Nacional
Em desrespeito por recomendações da AR

Governo decide encerrar, de imediato, 701 escolas do 1º Ciclo podendo pôr em causa direitos de cerca de 10 000 crianças

23 de julho, 2010

O Ministério da Educação anunciou esta sexta-feira, 23 de Julho,  o encerramento de 701 escola do 1.º Ciclo, já a partir do próximo dia 1 de Setembro. Mais de metade destas escolas situam-se no Norte do país (384), sendo as outras do Centro (155), Lisboa e Vale do Tejo (119), Alentejo (32) e Algarve (11). É um número brutal que o Governo parece divulgar com orgulho, mas sem motivo para o ter, bem pelo contrário.

Com mais este “encerramento colectivo”, são quase 6.000 as escolas do 1.º Ciclo encerradas na primeira década do século XXI – uma média de cerca de 600 por ano – o que se tem traduzido em impactos muito negativos para vastas áreas do território nacional, por norma, já de si mais discriminadas e que hoje são vítimas de acelerados processos de desertificação.

Estes 700 estabelecimentos que encerrarão, obrigarão cerca de mais 10.000 crianças tenham de se deslocar para frequentarem a escola, a esmagadora maioria das quais, como habitualmente, em transportes que não respeitam preceitos legais de segurança e conforto que se encontram estabelecidos.

Pode o Governo afirmar que dialogou com as autarquias, mas que diálogo pode existir quando a Resolução n.º 44/2010, do Conselho de Ministros, refere, no seu ponto 7, que, nas escolas que não encerrem, não será colocado professor a partir de 2010/2011?!

Esta imposição do Governo – que é contrária à própria Assembleia da República que aprovou 4 Recomendações no sentido de parar com este processo de “reordenamento” da rede escolar – é acompanhada de uma argumentação que carece de sustentação. Têm os responsáveis do ME afirmado que encerram as escolas com menos de 21 alunos, por apresentarem taxas de insucesso superiores à média, mas… será verdade? Há fundadas dúvidas disso, razão por que a FENPROF exige do ME:

- a divulgação pública da lista de escolas a encerrar;

- a informação sobre o número de alunos de cada escola que encerra;

- a indicação sobre quais os centros escolares que acolherão os alunos;

- a taxa de sucesso/insucesso verificada em cada uma das escolas a encerrar nos dois últimos anos lectivos.

Para a FENPROF, os interesses economicistas e administrativos que levam o Governo a tomar este tipo de medidas – e com expressão tão brutal – são absolutamente inaceitáveis e reprováveis pelos impactos que têm no país, nas famílias e nos direitos de milhares de crianças que serão afectadas por estes encerramentos. Para a FENPROF, o encerramento de cada escola deverá observar um conjunto de requisitos que se recordam:

- previsão no âmbito da carta educativa municipal;

- acordo expresso dos pais e encarregados de educação;

- conclusão prévia do centro escolar de acolhimento;

- deslocações de crianças nunca superiores a 30 minutos e no pleno respeito pela lei no que concerne a condições de segurança e conforto;

- garantia de refeições gratuitas;

- garantia de ocupação de tempos livres dos alunos, com actividades orientadas, embora não escolarizadas, entre o final da aulas e a deslocação para a localidade de residência;

- colocação do/da docente da escola encerrada na de acolhimento dos alunos.

 A FENPROF acompanhará o que irá acontecer, a partir de Setembro, às crianças destas escolas e estará na primeira linha da denúncia de todas as situações negativas que surgirem e coloquem em causa direitos das crianças, tal como se posicionará, sempre, ao lado das populações que se mobilizarem para contestar este brutal encerramento de escolas e o que ele significa de ataque à Escola Pública.

O Secretariado Nacional da FENPROF
23/07/2010