Nacional
Mário Nogueira no Plenário Nacional de Sindicatos

"Não há tempo a perder neste duro combate que temos pela frente!"

26 de junho, 2014

"Este plenário tem lugar num momento em que todos temos a consciência do mal, cada vez maior, que o governo e a sua política fazem a Portugal e aos portugueses e, por isso, gostaríamos que a luta fosse ainda mais forte e eficaz do que estamos a conseguir que ela seja" - são palavras do Secretário Geral da FENPROF e membro da Comissão Executiva da CGTP-IN no Plenário Nacional de Sindicatos que a Central unitária realizou no passado dia 25 de junho, em Lisboa. Ver FOTOS

O Plenário Nacional de Sindicatos da CGTP-IN decorreu na Voz do Operário e discutiu as alterações da legislação laboral relativas à contratação coletiva, tendo decidido ações de luta para lhes dar resposta. Os delegados e ativistas sindicais presentes aprovaram a realização de uma marcha de protesto que iniciou pelas 16h00, rumo à Assembleia da República. A marcha, recorde-se,  ocorreu dois dias antes de terminar o prazo de discussão pública da proposta do Executivo que reduz os prazos de caducidade e sobre vigência das convenções coletivas. 

"O que este e outros governos fizeram, com as políticas que têm desenvolvido, desprotegeu quem trabalha, empobreceu quem vive do seu rendimento, fragilizou as respostas dos serviços públicos que cumprem funções sociais do Estado e tornou Portugal num país ainda mais endividado, quando, do que nos queriam convencer é que o esforço e os sacrifícios a que estávamos sujeitos eram para reduzir essa dívida e resgatar o país da bancarrota", destacou Mário Nogueira, que acrescentou:

"Tal como sempre dissemos, confirma-se que muito do nosso dinheiro foi para os bolsos do FMI, do BCE, da UE e dos banqueiros nacionais; muitos dos nossos filhos tiveram de ir trabalhar para o estrangeiro; por cá, muitos trabalhadores ficaram sem emprego; muitos idosos deixaram de ter dinheiro para os medicamentos que não podiam dispensar; muitas escolas e unidades de saúde encerraram; muita da confiança que os portugueses tinham na democracia e no futuro transformou-se, perigosamente, em descrença e desânimo."

"Mas esses que mentem, nos roubam e destroem o país", proseguiu o dirigente sindical, "acham que o que fizeram foi pouco e querem mais: querem impor uma tabela salarial única aos funcionários públicos para consolidarem os roubos e alinharem por baixo; querem reformar o Estado para entregar a negociantes que só veem cifrões a posse da Educação, da Saúde, da Água, da Segurança Social e de outros bens sociais; querem, de imediato, impor um conjunto de medidas a que chamam DEO, depois de já se ter chamado PEC e memorando de entendimento; e não nos querem largar da mão como fez saber o presidente do BCE, há poucos dias, exigindo que os países abdiquem da soberania em diversos níveis da sua economia, ou, como ameaça o FMI, mantendo-nos sob vigilância até, pelo menos, 2045!"

"Se lá de fora chegam ameaças permanentes que pretendem pôr em causa o nosso direito à soberania, cá dentro não é melhor gente a que vive empoleirada no poder", salientou Mário Nogueira.

"É completamente verdade o que muita gente diz por aí, nas manifestações e não só, que Portas, Portas e Cavaco são farinha do mesmo saco. São de facto, um saco onde encontramos ainda Barroso, Draghi, Lagarde e muitos outros de quem, teimam em dizer-nos com um certo ar ameaçador, se deve falar com respeito. Com respeito, que respeito? Aliás, a esse respeito, é caso para perguntar que respeito têm eles pelas crianças a quem fecham a escola? E pelo país, quando mentem despudoradamente, como fez Crato ontem de novo quando disse que ouviu os autarcas antes de decidir encerrar as escolas? E pelas crianças que chegam à escola com fome porque roubaram o emprego aos pais? E pelos doentes a quem são negados tratamentos por serem caros? Diz o povo que, quem quer respeito dá-se ao respeito e, também como diz o povo, a esse respeito, não tem havido respeito nenhum!"

"A impunidade com que eles agem é total", sublinhou Mário Nogueira."Reagem que nem donzelas ofendidas quando são alvo do nosso protesto e até nos querem convencer que há dias em que fica mal protestar. É caso para perguntar: e não há dias em que fica mal roubarem os portugueses? E não ficará mal tratarem pessoas co mo se fossem objetos descartáveis? E não ficam mal as constantes agressões que fazem ao Tribunal Constitucional, à Constituição e à Democracia? E não fica mal serem trafulhas como são? Recorrendo e adaptando, aqui, a discurso recente de Passos Coelho é caso para dizer que esta direita é insuportavelmente arrogante e mentirosa, não valendo a pena manter em funções um governo que não tem futuro e, como tal, deverá ser rapidamente demitido."

Noutra passagem, o Secretário Geral da FENPROF afirmou:

"É claro que os pregadores do costume, que enchem as televisões nacionais em horário nobre, qual bispo da TV Record em horário noturno, tentam que se abata sobre os que não desistem da luta, uma censura social que os iniba e autocensure… Fazem-no com a conversa do “parece mal” ou do “já não se usa”, insultam e tentam manipular a opinião pública e criar um clima hostil a quem não cala a verdade e o protesto. Era assim que faziam há mais de 40 anos atrás, no fascismo.

"Sim, porque neste país o fascismo existiu e suprimiu as liberdades de expressão, reunião, manifestação e associação; proibiu a liberdade sindical e a greve; de partidos políticos, só a União Nacional que Passos e Cavaco parecem querer recuperar; houve censura e repressão policial; houve perseguições a quem se opôs à ditadura fascista; houve guerras coloniais em que muitos morreram e mataram; houve obscurantismo cultural; houve a entrega do país a meia dúzia de grupos que dominavam a economia; houve exploração, fome, miséria e atraso nos mais diversos níveis; houve milhão e meio de portugueses que foram obrigados a emigrar. Defender Abril e os seus valores democráticos é mais do que usar cravo no dia 25 de Abril, que disso até Passos Coelho é capaz. É lembrar como foi e gritar bem alto que fascismo nunca mais, seja ele explícito ou encapotado!"

"É claro que, hoje, eles não se dizem contra os Sindicatos. Precisam de alguns para umas quantas negociatas. O que não gostam é dos nossos, pois não alinhamos nesse tipo de esquemas. E é também por terem os seus que se irritam com estes que protestam, que não calam, que denunciam, que chamam os bois pelos nomes, que vão à luta quando outros parecem já se ter esquecido dela. Nós não esquecemos e é neste tempo em que mobilizar exige um esforço ainda maior que nós fazemos mais falta, que nós temos de dar a cara em todas as circunstâncias, que nós não lhes podemos dar tréguas."

"E se, como disse antes, não podemos deixar que o 25 de Abril se transforme numa data que, anualmente, se assinala e por ali se fica, também não nos podemos deixar levar pelo discurso de “o que fazia falta era outro 25 de Abril”, porque não é verdade", alertou Mário Nogueira, destacando logo de seguida:

"O que faz falta é este 25 de Abril com os seus valores democráticos e os direitos conquistados. Reclamá-los, exercê-los e exigir respeito pelos trabalhadores e pelas suas organizações de classe é festejar Abril todos os dias".

Um movimento sindical
que não desiste!

Destaque ainda para outro apontamento da intervenção do dirigente sindical na Voz do Operário:

"São muitos, cada vez mais os que parecem adormecidos a embalar a dor. Acordá-los e trazê-los, alguns de novo, para a luta é a nossa obrigação. Disse há dias, em ato público, Evo Morales, o presidente boliviano que foi impedido de entrar neste país que se reclama democrático, que “nenhum progresso é justo e desejável se o bem estar de uns é conseguido à custa da exploração e da miséria de outros”. Esse é um princípio que orienta e orientará sempre a justa luta dos povos e que, aqui, ainda mais no tempo que vivemos, ganha uma importância muito grande. Este movimento sindical, que é o nosso movimento sindical, tem a obrigação de nunca desistir, de não se vergar à crítica dos pregadores, de não desistir de lutar contra os políticos que, vendidos aos interesses do capital, fazem da miséria de uns o paraíso de outros. Há, por isso, de continuar a lutar pelo futuro, por uma terra sem amos, por um tempo em que cada homem respeite os direitos de todos os outros homens!"

"Vamos à luta, camaradas, que não há tempo a perder neste duro combate que temos pela frente!", concluiu.