Nacional
CGTP-IN: "O País precisa de uma estratégia que articule o crescimento económico com o progresso social "

O desemprego agrava-se estruturalmente

26 de setembro, 2005

No fim de Agosto de 2005 havia 464.888 desempregados inscritos nos centros de emprego do IEFP, mais 15.128 que em Agosto do ano passado, ou seja, mais 3,4%.

A dimensão do desemprego agrava-se e é preocupante a interrupção da trajectória de descida do desemprego (situação que se vinha verificando desde Março do corrente ano) relativamente ao mês anterior (aumento de 1%). Esta evolução só vem confirmar as preocupações que a CGTP-IN já tinha manifestado relativamente à não descida previsível do desemprego e à necessidade de novas políticas, contrárias às que o Governo PS/Sócrates vem desenvolvendo.

Comparando com a situação um ano antes, o desemprego aumentou mais entre as mulheres (mais 3,8%) e entre os adultos (mais 4,3%), sendo também de assinalar como preocupante o facto do desemprego ter aumentado em todos os graus de ensino, com excepção dos que não têm qualquer instrução.

Em termos mensais não pode deixar de referir-se o facto do aumento do desemprego ter sido mais elevado entre os licenciados (mais 8,8%), certamente influenciado pelo congelamento de a! dmissões à Administração Pública.

São claros os efeitos da destruição do aparelho produtivo, particularmente nos sectores mais expostos à concorrência internacional e à recente liberalização dos mercados acordada pela UE com a conivência de governos portugueses. É entre os desempregados do sector secundário e, em particular, da indústria do vestuário, do calçado e da fabricação de têxteis que os aumentos do desemprego são mais significativos. O desemprego nestes sectores aumentou, respectivamente, 15,8%, 13% e 7,3% face ao mesmo mês do ano passado. Nos serviços destaca-se a hotelaria e a restauração, onde o desemprego aumentou 5,9% relativamente ao ano passado.

Dada a dependência de algumas regiões em relação a algumas actividades, atrás referidas como de maior incidência, verifica-se que os maiores aumentos homólogos do desemprego a nível regional ocorreram na Madeira (mais 14,6%) e no Norte (mais 7%), sendo também de referir os a! umentos do Alentejo (2,6%) e do Centro (2,5%).

Por seu turno, verificou-se uma diminuição do número de ofertas de emprego, quer em termos mensais (menos 1,4%), quer em termos anuais (menos 3,3%).

EXIGEM-SE POLÍTICAS ALTERNATIVAS

Há que inverter as políticas erradas que têm sido seguidas e que acentuam dificuldades estruturais da economia portuguesa. Há que romper com o modelo de produção baseado em mão-de-obra barata, pouco qualificada e precária. Portugal tem o menor custo de trabalho por hora da União Europeia a 15 (7,21 euros) abaixo quer da Espanha (16,59 euros), quer da Grécia e apesar disso os últimos dados do INE vindos público apontam para um agravamento do indicador do clima económico em Agosto (valor mais baixo desde Setembro de 2003) e para o abrandamento do indicador de actividade económica em Julho.

O País precisa de uma estratégia que articule o crescimento económico com o progresso social com três eixos essenciais:

  • Dar prioridade ao sector produtivo, ao emprego e aos salários;
  • Dinamizar a contratação colectiva e valorizar os direitos dos trabalhadores;
  • Concretizar políticas sociais avançadas que reduzam as desigualdades sociais.

O principal problema do nosso país é a destruição do sector produtivo, pelo que a prioridade deverá ser dada ao seu reforço e modernização, articulada com a necessária qualificação da força de trabalho e a qualidade do emprego e com a melhoria dos salários.

Em concreto a CGTP-IN considera que são prioridades fundamentais:

  • a defesa dos postos de trabalho travando os encerramentos de empresas e as deslocalizações; a modernização da estrutura produtiva nacional, designadamente no âmbito dos produtos objecto de trocas externas, no aproveitamento dos nossos recursos naturais, nomeadamente florestais, agrícolas e piscícolas e na valorização externa das nossas produções;
  • a definição e aplicação de uma política industrial;
  • o reforço do investimento produtivo, conciliando uma política de elevado investimento público e privado, com políticas mais selectivas, através do PIDDAC;
  • o combate à economia clandestina e à informalidade, através de uma política coerente de intervenção, nomeadamente de reforço da fiscalização;
  • o desenvolvimento da formação inicial e contínua, concretizando os compromissos assumidos no Acordo sobre Política de Emprego, Mercado de Trabalho, Educação e Formação, nomead! amente o direito de cada trabalhador ao mínimo anual de formaç! ão certi ficada;
  • a promoção do emprego estável e de qualidade, através do combate ao trabalho não declarado ou ilegal (penalizando as empresas infractoras), da revisão das normas do Código de Trabalho penalizadoras da estabilidade do emprego (incluindo a revogação da norma sobre a contratação a prazo de jovens e de desempregados de longa duração), de uma política de prevenção, do reforço da protecção dos trabalhadores em regime de turnos envolvendo a prestação de trabalho nocturno.
  • a melhoria dos salários, incluindo a valorização do salário mínimo, e uma mais equilibrada repartição do rendimento entre trabalho e capital.

MOBILIZAR OS PORTUGUESES
NA DISCUSSÃO DAS POLÍTICAS ECONÓMICAS

A CGTP-IN quer discutir o Programa Nacional de Reforma que o Governo vai apresentar em Bruxelas em 15 de O! utubro, no seguimento da revisão da Estratégia de Lisboa. Trata-se de um documento que integra quer a política económica (nas suas componentes macro e micro), quer a política de emprego, anteriormente constantes de documentos e calendários autónomos. No entanto, até agora só conhecemos as grandes linhas do futuro Plano Nacional de Emprego.

A política económica tem implicações sobre o crescimento, sobre o desenvolvimento económico e sobre o emprego, pelo que não pode ser ignorada. A política económica tem-se centrado na vertente orçamental comprometendo o desenvolvimento do país. Não se defendeu o aparelho produtivo nacional, o que está a ter consequências graves sobre a balança comercial; destrói-se a Administração Pública e os serviços públicos; investe-se pouco na investigação e desenvolvimento; impõem-se mais sacrifícios sobre os trabalhadores, enfraquecendo a procura interna.

A CGTP-IN pronunciou-se sobre a 1ª versão d! as Linha s de Intervenção do Plano Nacional de Emprego 2005 e apresentou propostas para a sua melhoria, por considerar que em muitos aspectos o documento não dava respostas adequadas aos principais desafios e problemas do mercado de emprego português. Na 2ª versão, pese embora a introdução de várias alterações de redacção, algumas resultantes de propostas da CGTP-IN, há ainda muitos conteúdos que têm que ser modificados. Reafirmamos as propostas mais importantes que fizemos anteriormente e que não foram incluídas.

Nas prioridades nacionais defendemos:

  • a conciliação entre os direitos dos trabalhadores e as necessidades das empresas, no quadro da negociação colectiva, e o combate à segmentação do mercado de trabalho, com o objectivo de reforçar a produtividade e a qualidade do emprego. A "flexibilidade e segurança" defendida pelo Governo tem-se a! penas traduzido em flexibilidade negativa, como acontece no Código do Trabalho.
  • a melhoria do sistema de protecção social, salvaguardando a coesão intergeracional, a resposta a necessidades, o combate à pobreza e à exclusão social, em simultâneo com a garantia da sua sustentabilidade financeira. Não se trata apenas da resposta a novas necessidades, mas também de resolver velhos problemas, como o dos idosos com baixas pensões, por exemplo.

No capítulo "Atrair e reter mais pessoas no emprego e modernizar os sistemas de protecção social" continuamos a defender a inclusão dos seguintes pontos nas linhas de intervenção:

  • o combate às causas fictícias dos despedimentos através de uma actuação mais eficaz do MTSS;
  • a redução da segregação sexual no ac! esso a funções de chefia;
  • a garantia de serviços de apoio a dependentes a preços acessíveis e de horários de trabalho adequados com vista a permitir a conciliação entre a actividade profissional e a vida privada e familiar de mulheres e homens. As próprias directrizes europeias referem "disponibilização de estruturas acessíveis e económicas";
  • o reforço do acompanhamento dos beneficiários durante a participação em medidas activas de emprego e após colocação no mercado de trabalho. 

    Relativamente a "Melhorar a adaptabilidade dos trabalhadores e das empresas e a flexibilidade dos mercados de trabalho" defendemos:

    • que a difusão de formas inovadoras e adaptáveis de organização do trabalho deve fazer-se por via da contratação colectiva;
    • a transformação do trabalho não declarado em emprego regular. Esta orientação faz parte das directrizes europeias. O Governo adoptou a solução de incluir uma referência no final da linha de intervenção 2.1, mas a CGTP-IN considera que a redacção não aponta para nenhuma acção específica e defende a sua autonomização;
    • que se reduza o número de trabalhadores pobres, nomeadamente através da actualização e da valorização do salário mínimo nacional.

    Quanto a "Aumentar o investimento em capital humano melhorando a educação e as competências" defendemos:

    • que o alargamento da educação pré-escolar se faça preferencialmente através da rede pública e a preços acessíveis;
    • o desenvolvimento da formação contínua nas empresas através da garantia de que todos os acti! vos tenham pelo menos o número mínimo legal de horas de formaç! ão anual . O Governo propõe o "relançamento da aplicação do mínimo anual de formação", quando do que se trata é de cumprir uma lei já em vigor e prever o seu alargamento no futuro;
    • o condicionamento da atribuição de apoios públicos para a formação, à aquisição de competências por parte dos empresários e quadros dirigentes, com o objectivo de conferir maior eficácia à utilização dos recursos.

    As novas directrizes para o emprego apenas definem objectivos a atingir relativamente às taxas de emprego. A CGTP-IN defende a fixação de metas a nível nacional. No nosso entender, isto representaria um estímulo à concretização das políticas, permitindo um acompanhamento mais próximo do Plano Nacional de Emprego. Há já uma experiência anterior neste domínio, mantendo-se válidas e pertinentes muitas das metas do último PNE. As GOP 2005-2009 definiram também um conjunto de objectivos! e metas que devem ser vertidas para o PNE, tendo que fazer os necessários ajustamentos devido ao horizonte temporal não ser o mesmo.

    Lisboa, 2005-09-20
    CGTP-IN

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