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Três notas sobre a luta dos Professores

24 de março, 2008

Mário Nogueira, Secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (FENPROF)

Correio da Manhã, 21 Março 2008

1 - A luta dos professores não se esgota nas questões da avaliação ou do seu estatuto profissional e de carreira. Profissionais que vivem quotidiana e intensamente a escola preocupam-se e indignam-se com políticas educativas que a atingem e ferem. Daí contestarem o subfinanciamento a que está sujeita, o modelo de gestão que cerceia a participação e reduz ainda mais a autonomia, as novas regras sobre Educação Especial que põem em causa princípios essenciais da escola inclusiva, os arremedos de resposta social que tão pomposa como falsamente os governantes chamam de escola a tempo inteiro? A luta dos professores é, pois, por uma escola pública de qualidade que seja capaz de responder, satisfatoriamente, às exigências da vida e às necessidades dos alunos e das suas famílias. Ou seja, os professores defendem a mudança no sentido do progresso; no Ministério da Educação (ME) pretende-se mudar dando passos atrás.

2 - Ser a favor ou contra a avaliação é questão que não ocupa tempo aos professores. Discute-se, isso sim, o modelo, sendo claro que todos os defensores de uma avaliação séria e rigorosa, que promova as boas práticas profissionais, se demarcam do modelo que o ME impôs. Mas, modelos à parte, iniciar agora o processo de avaliação: é irresponsável perante a escola, pois obrigará os professores, no terceiro período, a desfocarem a atenção dos seus alunos que, nessa altura, necessitam deles como em nenhuma outra; é incorrer num quadro de ilegalidade que aumenta se forem adoptados procedimentos não previstos na lei em vigor; seria promover a balbúrdia, caso cada escola avaliasse como muito bem entendesse, criando um quadro de desigualdades que, facilmente, se traduziriam em injustiças. É curioso que, sobre esta, como noutras matérias, os responsáveis do ME recusem o debate público com a Fenprof. Claro que é sempre mais simples falar sozinho, mas ? caramba ? quem não deve não teme? e ajudaria a esclarecer!

3 - Na Marcha da Indignação havia novos e idosos, desempregados e aposentados, contratados e professores dos quadros? Estavam lá quase todos. Muitos dos que se manifestaram não o fizeram por razões de carreira (estão no topo) ou de estabilidade (estão colocados à porta de casa), mas foram? foram por se sentirem, de facto, indignados. Indignação própria de quem não está para continuar a ser desconsiderado e desrespeitado por uma equipa ministerial que já não aguentam... Os professores estiveram presentes por quererem dizer 'basta!'. Disseram e sentiram um enorme orgulho por se terem encontrado para o dizer. É uma grande honra, um privilégio, fazer parte desta classe profissional e poder representá-la.