Nacional
Carta do Secretário Geral da FENPROF aos Professores

Neste país a saque, nenhum protesto é demais!

13 de setembro, 2012

Colega,

Iniciou-se mais um ano letivo e as expetativas que cada um de nós poderá ter sobre o seu desenvolvimento são muito negativas. Esta constatação decorre, não apenas do que acontece na Educação, nas escolas e com os professores, mas de se ter tornado evidente, até para os menos atentos, que Portugal está a saque e o roubo, que atinge níveis de violência para a generalidade das famílias, poderá ainda “ir no adro”, tendo em conta as afirmações do atual Primeiro-ministro sobre a necessidade de, em 2013, serem impostas mais medidas de austeridade, para além das que anunciou há dias antes de se ir divertir no Tivoli e de os portugueses serem entretidos com mais um jogo de bola.

Primeiro foram os PEC, depois o resgate e as medidas de austeridade, agora é a pouca-vergonha que cavalga desenfreada e varre o país de lés-a-lés. A situação no país é de tal ordem que já nem a ética faz parte do discurso político com que os governantes justificam a prática. Dois exemplos recentes: Crato, nos poucos meses que antecederam o início deste ano letivo, impôs um conjunto de medidas com o objetivo único de eliminar postos de trabalho e, assim, despedir professores e criar milhares de “horários-zero”: Ainda as suas mãos denunciavam o trabalho sujo que fizera e já o ministro repetia, para parecer verdade, que o problema é haver professores a mais; Coelho, quando anunciou recentemente novos roubos aos portugueses, afirmou que a reposição de um subsídio aos funcionários públicos seria distribuída pelos doze meses de salário para acudir mais rapidamente às necessidades de gestão do orçamento familiar… Poderá parecer patética a afirmação, mas não, ela revela, isso sim, uma falta de ética absolutamente inaceitável. Como é possível fazer tal afirmação quando o subsídio é totalmente confiscado e a sua distribuição mensal leva a que o confisco assuma ainda maiores proporções do que atualmente? As dúvidas dissipam-se: Passos Coelho e Nuno Crato gozam com os portugueses e portuguesas… E nós?! Deixamos que eles gozem com a nossa cara?

E é assim que se inicia o ano letivo: muito mais desemprego, níveis elevadíssimos de precariedade, roubos salariais cada vez mais devastadores, horários de trabalho agravados, condições de trabalho deterioradas, mega-espaços escolares sem coerência pedagógica, currículos empobrecidos, mais alunos nas turmas… em suma, nunca um ano letivo começou com problemas tão graves, tendendo para maior agravamento, tendo em conta que outras medidas se anunciam, entre as quais novos cortes orçamentais na Educação destinados a arrasar, sem deixar pedra sobre pedra, o futuro da Escola Pública democrática e de qualidade.

Neste país a saque, nenhum protesto é demais! Nenhum português trabalhador poderá ficar indiferente à luta. Os outros, os tais 1% que detêm 50% dos depósitos bancários e beneficiarão dos milhões roubados a quem trabalha para aumentarem os seus já elevados lucros, esses calam-se, pois a falta de vergonha também tem alguns limites. Brindarão, depois, à porta fechada com os que lhes entregam a pele dos espoliados, onde também se constam o “desaparecido” Portas e outros servos da troika, de Gaspar a Pereira, de Macedo a Mota Soares.

Discordassem os governantes do que estão a fazer ou, pelo menos, sentissem vergonha do que fazem, demitiam-se. Demitiam-se porque a vitória eleitoral do PSD/CDS, há pouco mais de um ano, não assentou nas promessas de cortar salários, roubar subsídios, provocar desemprego ou reduzir brutalmente as verbas destinadas à Educação e demais serviços públicos. Pelo contrário, PSD e CDS contestaram esse caminho que começava a ser percorrido pelos governos anteriores, sabendo agora, os que acreditaram, que o fizeram com o intuito de enganar os portugueses. Mentiram, então, os que se metamorfosearam em abutres e sobrevoam este país vítima de um saque meticulosamente organizado e levado por diante.

Face à situação, não poderão os portugueses – e os professores por razões acrescidas, dado o seu importante papel social – manter uma atitude resignada, ainda que insatisfeitos. Não poderão deixar de protestar, exigir e sobretudo, nunca poderão deixar de lutar por uma verdadeira alternativa a este pântano que, pouco a pouco, irá engolir todos.

Se eles não querem mudar de política, teremos de os obrigar; se eles não querem ir embora, teremos nós de os pôr a andar; se eles não querem correr com a troika, temos nós de o fazer. Basta que cada um de nós ganhe consciência do poder que tem nas suas mãos e as dê a outro e mais outro e nós, todos nós, podemos e temos a obrigação de contribuir para que se construa uma alternativa patriótica que coloque os portugueses no centro das preocupações, orientando as políticas para a satisfação das suas necessidades.

Se nós Professores não nos envolvermos nessa construção, não estaremos a cumprir a nossa missão de dar rosto ao futuro. Assim não acontecerá. Saberemos estar à altura do desafio, como se comprovará ao longo de mais um ano letivo que agora se inicia.

 Um Abraço forte. Mário Nogueira.