Nacional
Entrevista ao SG da FENPROF

Porque se justifica agora uma manifestação dos Professores ?

21 de janeiro, 2013

"Esta grande Manifestação (já no próximo sábado) ditará o que se vai seguir, quer no que respeita à luta, quer em relação ao que o governo irá efetivamente fazer", destaca Mário Nogueira numa entrevista à página eletrónica da FENPROF. O Secretário Geral da Federação realça ainda que a Manifestação Nacional de Professores "assume uma enorme importância, maior ainda depois de conhecido o relatório do FMI e do governo."  E acrescenta: "O governo atirou o barro à parede divulgando-o para perceber até onde as pessoas o “comiam”. Os seus níveis de concretização ou mesmo a sua concretização vai depender da reação que houver."

1.
Num recente depoimento ao site da FENPROF, afirmaste que “neste país roubar não é problema desde que sejam os poderosos a roubar ou se roube para eles. Roubados, tanto podem ser as pessoas honestas que trabalham, como o Estado, que é como quem diz, todos os cidadãos.” Esta tem sido a imagem de marca da política do governo? Até onde irão nesta fúria destruidora?

Mário Nogueira (MN): Se depender da vontade dos poderosos, não haverá limites ao roubo, como se comprovou, há dias, com o anúncio de um novo pacote de medidas, constantes num relatório do FMI pedido pelo governo português. Para inverter este caminho só há uma solução, a luta contra este imenso disparate. Não será fácil esta luta, mas todos já percebemos que esperarmos que as coisas se alterem por si (ou por eles) seria um autêntico disparate. Este caminho, a não ser travado, leva Portugal e os portugueses à desgraça.


2.
Porque é importante o Estado? Não há uma ideia geral da população de que pagam muito para ter muito pouco do Estado?

MN: É verdade isso, mas porque sucessivos governos desbarataram os dinheiros públicos, não o utilizando para o bem-estar das pessoas. Esse dinheiro, que é dos contribuintes, foi usado para fins alheios aos seus interesses. Foi o BPN, foram os privilégios de gestores públicos, foram as tais PPP ruinosas, foi um regabofe, mas não para os trabalhadores ou os cidadãos que, legitimamente, recorriam aos serviços públicos. Portanto, a questão tem de colocar-se de outra forma: se eu pago os meus impostos por que tenho cada vez menos contrapartidas em serviços essenciais como a Saúde, a Educação, a Segurança Social, a Justiça, a energia? Esse é o problema. Em minha opinião, os que delapidaram os dinheiros públicos deveriam ser exemplarmente punidos.


3.
Nuno Crato parece dar-se bem com as restrições e a ditadura do M. das Finanças e do FMI. Mas é ainda, teoricamente, o responsável da pasta da Educação. Depois de conhecido o “relatório” do FMI, achas que terá a dignidade de se afastar?... Ou Crato faz parte desta grande mentira que se chama governo de Portugal?

MN: Faz parte, claro. Dele nunca se ouviu uma palavra de demarcação. Crato, já se viu, é um bluff para a Educação, mas um ótimo funcionário das finanças e dos interesses estrangeiros que ingerem no nosso país. Este ministro está ao nível do que pior se faz em política: não assume a verdade das coisas e limita-se a encontrar argumentos para justificar o injustificável. O problema é que está a pactuar com esta grande mentira que foi montada sobre Portugal, sendo um dos principais responsáveis pelo desemprego brutal que se abate sobre os professores e pelo processo de destruição da Escola Pública que está a ser montado.


4.
Os professores vão voltar à rua a 26 de janeiro. Confirma-se, pelas notícias recentes (“relatório” do FMI, declarações dos governantes, etc) que o protesto é inevitável. Há sinais de que a mobilização está a crescer, voltando a haver escolas a pedir autocarros para transportar os seus professores. Os professores estão conscientes desta grave situação e, finalmente, a acordar para a necessidade de regressar à rua e ao protesto?

MN: Como nós sempre dissemos, o governo e os seus acólitos não dormem. Eles estão atentos e percebem quando têm espaço para apertar mais um pouco. Fazem-no de forma particularmente violenta desde 2011. Cortaram os salários, roubaram os subsídios, agravaram os horários de trabalho, provocaram desemprego, criaram estúpidos mega-agrupamentos, empobreceram currículos… ou seja, fizeram trinta por uma linha porque perceberam que o protesto foi ficando aquém do que se esperaria. Se é verdade que a participação dos professores na ação geral (nas grandes manifestações, na Greve Geral…) foi bastante melhor que em momentos anteriores, também é verdade que deveria ter atingido níveis mais elevados. Estou certo que todos já perceberam ser necessário regressar à rua e ao protesto.


5.
Porque se justifica uma manifestação dos Professores, neste momento preciso?

MN: A Manifestação Nacional de Professores, convocada para 26 de janeiro, assume uma enorme importância, maior ainda depois de conhecido o relatório do FMI e do governo. O governo atirou o barro à parede divulgando-o para perceber até onde as pessoas o “comiam”. Os seus níveis de concretização ou mesmo a sua concretização vai depender da reação que houver. E é assim que dia 26 se torna tão importante. Será o primeiro dia do resto da nossa luta, pelo que esta grande Manifestação ditará o que se vai seguir, quer no que respeita à luta, quer em relação ao que o governo irá efetivamente fazer.