Trata-se de um projecto co-financiado pelo programa europeu AGIS que visa estimular a cooperação entre países no domínio da redução da criminalidade e que está a ser coordenado pelo Serviço de Atenção Família, em Alicante, Espanha.
Para o desenvolvimento deste estudo, a equipa portuguesa - que trabalha em parceria com a Associação Portuguesa de Terapia Familiar e Comunitária - convida as escolas portuguesas a preencher até 15 de Junho um questionário confidencial sobre o absentismo dos seus alunos.
Aos directores de turma é pedido, por exemplo, que identifiquem quais os alunos que faltaram às aulas durante o ano lectivo 2004-2005, os casos que os preocupam e ainda quais os alunos cujas faltas são de tal forma preocupantes que poderão prejudicar a vida pessoal e educativa do aluno.
Para perceber em que momento escolar o absentismo é mais acentuado, o questionário é aplicado aos alunos do 1º ao 12 º ano.
O questionário semelhante ao dos restantes países que participam no estudo está disponível no "site" da Universidade Autónoma de Lisboa e os dados recolhidos são confidenciais, servindo apenas para a investigação internacional, cujos resultados preliminares serão divulgados em Novembro.
Em declarações à Lusa, Célia Sales explicou que o trabalho pretende fazer um levantamento do absentismo e do abandono escolar, assim como a sua relação com a delinquência juvenil, para que no futuro possam ser desenvolvidos projectos de intervenção à escala europeia.
"No fundo é perceber com o que estamos a lidar e ajudar as escolas a conhecer a sua própria realidade", disse.
A recolha de dados das escolas portuguesas, adiantou, e a participação de Portugal num estudo desenvolvido com outros parceiros europeus evita que sejam tomadas decisões apenas com base na realidade dos outros países.
Portugal é o país da união europeia com a mais elevada taxa de abandono escolar precoce (41,1 por cento), mais do dobro da média europeia (18,1 por cento).
Segundo um relatório da Comissão Europeia, a situação portuguesa só é ultrapassada por Malta.
O absentismo escolar, explicou, não é muito conhecido: há o aluno que falta às aulas mas permanece na escola, o outro que sai da escola e por último aquele que abandona o ensino para ir trabalhar.
"A situação é sinalizada, mas queremos perceber como é feita essa sinalização e o que a escola faz", disse.
Ao participarem neste estudo, que tem como parceiros o centro de formação concelhio do Fundão e ainda as comissões de protecção de menores de Sintra Oriental e Lisboa Oriental, as escolas têm a vantagem de ver compilados e tratados dados que já dispõem sobre o percurso dos seus alunos.
As escolas, os agrupamentos de escolas, as forças de segurança e as comissões de protecção de crianças e jovens passam a ter dados que ajudam a planear medidas locais de prevenção e redução do absentismo escolar e da delinquência juvenil.
Objectivo é usar os resultados
na formação de professores
Os dados recolhidos sob o ponto de vista demográfico, escolar, familiar e social no ano lectivo de 2004/2005 serão depois comparados com os resultados obtidos nos países europeus envolvidos no estudo de forma a produzir informação que sustente o desenvolvimento de políticas europeias de prevenção e redução dos dois problemas.
Além do estudo, o projecto europeu visa também estimular a colaboração entre a polícia e a escola e fomentar a troca de informação e colaboração entre projectos existentes em diferentes países da Europa.
O objectivo de estabelecer uma ligação entre as forças de segurança e as escolas, explicou Célia Sales, é acabar com a ideia instalada de que "quando se chama a polícia é porque já estamos no fim da linha e já se fez tudo".
"Não tem de ser assim. O polícia pode ser aliado para planear a intervenção mesmo até antes dela acontecer".
Num artigo publicado nos "sites" dos outros parceiros no estudo e com o título "o amigo ou o inimigo azul", Célia Sales fala desta relação com os polícias.
Segundo a investigadora do departamento de psicologia da Universidade Autónoma de Lisboa, o papel da polícia tem de passar pelo controlo de situações que coloquem em risco a nossa integridade física, mas não se esgota aí.
"É preciso ver para além do urgente e reflectir nos outros papéis que a polícia exerce na sociedade".
Lusa, 1/06/2005