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Rankings de escolas são, mais do que nunca, uma farsa. Lamentavelmente, nem os condicionalismos decorrentes da pandemia levaram o ME a não contribuir para a catalogação das escolas

21 de maio, 2021

Aí estão eles, de novo, os rankings, pelo vigésimo primeiro ano consecutivo! E, pela vigésima primeira vez, a FENPROF reafirma o seu desacordo com uma iniciativa que procura reduzir os indicadores de qualidade das escolas aos resultados dos alunos em exames. Para além de mistificadora e demagógica, a catalogação das escolas como boas ou más, melhores ou piores em função daqueles resultados é de uma enorme injustiça para o trabalho desenvolvido em cada uma delas por docentes, não docentes e alunos. Isto, para além de confundirem a opinião pública e as famílias, com informação tão redutora, parcelar e distorcida.

Toda esta propaganda – bem do agrado de colégios privados e de alguma imprensa que, à custa dos rankings, consegue amealhar muita publicidade paga pelos empresários do setor – não facilita, antes dificulta o trabalho das escolas, em particular das que, encontrando-se em zonas de maior complexidade social, são rotuladas de piores. Como a FENPROF tem afirmado, tal rótulo não constitui um estímulo para essas escolas, antes as torna alvo de discriminação, desmoralizando alunos, professores e pais. Recorda-se que a primeira divulgação dos rankings de escolas em Portugal aconteceu em 2001, precisamente no mês em que o País de Gales anunciava que iria abandonar a sua divulgação. 

De há uns anos para cá, alguma imprensa – que, há semanas, destacou jornalistas para elaborarem o catálogo – alega que utiliza critérios que procuram mitigar diferenças decorrentes de uma leitura descontextualizada dos números, por exemplo, utilizando indicadores relativos ao valor esperado de contexto e à progressão dos resultados dos alunos; porém, tais indicadores estão muito longe de traduzir a complexidade da realidade ou de tornar credível e legítima esta suposta avaliação das escolas.

Recuperando o que tem sido afirmado por académicos, por exemplo, em 2004, o CIPES (Centro de Investigação das Políticas do Ensino Superior, da Fundação das Universidades Portuguesas), no estudo “Um Olhar sobre os Rankings”, assinalava muitas das deficiências da seriação que é feita, considerando a sua divulgação como uma “calamidade pública”; no ano seguinte, durante a apresentação do estudo de investigação realizado no âmbito do Programa AVES (Avaliação de Escolas com Ensino Secundário), os investigadores criticaram a organização destes rankings, por constituírem a imagem mais 'liofilizada e ignorante' que se pode ter sobre o que é uma escola.

Se a divulgação dos rankings foi sempre muito injusta, este ano ela torna-se ainda mais perversa, lembrando a FENPROF que os resultados considerados foram obtidos após meses de ensino a distância, em que, como é consensualmente reconhecido, dispararam as desigualdades, com muitos alunos sem condições para acompanharem as aulas remotas, por falta de equipamentos, de acesso à Internet ou de apoio adequado para superar dificuldades, incluindo a falta de autonomia digital. Convirá acrescentar que esses são os alunos que não frequentam os colégios privados, que ocupam os primeiros lugares do catálogo, não só por falta de condições financeiras das famílias, mas, também, por neles serem recusados.

Em tempo de pandemia, que levou à aprovação de tantas medidas excecionais, nos mais diversos domínios (na Educação, foram, até, suspensos alguns exames, provas finais e provas de aferição), a FENPROF lamenta que o Ministério da Educação tenha disponibilizado os dados que levaram à elaboração de listas ordenadas das supostas melhores e piores escolas secundárias, associando-se a mais um dos muitos ataques que são desferidos a uma Escola Pública que, graças ao elevado sentido de responsabilidade, também social, dos seus profissionais, a todos tem resistido.

 

O Secretariado Nacional