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Carta de uma professora cooperante sobre a insegurança que vivem, hoje, em Timor-Leste

23 de março, 2020

Os portugueses residentes em Timor estão a viver uma situação insustentável. Perante o agravamento da pandemia de Covid 19, e respetiva chegada ao território de Timor-Leste, os portugueses cooperantes aqui residentes, em desempenho de funções docentes, vêm manifestando, utilizando os canais hierárquicos estabelecidos, a vontade de ser repatriados até à conclusão da crise atual. Esse seu desejo chegou a ser objeto de auscultação, numa fase inicial, por responsáveis pela coordenação do projeto dos Centros de Aprendizagem e Formação Escolar (CAFE). Posteriormente, porém, a coordenadora do Projeto, Lina Vicente, viria a comunicar aos professores portugueses que aqueles que quisessem regressar a Portugal deveriam fazê-lo “por sua conta e risco”.

Em 18 de março último, perante a emergência em curso, teve lugar, na Embaixada de Portugal em Díli, uma reunião de balanço em que estiveram presentes o Embaixador de Portugal, um representante do Ministério da Educação, Juventude e Desporto de Timor-Leste, a Delegada Consular da Embaixada de Portugal em Díli, a Adida para a Cooperação da mesma Embaixada, as Coordenadores Gerais do Projeto CAFE e os treze Coordenadores das Escolas CAFE.

Entretanto, foi divulgado o depoimento de uma professora portuguesa à SIC, na qual se dá conta da situação de risco em que vivem hoje os professores portugueses em Timor-Leste, havendo a assinalar, para além do ali referido, a retirada dos cooperantes portugueses a residir em Oecussi, por razões de fecho da fronteira com a Indonésia e o deslocamento dos cooperantes a residir em Baucau. Este último deslocamento, ordenado pela Embaixada de Portugal em Dili, deveu-se ao apedrejamento da residência dos professores naquela cidade (na sequência de divulgação de que um dos cooperantes estaria contaminado), sendo já constatável um sentimento geral de hostilização dos cidadãos estrangeiros, com consequências imprevisíveis em situação de natural alastramento da Covid 19 em Timor-Leste. Assim, não corresponde à realidade a afirmação da coordenadora do Projeto, Lina Vicente, à Lusa, segundo a qual “apenas uma docente escreveu à Embaixada informando que pretendia ser repatriada”. Com efeito, podendo ter havido apenas uma cooperante a assumir essa vontade, a quase totalidade dos professores pretendem o repatriamento imediato, ainda que o possam não manifestar, por razões de natureza diversa. O sentimento de insegurança encontra-se hoje generalizado entre os cooperantes em Timor-Leste, de resto acentuado pela ausência de referência a estes portugueses na página do Ministério dos Negócios Estrangeiros na internet.

À altura da reunião acima referida considerou-se que “não se verificam, ainda, casos registados de contaminação pelo que a situação atual em Timor não exige ainda medidas extraordinárias”, determinando-se que “todos os professores que decidam ficar em Timor, deverão permanecer nos distritos, (com exceção dos professores do Oecusse) mantendo a calma e serenidade possíveis”. Em face do expectável agravamento da situação sanitária há, pois, que dar sequência ao compromisso igualmente assumido na reunião, em cujos termos “em situação de possível emergência/calamidade, o governo português assumirá as suas responsabilidades”. É este o momento.

(Nome mantido sob anonimato)


REGRESSO DE DOCENTES QUE SE ENCONTRAM A TRABALHAR EM MOÇAMBIQUE E TIMOR-LESTE

Na sequência dos contactos que estabeleceu com membros do Governo, a FENPROF foi informada que estão a ser desenvolvidas todas as diligências, algumas não apenas logísticas, mas, também, diplomáticas, no sentido de garantir o regresso de todos os docentes que se encontram em Moçambique e Timor-Leste. Estará mais próxima a resolução da situação em Moçambique, mas o mesmo deverá acontecer em Díli.

 

O Secretariado Nacional da FENPROF