Intervenções
15.º Congresso

Nuno Fadigas (SPN): sobre o Centro de Formação do SPN

20 de maio, 2025

Falo-vos hoje na dupla condição de espectador e de ator: de espetador de um filme que a todos nos deve fazer pensar sobre o caráter solidário de um sindicato; de ator membro de uma direção de um centro de formação. Dou a palavra ao primeiro heterónimo.

Esta semana acompanhei um grupo de alunos do 10.º ano a uma sala de cinema para verem o filme do Ken Loach, O Pub The Old Oak. A ação decorre numa vila outrora de mineiros, perto de Durham, e o tempo é o que imediatamente antecede a queda do regime de Assad. Um conjunto de refugiados sírios chega, e a xenofobia de uns quantos locais espera-os. Outros quantos resistentes e solidários acolhem-nos, sempre sob a crítica dos primeiros que vêm no refugiado e no imigrante o bode expiatório dos seus problemas. Uma personagem destaca-se: o proprietário do pub, um homem bom que, mesmo contra a vontade dos seus clientes, maioritariamente xenófobos, abre uma sala do seu estabelecimento para graciosamente dar de comer a quem chega. Entre as associações que se aproximam para “dar uma mão”, desafio-os a identificarem uma. Um sindicato, claro está. Um sindicato de bombeiros (poderia ser dos mineiros), que, quando chega com o seu contributo, seguem-se-lhe os seguintes comentários: “Os cabrões dos sindicatos deviam meter-se nas suas vidas. Têm tempo a mais. Esta porra quase parece o Canal do Panamá!” Nada de novo para nós que estamos nesta sala. Tal como não é nada de novo que, ainda assim, este lado, o nosso lado, é “o lado certo da História”. Confirma-o o final do filme – e desculpem-me o spoiler - e confirmam-no as seguintes palavras de um filósofo, André Comte-Sponville, distinguindo a generosidade da solidariedade:

“A solidariedade [e aqui remete, entre outras instâncias, para o sindicalismo] é uma maneira de nos defendermos em grupo; a generosidade é, no limite, uma maneira de cada um se sacrificar pelos outros. É por isso que a generosidade é moralmente superior; mas é por isso também que a solidariedade é, social e politicamente, mais urgente, mais realista e mais eficaz. Ninguém se inscreve na segurança social por generosidade. Ninguém paga os seus impostos por generosidade. E que estranha pessoa seria aquela que se sindicalizasse por generosidade! Todavia, a segurança social, a fiscalidade e os sindicatos fizeram mais pela justiça – muito mais! – que o pouco de generosidade de que este ou aquele por vezes deram prova.” [Apresentações da Filosofia (2001), Edições Piaget, Lisboa, pp. 32-33]. Fim de citação.

Camaradas, sejamos solidários, porque se o formos é porque já éramos generosos. E porque é para aí que o filme aponta, continuemos a ser solidários com todos os povos que sofrem, indo daqui hoje destaque, porque o momento hoje é de total urgência, para Gaza. Como bem diziam os mineiros, “when we eat together, we steak together” (“quando comemos juntos, somos uns para os outros”). É de fome que se fala, e a nossa mesa tem de incluir palestinianos.

Passo para o outro heterónimo: o ator de uma direção de um centro de formação. Que ano, camaradas! Que ano! As necessidades de formação quadruplicaram, estando bem a FENPROF na sua luta, bem-sucedida, pela extensão do regime especial do 48B até ao termo da recuperação do tempo de serviço. As coisas ficaram mais calmas, mas ainda assim, os centros de formação estarão a trabalhar, até 2027, ao dobro da velocidade que antecedia a feliz recuperação do tempo de serviço. No Centro de Formação do SPN, além da oferta formativa mais ou menos habitual, está a decorrer um Ciclo de Debates, acreditado pelo Conselho Científico Pedagógico da Formação Contínua, sobre os 50 anos do 25 de abril, aos sábados de manhã, que além de ter cerca de três centenas de inscritos, conta com a presença de vários oradores bons conhecedores da revolução. Por lá já passaram, permitam-me a informalidade, Manuel Carvalho da Silva, António Teodoro, Silvestre Lacerda, Manuel Loff, Paula Godinho, e ainda teremos, no próximo dia 21, Ana Sofia Ferreira – que virá falar sobre as mulheres e a revolução, com especial destaque para a questão da educação -, e a 28 de junho, data de conclusão deste ciclo, Miguel Cardina, que se dedicará ao tema da Guerra Colonial. Um magnífico menu numa cozinha que teve como chef a nossa Cristina Nogueira, que já está com ideias para algo mais... Não posso desvendar! Mas por aqui se vê algo que tem sido a tónica na comunicação com os nossos associados no Centro de Formação do SPN: Não somos um Centro de Formação com o nome de um sindicato – e todos saberão o que quero dizer. Somos, sim, um sindicato com um Centro de Formação. Com uma identidade. A mesma do nosso sindicato. Solidariedade, uma vez mais.

Juntam-se agora, como veem, o espectador e o ator. Um olhar e uma ação sobre o mundo. Sintetizadas nas palavras de Yara, uma refugiada síria, personagem do filme, que tinha um enormíssimo gosto pela fotografia – e a quem os locais xenófobos destruíram a máquina fotográfica, depois consertada pelo proprietário do bar: “A [minha] máquina fotográfica salvou-me a vida. Porque vi muita coisa que desejava não ter visto (...). Mas quando olho através da máquina, escolho ver esperança e força.”

Viva o décimo quinto congresso da máquina FENPROF! Viva o sindicalismo, vivam a justiça e a paz num mundo lamentavelmente falho de memória.