Nacional
Depoimento de Mário Nogueira

Homenagem a Rogério Fernandes

11 de outubro, 2010

Uma sessão solene, presidida pelo Reitor António Nóvoa; um conjunto de testemunhos; e a inauguração da exposição dedicada à vida e obra do homenageado, foram os pontos altos da iniciativa com que a Reitoria da Universidade de Lisboa (UL), o Instituto de Educação desta Academia e a Universidade Lusófona (Instituto de Ciências da Educação), homenagearam o cidadão, o professor, o pedagogo e o investivador Rogério Fernandes, nesta terça-feira, 12 de Outubro.

Rogério Fernandes, falecido em Março de 2010,  foi Professor Catedrático do IEUL. Foi também a Presidência do Instituto Irene Lisboa e autor de numerosas obras nas áreas de História e Filosofia da Educação

A iniciativa decorreu no Salão Nobre da Reitoria da UL. Entre as 14h30 e as 15h30 decorreu a sessão solene com intervenções de Luiz Carlos Villalta (Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil), Margarida Felgueiras (Universidade do Porto) e Agustín Escolano (Universidade de Vallodolid, Espanha).

Registou-se, depois, um período de depoimentos, com a participação de Borges Coelho, Albano Estrela, António Nóvoa, Mário Nogueira, António Teodoro, Áurea Adão, Justino Magalhães, Manuela Esteves, Odete Valente, Maria João Mogarro e José Maria Hernández Díaz.

Cerca das 18h00 foi inaugurada a exposição "Vida e obra de Rogério Fernandes".

Além das entidades já mencionadas, que asseguraram a organização do evento, refira-se também o apoio da Fundação Gulbenkian. / JPO

 

TESTEMUNHO SOBRE ROGÉRIO FERNANDES
Mário Nogueira

A relação humana, política e profissional que estabeleci com o Rogério Fernandes foi, decerto, bastante diferente da que o Rogério estabeleceu com a generalidade de quantos aqui testemunham hoje.

O nome chegou-me enquanto estudante; a pessoa só mais tarde, já no meu Sindicato, na região centro, e, depois, na FENPROF.

A primeira vez que ouvi o Rogério Fernandes falar sobre Educação e políticas educativas foi num grande encontro que teve lugar no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra, isto há uns bons vinte e alguns anos. Do que, então, mais recordo, por ser o que mais apreciei no discurso, para além do conteúdo, obviamente, foi a sua clareza, a coerência das ideias, a simplicidade da exposição, o fino sentido de humor. Não precisou, na altura, de acetatos, para se fazer compreender melhor do que ninguém!

A partir daí e já na FENPROF, houve alguma aproximação, sobretudo enquanto presidiu ao Instituto Irene Lisboa. Essa aproximação permitiu-me, não só, confirmar o que já havia apreciado, como perceber que estava perante uma pessoa extremamente prática. Daquelas que sabe que, ao dia, faltam horas para poder fazer tudo aquilo que deveria ser feito… e o Homem, o intelectual, o pedagogo, o historiador, o cidadão interveniente, o activista de causas quando exerce todas estas dimensões precisa de tempo, muito tempo, o tempo que parece chegar ao fim muito mais depressa do que era justo e necessário.

A certa altura, não sei explicar exactamente a razão, pois não nos encontrávamos tantas vezes como, talvez, as responsabilidades que assumíamos o justificaria, comecei a sentir, da parte do Rogério Fernandes, uma grande simpatia. Muitas vezes, quando me encontrava, chamava-me dizendo “Oh jovem”, gostei do que disseste ou fizeste, mas ainda pode ser melhor se lhe acrescentares mais um ou outro aspecto, uma ou outra ideia. Eram sempre, foram sempre conselhos positivos e importantes e dados de forma que procuravam excluir qualquer possibilidade de parecer uma crítica de quem não gostara. Eram conselhos de quem, sentia-se, estava do mesmo lado e achava importante contribuir para que fosse sempre melhor! Esta forma exigente de estar, ser e fazer é própria de quem sabe que nada é perfeito, logo, há sempre margem para melhorar. Rogério Fernandes era exigente!

Gostava do Rogério Fernandes, Amigo por quem tinha uma elevada consideração. Achei sempre que se tratava de consideração, apreço e camaradagem recíprocos e verdadeiros que, no entanto, nunca explicitámos nas palavras que trocámos. Penso que por acharmos não ser necessário, pois ambos sabíamos que assim era e talvez o quarto de século que nos separava o dificultasse.

Por fim, de Rogério Fernandes, uma certeza: se fosse possível estaria hoje nas lutas de tantos, dos muitos que pugnam pela dignificação da profissão docente e pela defesa da Escola Pública. Não está, por não ser possível, mas o seu legado é forte contributo para que aqueles que estão continuem a lutar. Também isso lhe devemos agradecer.

 Mário Nogueira
Lisboa (Universidade de Lisboa), 12 de Outubro de 2010