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A Escola não é isto! – Parte I

Um contexto estranho e socialmente complexo

25 de maio, 2020

Em tempo de pandemia, com as aulas presenciais suspensas desde 16 de março, apenas retomadas parcialmente há dias, nada é semelhante ao habitual. Estamos a viver um tempo tão estranho que, alguns, poderão ser levados a pensar tratar-se, apenas, de uma curta pausa numa normalidade que segue dentro de momentos.

Não será assim e, pelo contrário, abriram-se brechas que poderão provocar graves ruturas (económicas, sociais, culturais, entre outras), com profundas implicações na vida de cada cidadão, de cada família e do próprio Estado, pondo em causa a sua capacidade para garantir as indispensáveis funções sociais que lhe estão acometidas, entre elas a promoção de uma Escola Pública de qualidade para todos e inclusiva, que seja garante de igualdade de oportunidades.

A importância das funções sociais do Estado tornou-se, ainda, mais percetível neste tempo difícil que estamos a atravessar, no qual o Serviço Nacional de Saúde está a responder de forma absolutamente louvável. O mesmo acontece na Educação onde quase todos deram as respostas necessárias, mas à Escola Pública coube o desafio maior de não deixar de fora aqueles que, por fatores da mais variada natureza, estão mais fragilizados, hoje em condições perigosamente agravadas, arrastados que foram pela torrente de pobreza e exclusão que a pandemia fez jorrar.

Os estabelecimentos de educação e ensino estão a reabrir, de forma faseada, acompanhando o gradual retorno a uma cautelosa normalidade em todos os setores da vida nacional. Os critérios que levaram à opção pelo pré-escolar e pelo secundário são discutíveis, ainda mais quando não correspondem a um único, mas ao cruzamento de interesses de natureza diversa – saúde, educação, economia e sociedade, pelo menos – que, algumas vezes, parecem colidir.

Na situação que vivemos, não poderia haver um critério prevalecente, pelo que o esforço imediato deverá ser orientado para a procura do ponto de equilíbrio entre eles, com a certeza de que, quanto mais se arrastar a excecionalidade, mais e maiores riscos correrá o futuro de todos e cada um de nós; por outro lado, quanto mais se acelerar no sentido da normalidade mais aumenta a possibilidade de surgir uma segunda vaga infeciosa, de dimensão e gravidade elevadas, atirando-nos para novo confinamento.

Neste quadro de retorno coletivo, as escolas não poderiam ficar encolhidas num canto quando delas se espera que assumam um papel socialmente relevante, ainda mais num momento em que, em apenas dois meses, dois milhões de portugueses perderam parte ou a totalidade do seu rendimento, ficando em layoff ou caindo no desemprego, com os índices de pobreza e exclusão a dispararem e a invadirem a casa de um número elevadíssimo de famílias. Dos professores sabia-se – o passado confirma – que não iriam alienar a sua responsabilidade social e que o seu contributo teria consequências muito para além dos limites da escola, assumindo-se, também eles, pilar do tremendo desafio que se coloca a toda a sociedade e que implica cada um de nós.