Os educadores e professores marcaram presença activa no Protesto Geral pela mudança de políticas, que juntou em Lisboa, na tarde de 12 de Outubro, mais de 85 000 trabalhadores, em funções no sector privado, nas empresas públicas e nos serviços do Estado. Numerosos autocarros oriundos de todo o País (só do distrito do Porto ultrapassaram a centena), estacionados numa impressionante fila junto do Tejo, e a deslocação de milhares de manifestantes na Baixa a caminho dos pontos de concentração, deram logo ao início da tarde uma perspectiva da grande acção preparada pela CGTP-IN. Depressa se confirmaria como uma das maiores manifestações até hoje realizadas
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Porque as opções assumidas pelo actual Governo (segurança social, saúde, emprego, educação, justiça, etc) têm determinado uma contínua (e perigosa) degradação das condições de vida e de trabalho, promovendo mais desigualdades e injustiças e afastando Portugal cada vez mais dos níveis de desenvolvimento na União Europeia; porque não cruzam os braços nestes tempos difíceis que vivemos, os trabalhadores saíram à rua, numa poderosa afirmação de unidade, a que se associaram desde a primeira os sindicatos da FENPROF.
Concentrados no Terreiro do Paço, junto ao Ministério das Finanças, os trabalhadores da Administração Pública, os educadores e professores (cerca de 30 000 no seu conjunto) dirigiram-se ao Rossio, onde se juntaram à concentração dos trabalhadores dos outros sectores, rumando então para a Assembleia da República (passava já das 15h00).
O fim da rua de São Bento, o largo frente às escadas do Palácio, a calçada da Estrela e as zonas envolventes, incluindo o jardim, acolheram uma multidão compacta, que certamente não caberia num dos maiores estádios de futebol do País.
Para se ter uma ideia da grandiosidade deste Protesto convocado pela Central e do impacto que teve na cidade de Lisboa, podemos afirmar que por volta das 17h00, com a zona em frente às escadarias da AR repleta, ainda se aguardava a chegada de 80 por cento dos manifestantes. Faltavam apenas alguns minutos para as 18h00 quando a cabeça da manifestação da Administração Pública chegou a São Bento, momento particularmente saudado.
Professores têm razão
"Que País quer o Governo, que País quer o patronato, que não são capazes de em nenhuma área propor qualquer coisa de positivo?" - interrogou Carvalho da Silva
"O senhor Primeiro Ministro e o seu Governo sabem que temos fortes razões de protesto", destacou mais adiante o secretário-geral da Inter, que acrescentaria:
"Têm razão os trabalhadores da Administração Pública porque são constantemente achincalhados e despojados de condições inerentes ao compromisso que o Estado assumiu com eles; têm razão os professores na essência das suas reivindicações; têm razão os enfermeiros e os trabalhadores da saúde em geral, ao defenderem a dignidade e valorização das suas profissões como componente indispensável de um eficaz sistema de saúde; têm razão e é indispensável a luta dos trabalhadores do sector privado que denunciam e combatem as manobras e vigarices que estão, muitas vezes, por detrás de despedimentos, de encerramento de empresas e deslocalizações; têm razão os trabalhadores dos transportes, das comunicações, do material eléctrico e electrónico e tantos outros, que exigem a efectivação da negociação colectiva".
O Protesto, que saudou o êxito da Marcha Nacional de Educadores e Professores de 5 de Outubro, aprovou uma moção em que se realça que a justeza e as razões da luta "não deixarão de ter eco na sociedade" e que "o poder político e o económico não podem ignorar as nossas reivindicações porque o trabalho digno e qualificado é condição essencial para vencer os problemas da economia e desenvolver o País".
Como se ouviu em Lisboa na tarde de 12 de Outubro, "quem luta sempre alcança, queremos a mudança". / JPO