Nacional

Irregularidades na RTP "nunca foram resolvidas"

09 de outubro, 2007

Rodrigues dos Santos pode ser inquirido pela administração

"Podiam ter-se passado dez anos, que o caso continuava a ser importante. É algo que continua em aberto, pois a administração da RTP nunca cumpriu o que prometeu." É desta forma que Sebastião Lima Rego, membro da antiga Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS), classificou as declarações de José Rodrigues dos Santos. O jornalista referiu, numa entrevista ao Público, que a administração da RTP interferiu na nomeação de Rosa Veloso para correspondente em Madrid em 2004 - que estava em quarto lugar na lista de candidatos. Uma decisão que, na óptica do pivot, cabe à direcção de informação, razão pela qual se demitiu à época, contando com a solidariedade da restante equipa - Judite de Sousa, Miguel Barroso, Manuel da Costa, Maria José Nunes e Carlos Daniel.

Sebastião Lima Rego, que foi na altura o redactor da deliberação da AACS sobre o caso - favorável a José Rodrigues dos Santos - afirma que "três anos depois, ainda não foi feita justiça". "A administração da RTP nunca tomou nenhuma atitude. Os prevaricadores continuam nos seus postos como se nada tivesse acontecido", acrescenta. "Foram feitas injustiças e irregularidades que nunca foram resolvidas", desabafa o ex-responsável.

Segundo Lima Rego, a estação pública prometeu, na altura, "que iria elaborar um novo regulamento para as colocações", de acordo com as recomendações da entidade reguladora da altura. "Insistimos durante meses para nos mostrarem esse regulamento, o que nunca aconteceu", defende o membro da extinta AACS.

O DN contactou Almerindo Marques, presidente do conselho de administração da RTP, que afirmou que foi feito "um novo regulamento" aquando da nomeação da nova direcção de informação, composta por Luís Marinho e José Alberto Carvalho, manifestando-se, porém, indisponível para quaisquer outras explicações.

As "incongruências"

Em 2004, Almerindo Marques foi ouvido pela AACS, caindo "em incongruências", revela Lima Rego. De acordo com a deliberação da então entidade reguladora, a administração da RTP referiu que a direcção de informação nunca "tinha apresentado ao conselho uma lista de aprovados [para correspondentes] por uma ordem hierarquizada".

Mais à frente no documento pode ler-se que a própria administração entregou à AACS documentos referentes aos concursos, "que comprova basicamente a versão do director de informação [José Rodrigues dos Santos], uma vez que demostra que os júris apresentaram regularmente os candidatos aptos (e até os não aptos) classificados numericamente".

Apesar de a versão da AACS lhe dar razão, Rodrigues dos Santos pode agora enfrentar um inquérito interno na estação pública por ter, na entrevista do fim-de-semana, voltado a abordar o assunto. Lima Rego não estranha o alarido que tem sido feito em redor do tema, três anos depois. É que em 2004, a deliberação da Alta Autoridade foi ofuscada pelo acontecimento do dia. "Foi o dia em que o Presidente da República, Jorge Sampaio, dissolveu a assembleia, o que veio inquinar a notícia da deliberação" relembra.

O futuro imediato de Rodrigues dos Santos mantém-se indefinido. Ontem ao DN, o jornalista disse que "ninguém pode ser punido por dizer o que está certo". No entanto, pode vir a ser alvo de um inquérito por parte da administração. Uma possibilidade que o DN não conseguiu confirmar, apesar das várias tentativas ao longo do dia de ontem.

DN, 9/10/2007