Nacional
Educadores e professores marcaram presença vibrante no desfile de mais três horas ao longo da Avenida de Berlim, rumo ao Parque das Nações

Em dia de Cimeira europeia, o mundo do trabalho fez ouvir a sua voz numa manifestação nacional com mais de 200 000 participantes

18 de outubro, 2007
"Porque a luta é de todos em Portugal e na Europa" e porque o movimento sindical não cruza os braços (como gostaria o Governo) face às injustiças que se acentuam no País, largos milhares de trabalhadores - mais de 200 000 - participaram na manifestação que decorreu na tarde de 18 de Outubro (um autêntico dia de Verão), em Lisboa, por iniciativa da CGTP-IN. Sem dúvida uma das maiores acções de massas até hoje realizadas pelo movimento sindical português. "Parece um 1º de Maio", ouvia-se entre os manifestantes.

"Por uma Europa social, emprego com direitos", foi o lema que envolveu esta gigantesca manifestação nacional, com concentração junto ao Metro dos Olivais, seguida de longo desfile, de mais de três horas pela Avenida de Berlim, conhecida artéria da zona oriental da cidade, rumo ao Parque das Nações, local escolhido pelo Executivo para realizar a Cimeira Europeia de dois dias, com a presença de responsáveis políticos dos 27 Estados membros e dos governos da UE , evento promovido no âmbito da presidência portuguesa.

A nossa reportagem acompanhou a par e passo esta histórica manifestação, que reuniu numerosos educadores e professores, em força na parte final do desfile, e recolheu opiniões de diversos participantes, oriundos de diferentes regiões do País e sectores de actividade.
No essencial, destacam-se desses breves apontamentos, recolhidos em andamento, que a situação que vivemos hoje exige a continuação de um trabalho persistente, dinâmico e criativo apontado à informação, esclarecimento e mobilização dos cidadãos, nomeadamente dos trabalhadores, tanto da Administração Pública como do sector privado, não esquecendo os jovens, os estudantes, os reformados e pensionistas e todos os cidadãos que estão a pagar as consequências de uma política que adia o desenvolvimento do País, o que "é dramático", como sublinhou Manuel Carvalho da Silva na intervenção proferida na concentração que fechou esta manifestação, junto ao pavilhão de Portugal, espaço amplo mas insuficiente para acolher todos os participantes que iam ali chegando.

Ainda a propósito das tarefas centrais que se colocam ao movimento sindical, o dirigente da Inter destacou o reforço dos "laços de solidariedade para com os jovens trabalhadores e entre todas as gerações de trabalhadores, independentemente do seu estatuto profissional ou do seu vínculo laboral".

"Abanar consciências"

Emídio Fontoura, professor desempregado, residente na margem sul, sublinha que "é necessário abanar consciências e chamar a atenção dos portugueses para o real significado do ataque aos sindicatos". E acrescenta: "Silenciar os protestos, prosseguir as políticas anti-sociais, sem resistência, deve ser o sonho côr-de-rosa dos governantes. não podemos permitir que isso aconteça. Esta manifestação está a mostrar aos membros do Governo que devem desistir desse sonho..."

Um ministro em sintonia com Sarkozy

"Muitas das políticas com que o Governo Sócrates ataca os trabalhadores são inspiradas e estimuladas pela UE e pelos interesses neoliberais. Ainda há pouco tempo, o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, evidenciou na TV a sua admiração pelo programa de políticas anti-sociais do Presidente Sarkozy. Na sequência das acções previstas para este mesmo dia, de protesto contra os ataques à segurança social e aos direitos de reforma, em Novembro os trabalhadores franceses irão dar uma nova resposta, bem determinada, a essas intenções, que incluem, seguindo li na imprensa, uma forte redução de postos de trabalho na administração pública", observa Mário Mendes Silva, enfermeiro, em serviço no Baixo Alentejo.

"É possível ficar calado?"

Para Serafim Vilanova, informático numa grande unidade industrial do Porto, "não nos restam outras saídas que não sejam o nosso direito cívico à indignação, a nossa luta, a nossa unidade e o nosso protesto, divulgando propostas para a melhoria do País. Não temos outro caminho".
"Tenho vários vizinhos e amigos em situação de desemprego, alguns já de longa duração. Conheço na minha região vários jovens licenciados que não conseguem colocação e quando trabalham, é em regime de grande precariedade e exploração, muitas vezes em actividades que nada têm a ver com a sua formação académica.É possivel ficar calado perante estas situações?", interroga Serafim Vilanova.

"A uma só voz !"

Julieta Fernandes, da região de Santarém, educadora de infância numa instituição privada, salienta que "é preciso investir na educação e na saúde e dar combate ao desemprego, com medidas objectivas e enérgicas, e não com mentiras, como aquela dos novos 150 mil empregos..."
"Ninguém pode ficar indiferente a estes problemas", regista a educadora, que aponta ainda a a necessidade de "intensificar e articular as lutas sindicais a nível de toda a Europa, exigindo a uma só voz mais justiça social, com emprego com direitos".

Carvalho da Silva: "Os sindicatos têm tanta legitimidade
como qualquer órgão de poder"


"O lema sob o qual nos mobilizamos (Por uma Europa social - emprego com direitos) consubstancia um forte sentido de fraternidade, com que os trabalhadores portugueses, agindo em defesa dos seus interesses específicos, manifestam a sua solidariedade aos trabalhadores europeus na luta comum por melhores condições de trabalho e por uma vida digna, reclamando uma construção europeia que assegure a justiça social, o progresso e a paz, o desenvolvimento efectivo das sociedades", afirmou o secretário-geral da CGTP-IN, que acrescentou: "Associamo-nos, assim, também, aos objectivos gerais de acção definidos pelo Comité Executivo da Confederação Europeia de Sindicatos  (CES) que esteve reunido em Lisboa" (17 e 18 de Outubro).

Os panos e outros dísticos presentes ao longo do grande desfile, que registou a animação e o ritmo de vários grupos de bombos e Zés Pereiras; as palavras de ordem e a intervenção de Manuel Carvalho da Silva na concentração final, assim como a resolução aprovada nesta jornada, deixaram aos líderes europeus e a toda a sociedade uma inequívoca mensagem: não cruzamos os braços perante a flexibilidade sem segurança, a desprotecção dos trabalhadores, o aumento da precariedade, as ameaças de despedimentos em massa, a redução salarial e as limitações ao papel dos sindicatos, verdadeiros pilares da democracia.

Como afirmou o secretário-geral da CGTP-IN, "exigimos que se ponha efectivamente termo aos ataques aos sindicatos e ao exercício da actividade sindical, porque sem sindicatos no uso efectivo de todos os seus direitos e sem capacidade reivindicativa, a democracia seria substancialmente mutilada e os trabalhadores seriam violentamente explorados".

"Em democracia", acrescentou o dirigente da Central, "os sindicatos, quer na sua condição de movimento social, quer como organizações com direitos de participação institucionais, têm tanta legitimidade como qualquer órgão de poder". / JPO
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Manifestação representa dia «histórico»
À atenção de Sócrates: «É sempre tempo de mudar e de sair de caminhos errados»
TSF, 18/10/2007

"Já terminou o protesto da CGTP que juntou, no Parque das Nações, cerca de 200 mil trabalhadores. No final da manifestação, o líder da central sindical, Carvalho da Silva, disse tratar-se de um «dia histórico» e avisou o primeiro-ministro que, a partir de agora, terá de mudar de estratégia se quiser ter um futuro polítco.

Cerca de 200 mil trabalhadores responderam, esta tarde, ao apelo da CGTP-IN, concentrando-se no Parque das Nações, em Lisboa.

Em declarações à TSF, o líder da CGTP congratulou-se com a manifestação, sublinhando que foi a maior dos últimos 20 anos.

«Pela sua dimensão e pelas suas características, hoje é um dia histórico», disse, sublinhando que agora «vão ampliar-se as alianças sociais e a luta dos portugueses»

Carvalho da Silva lembrou ao primeiro-ministro que «é sempre tempo de mudar e de sair de caminhos errados», alertando que, se José Sócrates não o fizer, «não terá futuro político».

«O primeiro-ministro tem que ter em atenção este protesto e deve ter noção de que os sindicatos vão continuar a existir para além do seu Governo», reforçou.

O responsável disse ainda que uma nova manifestação pode estar à vista, desta vez juntamente com outra central sindical.

Trabalhadores querem Europa
com mais justiça social


Os trabalhadores que participaram hoje na concentração da CGTP manifestaram a sua solidariedade aos trabalhadores europeus na luta comum por melhores condições de trabalho e por uma vida digna e reclamaram uma construção europeia que assegure a justiça social, o progresso e a paz.

Esta posição foi assumida numa resolução aprovada no final do desfile de protesto promovido em Lisboa pela Intersindical, que decorreu sob o lema «Por uma Europa Social - Emprego com Direitos».

No documento, são salientados os sacrifícios que têm sido impostos aos trabalhadores, com a promessa de crescimento económico, e de que têm resultado a perda de salários reais para grande parte dos portugueses, o acentuar de desigualdades, o aumento da pobreza, roturas de coesão social e o aumento do desemprego e das precariedade laboral."

TSF Online