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A Escola não é isto! - Parte II

[Como na sala de aula] Também a distância o professor é insubstituível

27 de maio, 2020

Os professores perceberam que o ano letivo não terminara em 13 de março e rapidamente se preparam para uma resposta que passaria a sujeitar-se a uma distância necessária de ultrapassar. A tutela fez o mais fácil que foi tomar a decisão, os professores fizeram o mais complicado: tiveram de adquirir equipamentos adequados, aumentar velocidade e capacidade da Internet familiar e aprender a trabalhar num terreno nunca antes pisado, pelo menos de forma generalizada e contínua.

A sua casa transformou-se em local de trabalho onde foi necessário partilhar recursos com os que estavam ali consigo, desta vez aproximados pela distância; houve / há filhos para acompanhar e, muitas vezes, pais para apoiar; continua a haver uma disponibilidade total que dá vida ao computador às oito da manhã e não deixa descansar o telemóvel, quantas vezes às onze da noite … Criou-se, assim, um estranho cocktail que mistura família e trabalho, tendo, em muitos/as casos/as, sido abolidas fronteiras entre esses territórios, levando a que os habitantes de um e outro passassem a cruzar-se com demasiada frequência, chocando por vezes, e isso não tem sido bom.

Alguns conseguiram reduzir a distância que passaram a ter dos seus alunos, principalmente a partir do momento em que puderam contar por quadradinhos no écran um número igual ao que contavam na sala de aula; outros, ainda hoje procuram alguns dos seus alunos, duvidam do compromisso de outros que parecem ausentes em presença e sofrem com a impossibilidade de poder dar, aos que precisavam e esperavam, todas as respostas que as suas especificidades exigiam. Tudo isto acontece sob uma cascata de orientações, disposições legais, instruções, monitorizações, plataformas e outras aplicações, umas vezes repetindo anteriores, outras vezes contrariando-as e, quase sempre, deixando perceber uma mal disfarçada desconfiança no seu empenhamento.

Com as escolas fechadas, que se podia fazer para além disto? É certo que (quase) nada, mas não haja ilusões: o ato educativo assume a sua máxima expressão na sala de aula, onde todos, presentes, se olham e com cumplicidade se entendem, tanto nas dificuldades, como na ânsia de ir mais além. Só quem não é professor pode achar outra coisa. O que está a ser feito dá para evitar o vazio e vale por isso, mas é nele que arriscam a cair os que, exaustos, se aproximam da tal linha vermelha. Resta-lhes tentar, antes de a pisarem, entrar no planalto que irá proporcionar alguma estabilidade até ao momento de voltarem a abrir a porta da sala de aula. No meio de tudo isto, reforça-se a certeza de que, na sala de aula, mas, também, a distância o professor é insubstituível.

 

Mário Nogueira

Secretário-geral da FENPROF