O desemprego em Portugal está atingir fundamentalmente os trabalhadores de baixa escolaridade (aqueles que têm o ensino básico ou menos e que constituem ainda 73% da população empregada) e com qualificação de banda estreita (sabem fazer muito bem uma determinada operação fruto da experiência acumulada ao longo de muitos anos mas têm grande dificuldade em se adaptar a outra actividade devido à baixa escolaridade e à ausência total de cultura de formação profissional).
Entre o 4º trimestre de 2001 e o 4º trimestre de 2004, foram destruídos em Portugal nas profissões ocupadas por estes trabalhadores (operários, artífices e trabalhadores e similares, operadores de instalações, maquinas e trabalhadores de montagem, trabalhadores não qualificados) cerca de 170.700 postos de trabalho, já que o número de postos de trabalho ocupados pelos trabalhadores com estas profissões passou de 2.178.700 para 2.008.00, segundo o Instituto Nacional de Estatística.
A repartição do desemprego oficial por níveis de escolaridade confirma também que a destruição de postos de trabalho está a atingir fundamentalmente os trabalhadores de baixa escolaridade e de qualificação profissional de banda estreita pois, no 4º trimestre de 2004, 75% dos desempregados tinham apenas o ensino básico ou menos.
A análise da evolução do desemprego por duração, entre o 4º trimestre de 2001 e o 4º trimestre de 2004, mostra que o desemprego com uma duração superior a 25 meses cresceu 186%, ou seja, praticamente o dobro do aumento total do desemprego registado no período considerado, que foi de 84%. Esta aumento vertiginosos que se está a verificar em Portugal no desemprego de longuíssima duração revela que a maioria dos trabalhadores despedidos com baixa escolaridade e qualificação profissional de banda estreita estão a enfrentar dificuldades crescentes para encontrarem novamente emprego, correndo sérios riscos de exclusão social.
A análise das medidas anunciadas pelo governo para enfrentar a grave crise económica e para combater o desemprego mostra que essas medidas não são suficientes, nem adequadas para combater o desemprego com as características que ele tem em Portugal.
Efectivamente, é fácil de concluir que os empregos que eventualmente criará o chamado Plano Tecnológico, que é a medida mais emblemática do programa de governo neste campo, não se destinam a trabalhadores com baixa escolaridade baixa e de qualificação de banda estreita, que são fundamentalmente aqueles que estão a ser atingidos neste momento pelo desemprego.
Por outro lado, a medida anunciada recentemente pelo governo da " criação de centros de emprego móveis", também chamados "Núcleos de Intervenção Rápida e Personalizada" no "âmbito do novo Gabinete de Intervenção Integrada para a Reestruturação Empresarial (AGIIRE)" (Diário de Noticias, 30.4.2005) constituídos por técnicos dos centros de emprego e da segurança social, portanto não são equipas interministeriais e sem competência para apresentar propostas de operações integradas de desenvolvimento, ou planos de modernização de empresas, etc., por isso previsivelmente estes centros móveis terão reduzida eficácia no combate ao desemprego, tendo em conta os resultados obtidos pelos centros de emprego actuais, cuja experiência é conhecida.
Um combate eficaz ao desemprego pressupõe a elaboração e implementação de Planos de Desenvolvimento, com ampla participação dos interessados, nomeadamente das estruturas representativas dos trabalhadores, com objectivos claros e com medidas e meios bem definidos, e com uma permanente e rigorosa monitorização com o objectivo de corrigir eventuais desvios e falhas.
Contrariamente ao que defende o pensamento económico único de cariz neoliberal dominante em Portugal, não serão "os mercados", nem a livre concorrência que poderão fazer sair o país da situação grave em que se encontra. Deixar actuar livremente "o mercado" ou " a livre concorrência, como defendem alguns só contribuiria para agravar as dificuldades económicas e aumentar as desigualdades sociais.
3/05/2005