Todas as notícias

Saramago promete projecto de "agitação" na Casa dos Bicos

19 de julho, 2008
A Fundação José Saramago ocupará a Casa dos Bicos em Lisboa com um projecto de "agitação" que promove a Literatura, os Direitos Humanos e o Ambiente e não leva "em ombros" o seu patrono, garantiu o escritor.

Só em circunstâncias muito excepcionais é que a Fundação José Saramago se ocupará da pessoa que lhe deu nome", afirmou o autor prémio Nobel da Literatura.

O acordo entre a fundação e a Câmara de Lisboa para a cedência da Casa dos Bicos foi hoje assinado em Lisboa, um dia depois de ter sido aprovado em reunião do executivo municipal com os votos contra do PSD e do movimento Lisboa com Carmona.

O presidente da Câmara, António Costa (PS), prevê que "nos próximos meses" a fundação possa ocupar o edifício monumento nacional do Campo das Cebolas.

Saramago comprometeu-se a "honrar a Casa dos Bicos com trabalho, com espírito de iniciativa, com vistas largas" e afirmou que um dos objectivos centrais da fundação com o seu nome é a promoção dos Direitos Humanos.

O escritor recordou que abordou no discurso de agradecimento do prémio Nobel, em Estocolmo há dez anos, a "porta que se abriu" com a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

"A porta fechou-se. É preciso abri-la, arrombá-la. É preciso agitação", afirmou.

A "agitação" do projecto da fundação estende-se à promoção do meio ambiente e da literatura, e depois de um colóquio sobre Jorge de Sena, estão previstas acções sobre a obra de José Rodrigues Miguéis, Raul Brandão e Almada Negreiros, referiu.

"É uma fundação 'sui generis' que não vai fazer o que em princípio seria a sua vocação: pegar no seu patrono, colocá-lo em ombros e passeá-lo pelo mundo", reiterou o escritor.

A presidente da fundação, Pilar del Rio, sublinhou igualmente que a instituição não nasceu para "promover a literatura de José Saramago". "Para isso existem os seus editores", disse.
"Existimos para coisas mais importantes, encontrarmos o que de mais nobre tem o ser humano: o pensamento, a agitação, a rebelião", declarou.

A fundação nasceu para "vincular emocionalmente o património literário à vida real", ao contrário do que muitas vezes sucede, quando "os livros vão por um lado e a vida por outro", afirmou.

O autarca de Lisboa confia que a "agitação" da fundação vai ajudar a promover a revitalização da zona do Campo das Cebolas e de toda a Baixa, a par de projectos como o dos futuros museus da Moda e do Design e do Banco de Portugal.

"Quanto mais aquele edifício for um centro de agitação, mais animação teremos na Baixa", afirmou António Costa.

As obras de adaptação da Casa dos Bicos deverão começar "rapidamente", depois do fim do mês, altura em que o edifício estará disponível, e serão feitas em consonância com a fundação e sob a orientação do arquitecto Manuel Vicente, responsável pelo projecto de reabilitação do imóvel.

"O nosso objectivo é que nos próximos meses a fundação entre em funcionamento em pleno na Casa do Bicos", disse aos jornalistas António Costa.

O presidente da Câmara não se quis comprometer com prazos para a conclusão dos trabalhos que, afirmou, serão "pequenas obras de adaptação" para as quais a Câmara conta com o financiamento das contrapartidas anuais do Casino de Lisboa.

José Saramago garantiu que irá transferir os "12 ou 13 mil livros" da sua biblioteca para Lisboa, embora ainda não saiba se a Casa dos Bicos irá receber "toda ou parte" da colecção. / Lusa, 17/07/2008