Nacional
JN, 6/10/2006

"Duas horas de torrente barulhenta e colorida ao longo da Avenida da Liberdade..."

11 de outubro, 2006

Duas horas de torrente barulhenta e colorida ao longo da Avenida da Liberdade, em Lisboa, criaram o ambiente para o anúncio final de "unidade e determinação dos professores" na luta contra a revisão do Estatuto da Carreira Docente a realização de dois dias de greve, a 17 e 18 deste mês, "caso o Ministério da Educação não dê provas inequívocas" de abertura negocial. Organizada por 14 sindicatos e classificada como "a maior manifestação de professores alguma vez realizada em Portugal", a marcha de ontem terá juntado perto de 25 mil pessoas.

No trajecto até ao Rossio, onde foi aprovada a moção que determina a entrega (6 de Out.) do pré-aviso de greve, os manifestantes escolheram o seu grito de guerra preferido "Está na hora, está na hora, de a ministra ir embora". "Mentirosa" foi o "mimo" mais ouvido contra Maria de Lurdes Rodrigues. Mas houve outros, bem mais duros, com que os manifestantes deixaram clara a revolta contra o Governo.

No meio de mensagens para todos os gostos, como as cinéfilas - "Feios, porcos e diabólicos a apologia do cinismo, em exibição no Ministério da Educação" ou "Docentes à beira de um ataque de nervos -, também houve lugar ao amor... humorado. "Sra. D. ministra, case comigo!", pedia em letras ao peito Leonel Castro, de 33 anos, contratado há nove e este ano sem colocação.

Como explicação para o insólito pedido, respondeu estar a seguir um conselho da mãe. "Perguntei-lhe por que razão a ministra tem estas medidas que demonstram insensibilidade pelo ensino e ela respondeu que deve ser falta de amor. Eu tenho muito amor para dar", gracejou.

"Da manneira como as coisas estão..."

Com afinação e ritmo apresentaram-se vários professores de Santa Maria da Feira, que deram espectáculo ao som de gaitas-de- foles, tambores e pandeiretas, sob a batuta do professor de Música. "Já que o Governo só nos dá música, nós respondemos na mesma moeda, pelo menos hoje. Vamos lá ver se conseguimos mais alguma coisa..."

Além de muitas crianças e famílias completas a acompanhar a marcha, os professores e educadores contaram também com a solidariedade de muitos reformados. Como Salomão Figueiredo e Cândida Novais, que reivindicaram "dignidade" para os colegas.

 "Da maneira como as coisas estão, grande falta faz a nossa solidariedade", afirmaram, aconselhando coragem a quem quer manter-se no ensino.

Jornal de Notícias, 6/10/2006