Todas as notícias
Beatriz Martinho SPGL

A Educação está de luto com a pretensa Reforma da Educação Especial e do Apoio Sócio ? educativo

24 de março, 2004

Venho aqui partilhar convosco a angústia de uma professora de educação especial há já 22 anos, mas angústia esta não espartilhada pela derrota.

A vontade desprezível deste Governo, porque despreza direitos, interesses e valores fundamentais, retirando as crianças com necessidades educativas especiais das escolas de todos, através de um decreto que em breve será aprovado, e que vai dar a estas crianças e jovens um sistema educativo paralelo ao das restantes crianças, fez-nos entrar em fase de luto.

Também porque restringe na globalidade o conceito de necessidades educativas especiais, para pôr de fora das medidas de educação especial a maior parte das crianças, que hoje estão a ser apoiadas.

Também porque viola a escola inclusiva, instituindo a exclusão como regra e a inclusão como excepção, muito embora diga, pretender o contrário, encaminhando para as instituições de Educação Especial muitos dos alunos que hoje frequentam as Escolas Regulares.

Mas se a fase de luto serve para chorarmos a nossa dor, também serve para dela sairmos com a força renovada feita de luta.

Luta iniciada há dezenas de anos, para que a inclusão seja o direito destas crianças que amamos sem restrições, destas crianças que nos ensinam a conhecer e a respeitar a diferença, destas crianças que nos dizem que nelas as áreas Fortes crescem com o amor que lhes dá quem nelas acredite, destas crianças que nos ensinam a ser solidários com quem precisa de mais ajuda, destas crianças que como as outras formarão a sociedade de amanhã, mais justa, mais verdadeira, mais democrática.

Sempre com o envolvimento dos Pais e professores.

Sempre com os apoios técnicos que o Ministério teima em não conceder.

Sempre com a disponibilidade das equipas multidisciplinares que continuam a não existir.

As Crianças com necessidades educativas especiais podem muitas vezes só gritar em surdina, mas mesmo assim os seus gritos ecoam ao sabor dos seus direitos, consignados na Constituição da República Portuguesa, na Declaração de Salamanca, dos direitos que nós professores de educação especial, sempre lhes reconhecemos e com os quais construímos, dia-a-dia, a cidadania para todos.

O querer sair do casulo da existência, direito que lhes assiste, querer este que nos envolve também, professores, e que através deste Ante-Projecto, tornado proximamente Decreto-Lei da Reforma da Educação Especial e do Apoio Sócio ? educativo, nos é coarctado, condicionado pelas pressões e imposições de toda a ordem, que vai levar, na maior parte das situações, a um corte dramático na sequência do trabalho pedagógico.

Quero continuar a emocionar-me no trabalho com as minhas Crianças, quero ajudá-las a crescer, ajudá-las a fazerem-se respeitar na vida que é delas, no meio de todos nós, no país que treme de frio por falta de calor dos homens que nos governam, mas no qual continuarei a lutar de mãos dadas convosco, de mãos dadas contigo FENPROF, onde a nossa força engrandece feita Maria Fonte, na conquista de uma vida onde a inclusão seja prática de excelência.