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Público, 23/01/2004

Escolas do 1º ciclo do Norte sem leite desde o Natal

22 de setembro, 2004

Desde o final de Dezembro que diversas escolas do 1º ciclo do ensino básico, do pré-escolar e do ensino mediatizado do Norte do país deixaram de ter leite para distribuir pelos alunos. O programa "Leite Escolar", do Ministério da Educação, prevê a distribuição gratuita e diária de pacotes com dois decilitros de leite. Contudo, desde as férias do Natal que grande parte dos estabelecimentos de ensino nortenhos não têm leite para distribuir às crianças.

O próprio Ministério da Educação admite que "houve um pequeno atraso na distribuição", justificável devido à mudança de fornecedor. Até há pouco tempo a Lactogal era responsável pelo leite escolar, mas findo o contrato e depois de ter sido feito um concurso público internacional, a licença passou para as mãos da Covap, uma cooperativa da Andaluzia, Espanha.

Segundo a mesma fonte do gabinete do ministro David Justino, "a Covap garantiu à Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) que a situação estaria resolvida até sexta-feira [hoje]". A tutela acrescenta que o leite só não chegará às escolas que aderirem à greve, pondo desta forma fim a um longo coro de protestos que levou escolas e até câmaras municipais a questionar o Centro de Área Educativa de Braga e a DREN sobre a não entrega de leite nos estabelecimentos de ensino.

Nas escolas onde o nível económico dos alunos é mais elevado, o problema não se fez sentir com tanta gravidade porque as crianças levam lanche de casa, minorando assim a falta do leite. Contudo, em escolas como a de Longos, em Guimarães, a questão atingiu outras proporções. "O que valeu a muitas crianças foi o facto de a junta gerir a cantina escolar e dar-lhes, para além do almoço, o lanche", referiu ao PÚBLICO João Ribeiro, presidente da Junta de Freguesia de Longos, uma das mais pequenas e rurais localidades do concelho vimaranense. Quase todos os cerca de 150 alunos que frequentam a escola eram consumidores do leite escolar. De resto, de acordo com o autarca local, este era mesmo o único lanche de que dispunham. "Há muitas crianças que conheço que apenas bebem leite na escola, porque em casa não há dinheiro para comprar", finaliza João Ribeiro.

Também o Sindicato de Professores do Norte (SPN) não poupou críticas à forma como o Ministério da Educação geriu este processo. Júlia Vale, dirigente do SPN, diz ser "inadmissível que se recorra a uma empresa espanhola, privando as crianças de leite escolar durante cerca de um mês, apenas por questões economicistas".

"O leite que as crianças bebiam era de boa qualidade. O leite português é bom. O que não é bom é deixar os alunos sem leite apenas por questões de dinheiro", refere ainda a sindicalista.