Prosseguindo aquela que é reconhecida como uma das mais persistentes e corajosas lutas desenvolvidas por um sector profissional no nosso País, os educadores e professores voltaram às ruas de Lisboa, exigindo do Ministério da Educação uma postura de seriedade nas negociações com os Sindicatos. Mais de 70 000 docentes fizeram ouvir, de novo, a sua voz, reivindicando soluções justas para os problemas e as injustiças que afectam a Profissão e a Escola Pública. O País não ficou indiferente!
Sábado, 30 de Maio de 2009. O coração da baixa pombalina voltou a sentir a determinação e a combatividade de milhares de docentes, oriundos de todas as regiões do País, que responderam ao apelo da Plataforma Sindical, dando forma e cor a uma maré de protesto, no cenário histórico da Avenida da Liberdade, unindo o Marquês de Pombal à Praça dos Restauradores, num desfile, iniciado cerca das 15h30, que durou mais de duas horas, e que desta vez teve à cabeça os educadores e professores do Sul. Passavam dez minutos das 16 horas quando chegaram aos Restauradores, aplaudidos por centenas de pessoas. Às 16h45 estavam ainda muitos professores do Norte junto à estátua do Marquês de Pombal, aguardando a entrada na Avenida.
Cinco palavras da ordem marcaram o ritmo desta jornada: "Emprego sim, desemprego não!", "Ministra escuta, os Professores estão em luta!", "Avaliação sim, mas esta não!", "Carreira só há uma: Professor e mais nenhuma!" e "É preciso, é urgente uma política diferente!": a mensagem não podia ser mais esclarecedora...
À medida que os manifestantes iam chegando à Praça dos Restauradores, sucediam-se as informações sobre a evolução do desfile, que durou mais de duas horas, como sublinharam os "animadores" de serviço na tribuna: Manuel Grilo (SPGL), Júlia Vale (SPN) e Luis Lobo (SPRC). Antes da intervenção de Mário Nogueira e da aprovação da moção "O futuro constrói-se com os Professores" fez-se um minuto de silêncio porque "enquanto o ECD do ME estiver em vigor os educadores e professores portugueses estão de luto".
Prejudicando um dia de descanso e de convívio familiar, resistindo a um calor impiedoso e a uma viagem que para muitos foi de centenas de quilómetros, milhares de professores e educadores regressaram à rua, em massa, reafirmando o repúdio pelas práticas e pelas políticas do Ministério da Educação e do Governo, que apostou ao longo da legislatura num ataque cerrado a estes profissionais, tentando, especialmente na primeira etapa desse ataque, colocar a opinião pública contra os professores e as escolas.
"Não esquecemos!", afirmava uma docente de Vila Nova de Gaia a um dos muitos jornalistas que acompanharam esta acção. Oriundos de Trás-os-Montes e do Douro, do Minho, do Grande Porto, das Beiras, de Leiria e do Ribatejo, da Grande Lisboa, do Alentejo e do Algarve (não esquecendo a representação do Sindicato da FENPROF na Região Autónoma dos Açores - SPRA), empunhando bandeiras e cartazes, gritando palavras de ordem, os professores mostraram neste 30 de Maio de 2009 que não esquecem o desrespeito e a desconsideração com que têm sido tratados por um poder político "deslumbrado" pela maioria absoluta.
"Não desistimos!", garantia um jovem professor do Seixal aos microfones de uma rádio nacional. A mensagem que estes mais de 70 000 lutadores deixaram nas ruas de Lisboa não podia ser mais esclarecedora: os educadores e professores portugueses garantem que não desistem dum Estatuto de Carreira dignificante e valorizador da profissão; duma avaliação do desempenho coerente, lúcida e útil; de concursos promotores da estabilidade e do emprego; de uma Escola Pública inclusiva e de qualidade, tendo como pano de fundo o respeito pelos profissionais que asseguram o ensino, a formação e o apoio educativo às crianças e aos jovens.
E o mesmo é dizer: que asseguram o futuro do nosso País.
As preocupações e os objectivos de luta dos professores desceram a Avenida...
... com a certeza de que a classe está atenta aos processos negociais abertos ou a abrir ainda em Junho, tais como a revisão do ECD, a substituição do modelo de avaliação e o estabelecimento de normas para a elaboração dos horários no próximo ano lectivo, como destacou Mário Nogueira na intervenção (17h00), feita em nome da Plataforma Sindical.
"Quanto ao futuro, seremos exigentes, como sempre", destacou o dirigente sindical. "Exigimos uma política que garanta a qualificação dos portugueses, que combata efectivamente as chagas do abandono e do insucesso escolares, queremos uma política que garanta qualidade às respostas educativas e sociais da escola e, em particular, da Escola Pública, queremos uma política que também coloque os professores no centro, os respeite na sua dignidade profissional, valorize o exercício da profissão de professor, considere os profissionais docentes como profissionais autónomos e reflexivos que dispensam manuais de aplicador, mas exigem reconhecimento e respeito", observou o porta-voz da Plataforma e Secretário Geral da FENPROF.
Ninguém está dispensado da luta. Até ao fim do ano. E depois em Setembro, no arranque do novo ano escolar 2009/2010, os professores, de forma autónoma, marcarão a "agenda", tomarão as decisões e assumirão as iniciativas que forem necessárias porque sabem que só com unidade, determinação e luta se consegue atingir objectivos.
Os governantes passam; as escolas, os alunos e os professores ficam./ JPO