Educação de adultos é o grande fracasso do Portugal democrático Actual Governo, tal como os anteriores, ignora olimpicamente alfabetização da população
A educação de adultos é um dos grandes falhanços desde o 25 de Abril de 1974. No momento, está banida do discurso de política educativa. Hoje, dia em que, em todo o mundo, se comemora a alfabetização, Licínio Lima junta a sua voz à de outros especialistas em educação para lamentar o silêncio que paira na sociedade portuguesa sobre a "vergonha" dos 9% de analfabetos que continuam a existir no
nosso país. Tão vergonhoso realçou como um país que apenas tem esperado pela morte dos seus mais velhos para resolver um problema que leva um atraso de quase um século.
Presidente da Unidade de Educação de Adultos da Universidade do Minho, Licínio Lima mostra-se incrédulo em relação ao silêncio que afirma existir na sociedade portuguesa quanto à alfabetização. "Para além do Governo, a maioria dos partidos políticos tem silenciado este drama nacional, não o elevando à categoria de problema político", salientou.
Aquele sociólogo de educação alertou para o facto de os 9% de analfabetos literais (que não sabem ler nem escrever) existentes no nosso país constituírem uma média nacional. "Nos grandes meios urbanos, apesar de o número de analfabetos ser baixo, tem aumentado ultimamente, devido aos imigrantes africanos. Mas nos meios rurais, as taxas de analfabetismo são muito elevadas". Licínio Lima acredita que os grandes problemas da sociedade e da economia portuguesas só serão resolvidos com a escolarização da população.
"Este Governo não tem, em nenhum dos documentos apresentados, nem mesmo no projecto de Lei de Bases da Educação, uma referência à educação de adultos", lamentou.
No seu entender, "está na moda" falar de educação ao longo da vida, "como se ela substituísse a educação de adultos". Por outro lado, criticou a ênfase dada pelos governos à formação profissional, "apenas imediatista e tecnicista", que "não resolve os problemas do país". Desde a Revolução de Abril de 1974, os momentos "interessantes e episódicos" relacionados com a alfabetização, destacados por Licínio Lima, aconteceram logo após a revolução, em 1976 e em 1979. O primeiro aconteceu quando a então Direcção Geral de Educação Permanente apoiou os movimentos de alfabetização a nível de associativismo local. O segundo diz respeito à elaboração do Plano de Alfabetização e Educação de Base dos Adultos, abandonado em meados da década de 80.
O sociólogo lamentou que os governos anteriores tenham apenas apostado na morte da população mais velha como forma de eliminar o analfabetismo. "Não resultou, porque, entretanto, aumentou a esperança de vida e os idosos vivem mais. Isto é cínico, mas é o queestá a acontecer em Portugal ", frisou. Por outro lado, considerou que quem se preocupa com o insucesso escolar e com o absentismo dos alunos da escolaridade obrigatória esquece-se que muitos dos estudamtes mal sucedidos são oriundos de contextos familiares onde há pais e avós analfabetos.
Números
9%
analfabetos
Quase um milhão de cidadãos sem saber ler nem escrever é um "hahdicap" para o desenvolvimento do país.
35,1%
1.° ciclo
Mais de um terço da população portuguesa apenas completou o Ensino Básico.
2,8%
Em 2015
Segundo as previsões da UNESCO, a taxa de analfabetismo dentro de 12 anos em Portugal cairá para 2,8%.