Nuno Crato terá decidido retomar uma prática de antecessores seus, entrando na Escola Secundária da Moita pela porta dos fundos, apesar de ter à sua espera, na entrada principal, representantes das “entidades oficiais” e garantidas condições de segurança pelos militares da GNR ali presentes. Acontece que também tinha à espera professores da escola, professores desempregados e professores do 1.º Ciclo que protestavam contra o aumento do seu horário de trabalho. Faltou dignidade ao ministro para entrar por onde entra quem não deve, logo, não teme! Isto é, por onde entram os que podem andar de espinha direita, para usar uma expressão que era tão do agrado de Passos Coelho antes de chegar ao governo.
A história conta-se com brevidade:
- A direção do Agrupamento de Escolas da Moita tinha organizado um almoço para dia 9 de setembro, que, dada a escassez de inscritos, não se realizou;
- Em sua substituição foi organizado um convívio que incluía um beberete, sendo os professores convocados para uma reunião geral de professores a realizar às 12 horas;
- Entretanto, soube-se que, à mesma hora, haveria uma visita do ministro que se dirigiria aos professores em sessão a realizar na escola;
- Por sms e mail os professores decidiram apresentar-se de luto, concentrando-se à porta da escola antes da chegada do ministro. Contactaram com o Secretário-geral da FENPROF solicitando que os acompanhasse no protesto, o que aconteceu;
- Assim, até às 12 horas várias dezenas de professores daquele agrupamento estiveram presentes, tendo também comparecido diversos professores desempregados. Ali aguardaram até alguns minutos depois das 12 horas, tendo, contudo, sido obrigados a dirigirem-se para o interior da escola secundária (sede do agrupamento), pois teriam de comparecer na reunião convocada;
- O ministro chegou atrasado, tendo entrado pela “porta dos fundos”, o que foi do conhecimento prévio dos professores que permaneciam junto à entrada principal. A decisão de ali permanecer deveu-se ao facto daquela ser a porta principal de entrada na escola, logo, a que, com mais dignidade, dá acesso às instalações. Acontece que, para a delegação oficial, o protesto falou mais alto do que qualquer entrada digna na escola;
- No interior da escola, os jornalistas foram autorizados a acompanhar o ministro na breve visita que fez e a recolher as suas declarações, sendo-lhes vedado o acesso à sessão em que o ministro se dirigiria aos professores;
- Nas declarações que fez à comunicação social, Nuno Crato disse desconhecer o protesto que o aguardava à porta da escola – ficando no ar a ideia de a entrada pela “porta dos fundos” ser a sua opção de acesso às escolas – afirmando ainda que seriam os sindicalistas quem protestava. É verdade que a FENPROF esteve presente, representada pelo seu Secretário-geral, por ser essa a vontade dos professores da escola que quiseram protestar contra o ministro e as suas políticas de destruição da Escola Pública e de ataque violento aos professores. Mas quem ali permaneceu foram os professores que se reveem na sua mais representativa organização sindical, não se revendo, isso sim, nas atuais políticas educativas e nos seus decisores;
- Na sessão – e entende-se porque foi vedada aos jornalistas – Nuno Crato foi ouvido em silêncio e apenas um número muito restrito de presentes decidiu bater-lhe palmas, o que contrastou com a ovação que, entre outros, foi dirigida pelos professores à Presidente do Conselho Geral que também interveio;
- É ainda de assinalar, o “respeito” que o MEC e a direção do agrupamento demonstraram pela comunidade educativa, ao ponto de a autarquia nem ter sido informada prévia e oficialmente da presença do ministro no concelho;
- Outra aspeto que se questionava no final era ainda a origem do dinheiro para o beberete oferecido, sabendo-se que as dificuldades financeiras do agrupamento até levaram a que tivesse sido pedida a cada aluno uma resma de papel. Alguns professores que são pais de alunos da escola revelavam grande indignação por essa aparente contradição, afirmando que, afinal, só não há dinheiro para algumas coisas;
Em suma, os membros do governo, onde se inclui, naturalmente, a equipa do MEC, podem continuar a afirmar que os protestos não são genuínos, mas fazem-no apenas para seu contento. É que os professores estão mesmo indignados com a política de destruição da sua vida enquanto profissionais, pais e cidadãos e opõem-se com grande veemência aos violentos ataques que estão a ser desferidos contra a profissão e à opção de desmantelamento da Escola Pública em nome de interesses privados que, também no MEC, estão a ser servidos de cócoras pelos governantes.
É natural que esta forma ilegítima e indigna de governar desvie o ministro da Educação para a “porta dos fundos” das escolas que visita.