Apesar da limitação do tempo de intervenção dos delegados ao Congresso, Portugal não deixou de denunciar os ataques que, em nome de uma alegada estratégia para resolver a crise portuguesa, têm sido desferidos contra os trabalhadores portugueses. Foi nesse sentido que Carvalho da Silva, Secretário-Geral da CGTP-IN, interveio no Congresso. Eis a sua intervenção:
Este é um Congresso em tempo muito delicado. Os graves problemas com que os trabalhadores e os povos se debatem exigem-nos:
- A definição de objectivos mobilizadores;
- Rigor nas análises afrontando as causas e os responsáveis dos bloqueios em que nos meteram;
- Definição das tarefas prioritárias, a primeira das quais é o reforço da nossa capacidade de acção.
Chegámos a uma situação em que, ou os trabalhadores, com os seus sindicatos, questionam este projecto europeu que está a ser posto em prática, exigindo mudança de rumo, exigindo uma Europa solidária, de harmonização social no progresso, de cooperação e integração respeitando identidades e culturas, uma Europa de desenvolvimento social e humano, ou a UE caminhará para a degradação social e política e para uma desagregação com grande sofrimento humano.
Os governos procuram comprometer os sindicatos a políticas desastrosas ao serviço dos interesses dos accionistas dos grandes grupos financeiros e económicos, contra os interesses e justos anseios dos cidadãos. Políticas perante as quais os trabalhadores, e em particular as gerações jovens, se sentem desiludidos e desmotivados face às injustiças, à falta de ética e de rigor e à ausência de objectivos de progresso que observam nas políticas seguidas e nas práticas patronais.
Neste contexto, os sindicatos terão de estar mais nos locais de trabalho, esclarecer, combater medos e silêncios, afirmar propostas de trabalho e organizar o protesto e a luta transformadora.
Em Portugal temos uma das taxas mais elevadas de actividade dentro da União Europeia, horários de trabalho prolongados, uma das médias salariais mais baixas da UE, a par com a mais injusta distribuição da riqueza, e temos muita precariedade. Os responsáveis pela crise não foram os trabalhadores, mas as políticas erradas a nível nacional, os caminhos desastrosos a nível europeu e a impunidade da especulação financeira.
Precisamos de uma luta sindical, no plano laboral e social, que também seja luta ideológica e sócio-política. Não esqueçamos a génese do capitalismo e o nosso compromisso com as classes trabalhadoras.
Portugal está agora debaixo de um programa imposto pela “troika” UE/BCE/FMI a que o governo e os partidos de direita se submetem ou apoiam e a que os sindicatos terão de dar combate em muitos dos seus aspectos, forçando alternativas.
É absolutamente claro que, com tais medidas, o PIB português, no final de 2012, era recuado para o valor de 2002, a dívida será maior face a taxas de juro inaceitáveis, teremos mais desemprego, privatizações a preço de saldo, pior saúde e ensino, mais desigualdades e pobreza. O país retrocederá no plano económico, social e civilizacional.
Existem alternativas e vamos lutar por elas! Exigimos, e é possível, a reestruturação da dívida; o alargamento do prazo para a redução do défice público; taxas de juro justas; novos caminhos para a obtenção e utilização dos recursos financeiros; reorientação do crédito e do investimento para apoiar actividades produtivas de bens e serviços úteis; criação de emprego.
Vamos combater a onda privatizadora, lutar por melhorar os salários, a protecção social e a efectivação da contratação colectiva. Estamos numa situação de esvaziamento e boicote à contratação colectiva e ao diálogo social. Temos de, com unidade e acção, construir esperança e confiança no futuro.