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Um alerta da UNICEF

400 milhões de crianças sem acesso a água potável

27 de março, 2006

Enquanto os dirigentes mundiais se encontram para debater possíveis soluções para a crise mundial da água, uma reunião histórica de crianças e jovens lançou um apelo urgente para os 400 milhões de crianças que sobrevivem sem água salubre.

Este apelo à acção foi entregue pelos jovens participantes no Fórum Mundial das Crianças sobre a Água (Children's World Water Forum - CWWF), aos ministros dos governos representados no 4º Fórum Mundial da Água que decorreu na Cidade do México.

Mais de 100 jovens activistas dos países mais pobres e do mundo industrializado participaram no CWWF, uma autêntica tribuna para as crianças fazerem ouvir o que têm a dizer sobre um tema tão importante como a água.

"As doenças provocadas pela água matam uma criança a cada quinze segundos e estão associadas a muitas outras doenças e à má nutrição," afirmou a Directora Executiva da UNICEF, Ann M. Veneman, em Nova Iorque. "As soluções que vierem a ser adoptadas para os problemas da água a nível mundial devem assegurar as condições necessárias para que as crianças sobrevivam, se desenvolvam, aprendam e vivam com dignidade."

O CWWF foi organizado conjuntamente pela UNICEF, o Instituto Mexicano de Tecnologia, o Fórum para a Água do Japão e a organização Project WET sedeada nos EUA. Muitos dos jovens participantes conseguiram ultrapassar enormes dificuldades para melhorar as condições relativas à água e à higiene nas suas próprias comunidades, onde a água potável é um luxo inestimável.

"No lugar onde vivo, muitas crianças não vão à escola por causa das doenças que apanham através da água que bebem e das mãos sujas," afirmou Dolly Athter, uma jovem de 16 anos que vive num bairro-delata no Bangladesh e que tem participado em acções de sensibilização sobre higiene. "Estamos aqui para lembrar aos dirigentes que devem tomar medidas para proteger a nossa saúde e educação. Nós temos esse direito e eles têm essa responsabilidade."

As crianças são as principais vítimas de um mundo sem condições de higiene onde mais de mil milhões de pessoas lutam diariamente pela sobrevivência sem água própria para consumo, e uma em cada três pessoas não tem acesso sequer à mais elementar instalação sanitária. As diarreias comuns afectam as crianças menores de cinco anos mais do que qualquer outra doença, causam a morte a 4.500 crianças por dia (a segunda causa da mortalidade infantil) e deixam muitas mais à beira da sobrevivência.

As principais necessidades sociais como a educação estão estreitamente relacionadas com a água potável e a higiene. As doenças com origem na água consomem as energias e a capacidade de aprendizagem das crianças. Todos os dias, nos países em desenvolvimento, há imensas crianças que não vão à escola por causa de doenças como a diarreia e os parasitas intestinais. Por outro lado, a falta de instalações sanitárias decentes e diferenciadas nas escolas é um obstáculo à escolarização de muitas raparigas.

Uma criança que cresce nestas condições tem muito poucas hipóteses de escapar à pobreza, afirmou Ann Veneman. As comunidades pobres vêem o seu potencial humano depauperado por doenças constantes e pela morte. O subdesenvolvimento crónico é uma consequência inevitável. Estima-se que os dias perdidos de escola ou de trabalho representem uma perda de produtividade anual de cerca de 63 mil milhões de USD.

A UNICEF apoiou a vinda de jovens da África, Ásia, Europa e América Latina ao CWWF para que dessem a conhecer a sua experiência de luta diária contra a falta de água e saneamento - experiências como a de Dolly Akther num programa de educação para a higiene das crianças num bairro-de-lata do Bangladesh, em que ensina como devem manter as mãos e as casas limpas, e a de Ojulo Okello, um rapaz de 11 anos que, no rescaldo da guerra civil na Etiópia, luta para conseguir o acesso a instalações sanitárias e água potável na sua escola. A estas e mais 13 000 crianças foi pedido que partilhassem as suas experiências na página web interactiva da UNICEF, Voices of Youth (A Voz dos Jovens).

Diferentes regiões, diferentes desafios para a água

Os testemunhos das crianças reflectem o amplo leque de desafios associados à água que enfrentam nas suas regiões de origem.

Na África Sub-Sariana, décadas de conflitos, a má gestão da terra pobre e o impacte da mais recente seca que assolou o Sul do continente deixou a maior parte das crianças à mercê de uma grave escassez de água. Mais de 42 por cento da população não tem acesso à água potável e apenas 36 por cento têm acesso a instalações sanitárias. Esta região é a única que está muito aquém dos objectivos de desenvolvimento em matéria de água e saneamento.

No Sul e no Leste da Ásia o saneamento é o principal problema. Mais de metade das pessoas que não têm acesso a instalações sanitárias vive na Índia e na China - 1.5 mil milhões no total - criando assim um ambiente poluído com dejectos humanos. A qualidade da água constitui outra ameaça significativa e crescente para as crianças da região. Os contaminantes perigosos que estão presentes na água subterrânea, tais como o arsénico e o flúor constituem um grave risco para a saúde de 50 milhões de pessoas.

Na Europa Central e de Leste, as reservas de água estão a diminuir na sequência das alterações ambientais, e os sistemas nacionais de água estão a esforçar-se por dar resposta a essa situação. Dados os acentuados desequilíbrios no acesso e na falta de cooperação regional para gerir os recursos hídricos existentes, as crianças mais pobres estão a ficar para trás.

Na América Latina, existem desigualdades extremas nos serviços de água e saneamento tanto dentro de cada país como entre os vários países da região. Os serviços de água e saneamento são muito piores para as crianças nas áreas rurais do que para as que vivem nas cidades. Em toda a região, a pobreza e a exclusão social significam que aos grupos indígenas e minoritários são privados, em muito maior escala, do seu direito a estes serviços.

Ann M. Veneman afirmou que o Dia Mundial da Água (22 de Março) constitui uma oportunidade para medir os nossos progressos relativamente ao compromisso global de reduzir para metade a percentagem de pessoas que vivem sem água potável nem saneamento básico até 2015 - o sétimo Objectivo de Desenvolvimento do Milénio. Cumprir esta promessa significa trazer as crianças para o centro do planeamento e das políticas da água e proporcionar os mais rápidos progressos nas taxas de saúde e de educação nacionais.

A UNICEF e a água

Desde os anos de 1960, a UNICEF tem estado presente no terreno fornecendo água potável, educação para o saneamento e a higiene para as crianças em mais de 90 países em África, na Ásia e nas Américas, a fim de as ajudar a sobreviver e desenvolver-se. Quer seja através da perfuração de poços manuais no Haiti, da instalação de latrinas para as raparigas em escolas da Etiópia, do melhoramento da qualidade da água na Índia, o fornecimento de água em camiões-cisterna para as zonas de desastre no Paquistão e na Indonésia, a UNICEF está na primeira linha do fornecimento destes bens essenciais às famílias.

A UNICEF é o principal fornecedor de Sais de Reidratação Oral (ORS), uma combinação simples de sais e açúcares de eficácia comprovada para reduzir drasticamente as mortes por doenças diarreicas. Em situações de emergência, a UNICEF lidera as operações das Nações Unidas para proteger as crianças contra as doenças com origem na água.

Para mais informações acerca dos projectos de água e saneamento, visite a página www.unicef.org. Na mesma página, na secção "Vídeo on Demand", estão disponíveis imagens com qualidade de emissão.

Cidade do México/Nova Iorque,
21 de Março de 2006

 

A UNICEF é, há 60 anos, a principal organização mundial que se dedica à infância no mundo, trabalhando no terreno em 155 países e territórios para ajudar as crianças a sobreviver e a desenvolverse, desde os primeiros anos de vida e ao longo da adolescência. A UNICEF, que é o maior fornecedor de vacinas dos países pobres, apoia a saúde e nutrição das crianças, uma educação básica de qualidade para todos os rapazes e raparigas, o acesso a água potável e saneamento, e a protecção das crianças contra a violência, exploração e SIDA. A UNICEF é inteiramente financiada por contribuições voluntárias dos governos, do sector empresarial, de fundações e particulares.

Para mais informações, é favor contactar:

Comité Português para a UNICEF, Helena de Gubernatis, 21 317 75 00/13
Comité Português para a UNICEF, Carmen Serejo, 21 317 75 00/12


As Crianças & a Água: Factos e Números

 A falta de água potável e saneamento é a principal causa de doença. Em 2002, uma em cada seis pessoas não tinham acesso a água potável, e 42 por cento das famílias não tinham instalações sanitárias.

As crianças não são poupadas. Cerca de 4.500 crianças morrem por dia devido à água insalubre e à falta de instalações sanitárias básicas. Muitas outras crianças têm saúde precária, reduzida produtividade e perdem oportunidades de instrução.

Os mais novos e os idosos são os mais vulneráveis. Mais de 90 por cento das mortes causadas por doenças diarreicas devido à falta de condições da água e do saneamento nos países em desenvolvimento vitimam crianças menores de cinco anos.

Os pobres são os mais duramente afectados. Uma criança nascida na Europa ou nos Estados Unidos tem 520 vezes menos probabilidades de morrer de uma doença diarreica do que uma criança nascida na África sub-sariana, onde apenas 36 por cento da população tem acesso a saneamento básico.

As disparidades entre meio urbano e meio rural são gritantes. Em 2002, apenas 37 por cento dos habitantes do meio rural tinham acesso a instalações sanitárias básicas, contra 81 por cento dos moradores em meio urbano. As maiores disparidades verificavam-se na América Latina e nas Caraíbas, com uma diferença de 40 pontos percentuais entre as populações rural e urbana.

As mulheres e raparigas são as "aguadeiras" do mundo. Em média, as mulheres e raparigas nos países em desenvolvimento percorrem a pé 6 quilómetros por dia, transportando 20 litros de água, o que reduz significativamente o tempo de que dispõem para outras tarefas produtivas ou para as raparigas irem à escola.

As doenças com origem na água mantêm as crianças afastadas da escola. Um estudo realizado junto de estudantes jamaicanos com idades compreendidas entre os 9 e os 12 anos revelou que o tempo que as crianças que sofrem de tricuríase (uma doença com origem na água) passam muito menos tempo na escola do que os seus colegas não-infectados. E quando as escolas não dispõem de instalações sanitárias, são muitas as raparigas que não vão à escola.

Melhorar a qualidade da água para consumo doméstico pode reduzir os episódios diarreicos em 39 por cento; em média, o melhoramento das instalações sanitárias das famílias pode reduzir em quase um terço a ocorrência de doença por diarreia. Quase metade dos cerca de 2 milhões de mortes por ano devido à diarreia poderia ser evitada através de conhecimentos de higiene básica.

O mundo está no bom caminho para alcançar o Objectivo de Desenvolvimento do Milénio quanto à água mas não quanto ao saneamento. À excepção da África sub-sariana, todas as regiões deverão alcançar as respectivas metas da água. Ao ritmo actual dos progressos, mais de 500 mil milhões de pessoas continuarão sem acesso ao saneamento básico.

Os ODMs são acessíveis e têm uma boa relação custo-benefício. Cumprir as metas dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio em matéria de água e saneamento custaria aproximadamente uma verba adicional de 11.3 mil milhões de USD por ano. Uma análise custo-benefício levada a cabo pela Organização Mundial de Saúde revelou que cada dólar investido para alcançar as metas dos ODMs em matéria de água e saneamento traria um retorno variável entre 3 e 34 USD consoante as regiões.

 www.unicef.pt