, 2013

1. Na sua mensagem de Natal o Primeiro-Ministro afirmou que “o emprego começou a crescer e, em termos líquidos, até ao terceiro trimestre foram criados 120 mil postos de trabalho”. Esta afirmação é falsa porque omite a destruição de cerca de 98 mil empregos ocorrida no primeiro trimestre. De facto, a evolução do emprego indica apenas uma evolução líquida cerca de 22 mil empregos em 2013:

 

                Evolução do emprego (mil)

 

Trimestre

Emprego

Variação

 

2012 (4º)

4531,8

 

 

2013 (1º)

4433,2

-98,6

 

2013 (2º)

4505,6

+72,4

 

2013 (3º)

4553,6

+48,0

 

Variação em 2013

 

+21,6

                Fonte: INE, Inquérito ao Emprego

 

2. Tão importante como conhecer a evolução global e líquida do emprego é avaliar a natureza dos empregos que estão a ser criados. A análise da distribuição do emprego segundo a situação na profissão, em conjunto com a variação do emprego em 2013 em cada uma das categorias, permite ter uma ideia mais clara sobre a qualidade dos empregos criados.

 

               Emprego segundo a situação na profissão (trimestres, mil)

 

 

4º 2012

1º 2013

2º 2013

3º 2013

Var. total

 

Emprego

4531,8

4433,2

4505,6

4553,6

 

 

  Variação

 

-98,6

72,4

48,0

21,8

 

Assalariados

3538,2

3482,5

3523,1

3551,6

 

 

  Variação

 

-55,7

40,6

28,5

13,4

 

  Contratos sem termo

2816,8

2745,4

2754,8

2780,1

 

 

    Variação

 

-71,4

9,4

25,3

-36,7

 

  Contratos não permanentes

721,5

737,0

768,4

771,5

 

 

    Variação

 

15,5

31,4

3,1

50,0

 

    % do total

20,4

21,2

21,8

21,7

 

 

Familiares não remunerados

28,2

26,8

31,1

33,6

 

 

  Variação

 

-1,4

4,3

2,5

5,4

 

Patrões

239,5

231,9

221,7

239,6

 

 

  Variação

 

-7,6

-10,2

17,9

0,1

 

Trabalh. por conta própria

725,9

692,1

729,7

728,9

 

 

  Variação

 

-33,8

37,6

-0,8

3,0

                 Fonte: INE, Inquérito ao Emprego

 Daqui resulta que:

  • A maioria dos novos empregos é assalariada, isto é trata-se de emprego por conta de outrem (61%);
  • Verifica-se a criação de cerca de 50 mil empregos não permanentes (contratos a termos e outros);
  • Ao mesmo tempo, registou-se uma diminuição na ordem dos 37 mil trabalhadores por conta de outrem com contratos permanentes (contratos sem termo); Ou seja, paralelamente ao aumento do emprego houve um processo de substituição de trabalhadores com contratos permanentes por trabalhadores com vínculos precários;
  • O número de trabalhadores familiares não remunerados (que constitui também um indicador de precariedade) aumentou 5,4 mil, o que representa um quarto do total do emprego líquido criado em 2013.

3. A análise da variação do emprego por sectores nos três primeiros trimestres deste ano permite verificar que quase todas as actividades económicas perderam emprego, com destaque para a educação e a construção. A criação de emprego apenas se verifica em nalgumas actividades de serviços, em que se destaca a variação de emprego no alojamento e restauração. Esta variação positiva está porém concentrada no 3º trimestre, pelo que é influenciada por factores de natureza sazonal (turismo).

 

          Variação do emprego em 2013 por sectores (trimestres, mil)

 

 

1º 2013

2º 2013

3º 2013

Var.

 

População empregada

- 98,6

 72,4

 48,0

 21,8

 

Agricultura, p. animal, caça, floresta e pesca

- 33,7

 46,2

- 16,5

- 4,0

 

Indústria, construção, energia e água

- 11,0

- 6,9

- 10,5

- 28,4

 

Indústrias transformadoras

- 18,1

 10,2

 1,6

- 6,3

 

Construção

 2,2

- 11,2

- 13,0

- 22,0

 

Serviços

- 53,8

 33,0

 75,0

 54,2

 

Comércio por grosso e a retalho

- 25,3

 6,4

 13,4

- 5,5

 

Transportes e armazenagem

 0,8

 2,4

 6,7

 9,9

 

Alojamento, restauração e similares

- 3,0

 6,5

 37,3

 40,8

 

Ativ. de informação e de comunicação

- 3,6

- 3,5

 14,1

 7,0

 

Ativ. financeiras e de seguros

- 5,7

 2,5

- 1,1

- 4,3

 

Ativ. imobiliárias

 0,8

- 0,8

 6,3

 6,3

 

Ativ. de consultoria, científicas, técnicas

 1,2

 0,7

 12,4

 14,3

 

Ativ. administrativas e dos serviços de apoio

- 18,7

 13,4

 0,8

- 4,5

 

Administração Pública, Defesa …

 5,3

 3,1

 7,2

 15,6

 

Educação

- 16,7

 0,4

- 30,7

- 47,0

 

Ativ. da saúde humana e apoio social

- 6,2

 1,5

 8,4

 3,7

 

Ativ. artísticas, de espetáculos, desportivas…

 2,4

- 2,3

 3,3

 3,4

 

Outros serviços

 14,9

 2,8

- 3,5

 14,2

       Fonte: Calculado a partir de INE: Inquérito ao Emprego; variação face ao trimestre precedente

 

4. Em suma, a evolução do emprego líquido foi apenas de 22 mil, nos primeiros 3 trimestres de 2013 e não de 120 mil como o Primeiro-Ministro afirmou;

Os dados conhecidos indiciam que os empregos criados correspondem a empregos precários, de baixa qualidade, constituindo, na sua esmagadora maioria, uma ante câmara para novos despedimentos;

Os empregos criados, têm na generalidade, baixos salários e alguns nem remunerados são;

Decorrente da precariedade e dos baixos salários a média mensal do subsídio de desemprego continua a cair e a empurrar cada vez mais trabalhadores para a pobreza;

Aumenta o número de desempregados de longa duração e os que não usufruem de qualquer subsídio;

Se juntarmos a emigração, que entretanto ocorreu e outros factores como o efeito de medidas de políticas activas de emprego e de formação profissional (como o aumento de desempregados inseridos em contratos de emprego inserção, estágios e formação profissional), concluímos que o panorama do emprego não se alterou substancialmente este ano. Daqui decorre que o país continua refém de um modelo de baixo valor acrescentado, que importa ser alterado quanto antes. Para bem dos trabalhadores, da produção nacional, do desenvolvimento económico e social do país.

 

27.12.2013
CGTP-IN