Ciência
DN, 20/03/2005

Geografia de Orlando Ribeiro imortalizada no ciberespaço

11 de abril, 2005
Resultado do trabalho de mais de três anos, está disponível na Internet desde o mês de Dezembro um site de consulta indispensável www.orlando-ribeiro.info

Trata-se de um site que vem colocar no ciberespaço a presença obrigatória de Orlando Ribeiro, o geógrafo que renovou a geografia e cuja obra foi muito mais do que isso, levando a que ainda hoje continue a ser uma referência obrigatória no mundo académico.

Tendo sido professor, investigador, pensador e fotógrafo, Orlan-do Ribeiro foi sobretudo um humanista. "Foi um humanista porque manteve sempre contacto com colegas de outras especialidades. Geólogos, médicos, pessoas que se identificavam com a literatura", recorda a francesa Suzanne Daveau, professora, investigadora e viúva de Orlando Ribeiro.

"É por isso que a biblioteca de Orlando Ribeiro não se limita à geografia e retrata áreas distin-tas", reforça a investigadora gaulesa.

Suzanne Daveau explica que a ideia de criar um espaço online sobre Orlando Ribeiro "é uma consequência" do testamento feito, em 1983, pelo próprio geógrafo e que a sua concretização só foi possível porque beneficiou de subsídios da Fundação Gulbenkian.

"Eu e o seu filho, António Ribeiro, professor de Geologia, ficámos encarregues de realizar a sua vontade. Falámos com várias pessoas, incluindo a responsável pela cartografia da Biblioteca Nacional, Joaquina Feijão, e formámos a equipa", conta. "Foi uma obra trabalhosa, que teve início em Março de 2001. A Joaquina Feijão coordenou os trabalhos com a minha ajuda. A nossa tarefa consistiu em arranjar manuscritos, correspondência vária e em conferir ao Centro de Estudos Geográficos de Lisboa uma biblioteca catalogada do Orlando Ribeiro."

Das 50 mil fotografias armazenadas na Fototeca do Centro de Estudos Geográficos de Lisboa, 10 mil foram tiradas pelo próprio Orlando Ribeiro e hoje são admiradas por gente da arte.

"São fotografias científicas com grande qualidade artística", diz Maria Inês Cordeiro, outra das pessoas que tiveram um contributo decisivo para a criação do site sobre a vida de Orlando Ribeiro. Antiga funcionária da Biblioteca Nacional, é actualmente gestora de sistemas de informação (estruturas de normas) da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian e foi a responsável pela concepção e alguns arranjos deste novo site.

"O objectivo era fazer uma coisa boa, com conteúdos bons. É uma homenagem ao professor, através da associação da imagem a cada livro e da divulgação de dedicatórias de autores, que são muito curiosas", refere Maria Inês Cordeiro.

A coordenadora dos trabalhos para o site, Joaquina Feijão, deixa claro que a viúva do famoso geógrafo é que foi "a alma do projecto", a sua verdadeira assessora científica. O seu contributo para o nascimento do site foi completamente lateral.

"O meu papel neste projecto não se insere no âmbito do protocolo celebrado entre a Biblioteca Nacional e o Centro de Estudos Geográficos de Lisboa. A biblioteca vinha de Vale de Lobos, em Belas, local onde Orlando Ribeiro e Suzanne Daveau residiam desde 1965, e onde a investigadora ainda habita. Construímos uma base de dados com grande valor acrescentado, que foi integrada no site. As imagens que se encontram visíveis no site estão ligadas à própria obra de Orlando Ribeiro. Procura-se dar conta da teia de relações do professor Orlando Ribeiro com a comunidade científica da época", revela. "O que está, neste mo-mento, na base de dados, é a biblioteca do jardim, que foi mais trabalhosa. Esperamos, ainda este ano, concluir a parte relacionada com a biblioteca principal", acrescenta Joaquina Feijão.

No site podem encontrar-se curiosidades sobre a vida de Orlan-do Ribeiro. Como a dos seus alunos, que eram, muitas vezes, de-safiados para excursões. No fi- nal, os estudantes tinham uma forma muito peculiar de agrade-cer a experiência, oferecendo-lhe uma prenda. "Davam-lhe lam-parinas quando regressavam das excursões. Simbolizavam a luz do conhecimento que lhes era dada. O Orlando era de contacto humano muito fácil", recorda a viúva.