Dezenas de cursos profissionais em escolas secundárias públicas de todo o país não abriram este ano lectivo por falta de alunos, disseram à Lusa presidentes de conselhos executivos de vários estabelecimentos de ensino.
O Executivo socialista pretende que cerca de metade dos alunos do ensino secundário optem por cursos técnico-profissionais até ao final da legislatura, à semelhança do que acontece na maioria dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
No entanto, dos 130 cursos profissionais que deveriam ter começado em 32 escolas secundárias contactadas pela Lusa, de Norte a Sul do país, só 80 estão a funcionar, uma vez que os restantes não tiveram alunos suficientes.
A falta de inscrições verificou-se sobretudo na região da Grande Lisboa, Alentejo e Algarve, impedindo a abertura de um total de 50 cursos profissionais, só entre as escolas contactadas.
Na escola secundária Maria Amélia Vaz de Carvalho, em Lisboa, por exemplo, nenhum dos seis cursos oferecidos está a funcionar, segundo a vice-presidente do Conselho Executivo, Amélia Vasconcelos. "Só houve duas inscrições para o curso de bibliotecário e para os outros não houve sequer um aluno interessado. Continua a existir uma mentalidade muito enraizada por parte dos pais, que consideram estes cursos menores", afirmou.
Idêntica opinião tem a vice-presidente da escola secundária de Estremoz, onde só dois dos cinco cursos profissionais previstos estão a funcionar. "Os pais ainda não aceitam bem este tipo de cursos porque fizeram a sua formação numa altura em que eles eram muito associados ao operariado. Agora querem o melhor para os filhos e não gostam de vê-los afastarem-se de um curso superior", explicou à Lusa a vice-presidente Manuela Papança.
Técnico de Contabilidade, Técnico de Manutenção Industrial, Técnico de Instalações Eléctricas ou Técnico de Secretariado são apenas alguns exemplos de cursos profissionais, que abrangem ainda áreas tão diversificadas como a animação sócio-cultural, a jardinagem, a cerâmica, a informática ou a análise laboratorial.
Estes cursos, com a duração de três anos e equivalência ao 12º ano, têm uma forte componente prática, apostando na preparação para a vida activa, nomeadamente através de estágios profissionais integrados.
A falta de divulgação foi outro dos motivos invocados por algumas escolas para explicar o insuficiente número de inscrições, que impediu a abertura de vários cursos. No entanto, esse não parece ter sido o problema na secundária André Gouveia, em Évora, que realizou uma campanha de promoção destes cursos através do jornal regional e até convidou alunos do básico a visitar a escola para promover aquela oferta, sem quaisquer resultados.
"Abrimos dois cursos, mas não tivemos matrículas e, por isso, nenhum está a funcionar. Apostámos na Informática e no técnico de laboratório, que são áreas com saída, mas não houve interesse. Os professores estavam muito entusiasmados e têm pena que os cursos não funcionem e que o equipamento esteja todo parado", lamentou à Lusa José Francisco Coxo, presidente do Conselho Executivo.
Para o responsável, "o Ministério da Educação devia ter feito uma maior campanha a nível nacional", uma opinião partilhada na escola secundária Júlio Dantas, no concelho de Lagos, onde só abriram dois dos quatro cursos propostos.
No total, as cinco secundárias da Direcção Regional de Educação (DRE) de Lisboa contactadas pela Lusa abriram 14 dos 26 cursos inicialmente oferecidos, enquanto nas seis escolas da DRE do Alentejo inquiridas funcionam apenas sete dos 26 previstos.
Já no Algarve, só quatro dos 12 cursos profissionais oferecidos nas seis escolas contactadas arrancaram este ano lectivo, um número que sobe na Região Centro, onde estão a funcionar 13 dos 19 cursos inicialmente disponibilizados por seis estabelecimentos de ensino.
A região Norte destaca-se por ter a maior taxa de sucesso, estando a funcionar em pleno 42 dos 47 cursos previstos nas nove escolas que falaram com a Lusa.
Só na secundária de Monserrate, em Viana do Castelo, por exemplo, abriram os oito cursos propostos, abrangendo um total de 178 alunos, que se preparam para, dentro de três anos, exercer profissões como Técnico de Construção Civil e Preparação de Obra, Técnico de Design ou Técnico de Gestão. "Excedeu largamente as nossas expectativas e, em alguns casos, até tivemos de pedir autorização à Direcção Regional para podermos constituir turmas maiores do que o previsto", disse à Lusa Florbela Magalhães, membro do Conselho Executivo da escola.
A agência Lusa tentou várias vezes obter dados nacionais sobre o arranque dos cursos profissionais junto do Ministério da Educação, não obtendo qualquer resposta./ Lusa, 6/10/2006