Nacional
Estudo do economista e investigador Eugénio Rosa

Escolaridade: Portugal acentua atraso face à média da OCDE

02 de fevereiro, 2005
 

Portugal, que em 1991 já estava atrasado em matéria de escolaridade face à média da OCDE, aumentou esse atraso até 2002, apesar de alguns progressos registados na escolaridade nacional, indica um estudo do economista Eugénio Rosa, que afirma não ser possível alcançar taxas de crescimento económico elevadas e duradouras sem aumentar o nível de escolaridade.

Em 2002, 65 por cento dos portugueses entre os 25 e os 34 anos tinham o ensino básico ou menos, praticamente o triplo dos 22 por cento de média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE), diz o autor do estudo, baseando-se em dados da organização.

Ainda segundo o estudo a que a Lusa teve acesso, o peso dos que tinham cursos superiores em Portugal nesta faixa etária era de 15 por cento, pouco mais de metade da média da OCDE - 28 por cento.

Considerando a população em idade activa (25 aos 64 anos), Eugénio Rosa indica que a percentagem de pessoas que possuíam curso superior em Portugal aumentou dois pontos percentuais entre 1991 e 2002, para nove por cento, enquanto a média da OCDE cresceu cinco pontos percentuais, para 23 por cento.

No mesmo período, o peso de pessoas dos 25 aos 64 anos de idade com curso superior cresceu nove pontos percentuais na Irlanda, para 25 por cento.

Eugénio Rosa critica ausência do tema educação da campanha eleitoral

Dada a situação, o economista considera "extremamente preocupante" que em período eleitoral esteja ausente do discurso político o problema da educação, que considera ser uma das causas estruturais da grave crise que o país enfrenta.

Para Eugénio Rosa, não é possível alcançar taxas de crescimento económico elevadas e duradouras sem aumentar o nível de escolaridade dos trabalhadores e das entidades patronais e sustenta que é "enganar os portugueses" dizer que é possível aumentar a produtividade de forma sustentada através de "choques", sejam eles fiscais, tecnológicos ou de gestão.

Eugénio Rosa cita estudos da OCDE que indicam que um trabalhador com ensino superior produz em média entre 114,5 e 145,7 por cento mais do que um trabalhador que não tenha mais do que a escolaridade básica, isto é, mais do dobro, e que um trabalhador com ensino secundário completo produz em média entre 39,8 e 46,9 por cento mais do que os que não foram além do ensino básico.

No período de 1991 a 2002 referido, o número de pessoas entre os 25 e 64 anos que apenas tinha a escolaridade básica baixou em média na OCDE 12 pontos percentuais, para 33 por cento, o dobro dos seis pontos percentuais que diminuiu em Portugal, segundo aquele economista.

Mas em Portugal quatro em cada cinco pessoas daquela faixa etária não tinha em 2002 mais do que a escolaridade básica, contra apenas um terço na OCDE, acrescenta.

Abandono escolar

Eugénio Rosa destaca que a taxa de abandono escolar é de 45 por cento na população portuguesa com menos de 25 anos, enquanto na União Europeia alargada a 25 países não vai além de 18 por cento.

O autor do estudo assinala que, na faixa etária entre os 25 e os 34 anos, havia em 2002 ainda 65 por cento dos portugueses que não foram além do ensino básico, praticamente o triplo dos 22 por cento de média da OCDE, enquanto o peso dos que tinham cursos superiores em Portugal era 15 por cento, pouco mais de metade da média da OCDE (28 por cento).

No mesmo ano, 37 por cento dos espanhóis e 36 por cento dos irlandeses da faixa etária dos 25 aos 34 anos tinham completado cursos superiores.

Eugénio Rosa recorda que a OCDE utiliza a taxa de rendimento interna social de investimento em educação para medir os benefícios para um país do investimento realizado na educação.

A organização estima que cada ano suplementar de estudos da população activa tem um efeito a longo prazo de aumento entre três e seis por cento da produção do país.

"É evidente que, se se quiser aumentar a produtividade em Portugal de uma forma sustentada, é necessário aumentar o nível de escolaridade geral da população portuguesa, dos trabalhadores, mas também dos patrões", conclui Eugénio Rosa.

Lusa, 23/01/2005