Nacional
Duas Palavras

Assim não, senhor Ministro!

03 de dezembro, 2004

A educação é em si mesma a base alicerçante e estruturante de uma sociedade. Sabe-se que só com a Educação a sociedade se valoriza; só a educação permite que as pessoas possuam um vasto conjunto de saberes que vão desde o domínio cognitivo-intelectual ao domínio puramente técnico-prático; só a educação permite que as pessoas cresçam e convivam adquirindo um melhor conhecimento da Realidade, construindo um saber capaz de se posicionar criticamente em relação ao Mundo. Os Governos e governantes, atentos e com sentido de estado, desde sempre sentiram que a educação é tarefa imprescindível à construção do Bem Social, e que uma sociedade sustentada no conhecimento e no saber será mais Democrática, mais Livre, mais Solidária, mais Justa, e porque não dizê-lo, será mais produtiva permitindo ao país o seu efectivo desenvolvimento.

O desenvolvimento de um país, hoje em dia, é visto (de uma forma muito simplista) pela produtividade e competitividade. Estes dois conceitos estão, a meu ver, directamente relacionados com o grau de habilitações profissionais tanto dos trabalhadores como dos empresários, estão directamente relacionados tanto com as competências profissionais na construção de um produto, como do modelo e modos de gestão empresarial.

É neste sentido que podemos reflectir sobre as políticas da educação que têm sido desenvolvidas em Portugal. Em termos gerais essas políticas não possuíram uma orientação estratégica de valorização do papel da escola na sociedade. E hoje, com as políticas deste Governo, mais se acentua esse desinteresse e desinvestimento da Educação / Formação.

Para se valorizar a educação, há, primeiro, que prestigiar e dignificar o papel dos agentes educativos, que são na primeira instância os professores, porque são eles os elos fundamentais da cadeia que conduz a sociedade para o progresso; são os professores os promotores do desenvolvimento, são a força motriz, os actores privilegiados que orientam para a mudança. Sem eles qualquer reforma/alteração será infrutífera. Há que valorizar o papel da escola, escola livre e democrática, solidária e verdadeiramente integrativa, escola onde existe um sentimento de pertença comum, verdadeira escola comunidade. Espaço Comum de professores, alunos, funcionários, técnicos, pais,...que partilhem todos o mesmo espírito, o da vivência comum e da aprendizagem mútua.

Ora, esta ideia não se constrói com políticas que pretendem:

  • Destruir o verdadeiro papel do professor, transformando-o num simples ?funcionário? da educação;
  • Construir um modelo empresarial nas escolas como se fossem simples fábricas fazedoras de ?produtos?;
  • Criar modos de gestão profissional, sem a intervenção democrática de toda a comunidade educativa;
  • Ver a escola como um simples local onde a vertente ?racio financeiro/ produto conseguido? é mais importante do que todas as aprendizagens e relações vivenciadas;
  • Continuar com escolas sobrelotadas de alunos e instalações sem as condições mínimas para o trabalho pedagógico;
  • Continuar com turmas com número exagerado de alunos, inviabilizando o processo ensino aprendizagem;
  • Continuar com milhares de professores em situação precária de emprego;
  • Continuar com milhares de professores no desemprego;
  • ...

Assim não Sr. Ministro! Assim não se valoriza a educação, não se entusiasma a mudança, não se constrói a sociedade que todos queremos no futuro. Por isso Sr. Ministro, ouça os professores, ouça a escola, a comunidade educativa, ouça quem representa a classe docente e partilhe verdadeiramente, sem demagogias e autismos, o sentido de mudança.

 

Fernando Vicente