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Universidades e Politécnicos com salas vazias

Greve nacional contra as propinas

11 de junho, 2003

21 de Outubro foi Dia de Greve dos alunos do Ensino Superior. A Comunicação Social - rádio, Tv e jornais - acompanharam o assunto, mostrando o descontentamento generalizado face aos valores das propinas. A edição on line do "Público" tratou assim a greve estudantil:

Milhares de alunos faltaram esta manhã  (21/10) às aulas em várias universidades e politécnicos do País. A greve colectiva foi a forma de protesto encontrada pelos estudantes para contestarem o aumento do valor das propinas. Alguns dos estabelecimentos de ensino foram mesmo encerrados a cadeado, impedindo a entrada de professores e funcionários.

Porto

Pelo menos oito universidades estiveram encerradas. O presidente da Federação Académica do Porto, Nuno Mendes, estima em pelo menos 80 por cento a adesão à greve. Segundo o dirigente associativo, as faculdades de Ciências e de Psicologia, o Instituto Superior de Engenharia, o Instituto Superior de Contabilidade e Administração e duas escolas de enfermagem (Ana Guedes e Cidade do Porto) foram encerradas a cadeado ao início da manhã. Nuno Mendes indicou que nas restantes escolas do Porto registam-se "casos muito positivos", como a Faculdade de Ciências do Desporto com uma adesão de cem por cento e outros "menos positivos", de que é exemplo a Faculdade de Engenharia. A Reitoria da Universidade do Porto acrescentou à lista de estabelecimentos onde não foram ministradas aulas as faculdades de Nutrição e de Letras.

Lisboa

Cerca de 90 por cento dos estudantes da capital aderiram ao protesto nacional, segundo dados de 14 associações estudantis da capital. Os estudantes exigem a revogação da lei do financiamento e contestam a redução do peso dos alunos nos órgãos das universidades, assim como o regime de prescrições. Em pelo menos três escolas - Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Lisboa e Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas - os portões foram fechados a cadeado.

No Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), os alunos decidiram abrir uma das portas de serviço "para que o direito à greve não chocasse com o direito ao trabalho", mantendo-se, no entanto, à porta da instituição, indicou a associação de estudantes. Na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, uma escola com 6000 alunos, a greve registou uma adesão na ordem dos 98 por cento. Segundo a associação de estudantes, foram poucas as aulas que funcionaram e mesmo essas tinham um número reduzido de alunos. Também na Faculdade de Ciências de Lisboa, "os alunos aderiram em massa", com uma adesão de cerca de 95 por cento, disse a associação de estudantes da escola. No Instituto Superior Técnico, 75 por cento dos alunos aderiram ao protesto. Além da greve, a direcção da associação de estudantes decidiu realizar durante todo o dia acções de mobilização e sensibilização dos alunos, através de um plenário e de um churrasco, entre outras actividades culturas.

Os estabelecimentos de ensino em greve em Lisboa são os Institutos de Agronomia, Instituto de Ciências Sociais e Políticas, de Ciências do Trabalho e da Empresa, de Engenharia de Lisboa, das Faculdades de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, de Ciências de Lisboa, de Psicologia de Lisboa, de Letras, de Belas Artes, de Ciências Sociais e Humanas, Direito da Universidade Nova, de Direito de Lisboa e ainda da Escola Superior de Educação de Lisboa e da Escola Superior de Teatro e Cinema.

Coimbra

Na Universidade de Coimbra (UC), o presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC) estabeleceu em cem por cento a adesão à greve. Victor Hugo Salgado avançou que as aulas não se realizam na maioria das faculdades e departamentos da UC, em cujas entradas estão a funcionar piquetes de greve desde o início da manhã. Porém, o líder associativo admitiu que estão a decorrer as actividades lectivas "num ou noutro caso pontual".

Bragança

Os alunos do instituto politécnico impediram a entrada de professores e funcionários nas instalações. Os estudantes, que vão pagar a propina mínina, explicaram que aderiram ao protesto para contestar a lei de financiamento do ensino superior. Na maior parte das escolas do Instituto Politécnico de Bragança os estudantes entraram e fecharam as portas, querendo com isto simbolizar que querem "estar dentro do ensino" e não serem afastados.

Aveiro

"Continuaremos a lutar até que a revogação da actual lei de financiamento seja uma realidade e nunca abriremos mão desta bandeira", afirmou o presidente da Associação Académica da Universidade de Aveiro, José Ricardo Alves, que garantiu a adesão à greve dos 12 mil universitários da cidade.

Os universitários consideram que a greve nacional "é mais um passo fundamental para demonstrar o descontentamento geral dos estudantes do ensino superior público perante esta reforma legislativa". Em Aveiro, as propinas foram fixadas em 640 euros e a associação académica já exigiu a convocação de um Senado extraordinário para rever essa decisão.

Beira Interior

Os estudantes da Universidade da Beira Interior (UBI) encerraram logo de madrugada com cadeados e outros obstáculos as portas do estabelecimento de ensino superior. Luís Franco, da associação académica da universidade, explicou que "se houvesse direito à greve" não havia necessidade de encerrar o estabelecimento de ensino, onde estudam cerca de cinco mil estudantes. Para as entradas da UBI foram mobilizados piquetes de estudantes para informar os restantes alunos sobre os motivos do encerramento e da greve.

Vila Real

Os alunos da Escola Superior de Enfermagem de Vila Real aderiram também à paralisação colectiva, contra a propina de 600 euros. A maior parte dos alunos pegaram em fotografias da ministra da Ciência e do Ensino Superior, Maria da Graça Carvalho, que foram deitadas num ecoponto levado pelos alunos para junto da câmara. "Este ecoponto quer significar a reciclagem do ensino superior e a redução da propina", salientou Sara Pele, da Associação de Estudantes da Escola Superior de Enfermagem. Os portões do estabelecimento de ensino foram encerrados logo pela manhã.

Trás-os-Montes e Alto Douro

Na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), depois de cinco dias encerrados, os portões da academia transmontana reabriram-se hoje para "se poder avaliar os efeitos da greve" neste estabelecimento de ensino. Rui Silva, presidente da Associação Académica da UTAD, sustentou que cerca de 90 por cento dos alunos aderiram à greve de hoje, porque "estão todos a lutar contra a propina injusta que aplicaram" na academia transmontana. Os professores e funcionários retomaram o trabalho, mas a grande maioria dos estudantes resolveu faltar às aulas em mais uma forma de protesto contra a propina de 700 euros imposta pelo senado da universidade.

Évora

A Associação de Estudantes da Universidade de Évora fala em "elevada adesão" à greve, mas reconhece haver alunos a frequentar as aulas para evitar a marcação de faltas. "Há professores que marcam falta, obrigando os alunos a ir às aulas, sobretudo nas aulas práticas", disse João Condeixa, vice-presidente da associação, explicando haver estudantes que "não podem arriscar mais faltas".
Embora alegando desconhecer, a meio da manhã, os valores de adesão à greve contra as propinas, João Condeixa garantiu que a paralisação está a registar "bastante" adesão.
O reitor da Universidade de Évora, Manuel Ferreira Patrício, propôs 660 euros para o valor da propina, um montante que considera "equilibrado" e "intermédio" entre o mínimo (460 euros) e o máximo (852 euros).

Faro
A quase totalidade dos alunos da Universidade do Algarve não aderiu à greve nacional, devido à coincidência com o tradicional desfile de boas-vindas ao caloiro, dia em que habitualmente não há aulas.
Porém, os alunos que participaram no desfile aproveitaram-no para manifestar a sua revolta contra o aumento das propinas, disse o presidente da Associação Académica da Universidade do Algarve, André Dias.

A 70 quilómetros da capital algarvia, onde se situam os dois campus principais da Universidade do Algarve, os cerca de 600 alunos do Campus de Portimão aderiram na quase totalidade à luta estudantil, contra o aumento das propinas."Estamos com um índice de adesão de 90 a 95 por cento dos alunos", disse o vice-presidente da associação estudantil em Portimão, Bruno Santos, sublinhando que os estudantes "não se limitaram a não aparecer, pois circulam no interior do Campus ou ficam à entrada da universidade".

André Dias reafirmou a intenção dos estudantes de fechar a Universidade caso o Senado institua um valor de propina superior ao mínimo legal, de 464 euros.

Açores

Cerca de 300 estudantes da Universidade dos Açores e Escola de Enfermagem manifestaram-se em Ponta Delgada, sem, no entanto, impedirem o funcionamento das aulas.

Gritando palavras de ordem como "propinas não, queremos educação" e exibindo faixas negras de protesto, os alunos desfilaram entre as instalações do único estabelecimento de ensino superior das ilhas e o novo centro comercial da maior cidade açoriana.

O presidente da associação académica, Luis Vidal, reconheceu que o número presenças na manifestação "só representou dez por cento da população estudantil", mas realçou "serem muitos os alunos que estão contra os aumentos das propinas" mas que "decidiram não aparecer".

Luis Vidal admitiu a hipótese de uma nova manifestação se os estudantes "não concordarem" com o valor da propina que será fixado pelo senado, num reunião que deverá ocorrer no final de Outubro. "O montante que ficou estipulado até decisão do Senado será o valor mínimo em vigor, daí que muitos alunos já tenham pago a sua primeira prestação de 155.58 euros", indicou.

Madeira

Os estudantes da Universidade da Madeira participaram de forma diferente na jornada de luta nacional, com uma greve de zelo que levou todos os alunos às aulas. Clara Freitas, presidente da Associação Académica da Universidade da Madeira, salientou que com esta postura os estudantes madeirenses pretendem demonstrar que estão a ser "responsáveis, cumprindo a sua parte ao ir às aulas, enquanto o Estado está a falhar".
A líder associativa disse ainda que a propina para os estudantes madeirenses foi fixada em 670 euros, o valor mínimo proposto em reunião do senado da Universidade da Madeira.