Nacional
6 perguntas ao SG da FENPROF no dia em que se conheceu o OE 2014

O momento que vivemos e a resposta necessária

16 de outubro, 2013

1. 
No momento em que o Governo de Passos e Portas se preparam para fazer passar um orçamento de empobrecimento e miséria, a CGTP-IN realiza no próximo sábado uma grande jornada de luta e protesto, as Marchas por Abril. Estas são certamente ações mais que justificadas, tendo em conta os cortes na despesa que o governo quer garantir neste Orçamento para 2014…

Mário Nogueira (MN): Sim, hoje todos os protestos são justos, desde que se destinem a contestar uma política que visa destruir o Estado social e solidário que construímos com a democracia que saiu de Abril. O Orçamento do Estado, ao prever que 82% dos cortes serão nos salários dos trabalhadores da Administração Púbica, nos aposentados e reformados, na Educação e na Saúde e apenas 4% terão origem na banca e nos grandes interesses financeiros e económicos deixa perceber bem a natureza das políticas e o que pretende o governo. Portanto, travar estas políticas, alterar o seu rumo e demitir o governo são motivos mais do que justos e nobres para todas as ações e lutas que os portugueses desenvolvam.

2.
Como deve ser lido o impedimento, pelo Governo, da realização da manifestação (travessia a pé) na Ponte 25 de Abril?

MN: É evidente que o impedimento de travessia, a pé, da Ponte 25 de Abril tem uma natureza política e não técnica. Afinal os pareceres a que o ministro se refere são de entidades “suspeitas” (Lusoponte e instância em que a Lusoponte tem grande influência) e PSP sendo que, neste caso, o curioso é que na véspera do seu parecer ser emitido, o mesmo responsável que o apresentou declarara não haver qualquer problema de segurança, pois a PSP estava em condições de a garantir. É, pois, uma decisão política que nos deve preocupar, pois revela que para além do empobrecimento das pessoas e da destruição do país, o governo do PSD e CDS está a entrar por caminhos muito complicados com a própria democracia a ser posta em causa. Devemos ler esses sinais com muita preocupação. Agora, nós percebemos que ao governo interessaria muito, neste momento, que os trabalhadores fossem ao confronto para carregar violentamente sobre eles e passar a ser essa a notícia em vez de ser o vergonhoso Orçamento do Estado e as políticas que estão em curso. Mas não lhe daremos essa oportunidade e o movimento sindical assumirá as suas responsabilidades para com os trabalhadores, sem deixar de levar por diante um enorme protesto contra o governo.

3.
A forte mobilização que já se regista para esta importante acção pode deixar alguém indiferente?

MN: Não pode, claro, e, agora, há razões acrescidas para estarmos presentes. O governo não quer que os trabalhadores se manifestem e, em Lisboa e no Porto, teremos de ser muitos mil para sermos fortes no protesto e na exigência. Só facto de o governo não querer o protesto reforça as razões para que ele se realize e seja enorme.

4.
Com um governo que revela, em cada medida, uma enorme insensibilidade social, um défice que só baixa através de engenharias financeiras dos orçamentos rectificativos e juros anuais do resgate da troika superiores a 9.000 milhões de que forma é possível sair desta situação?

MN: Um primeiro passo será a demissão do governo, pois ainda que venha a revelar-se insuficiente, essa é condição necessária. Depois, é necessário termos um governo que bata o pé a este caminho de exploração e empobrecimentos forçados e exija a renegociação da dívida, em todas as suas componentes (montante, juros, tempo…) e não apenas no tempo. Há exemplos de outros países em que isso aconteceu e foi a única forma de garantir o seu futuro. A dívida, tal como está, não é pagável e por cada dia que passa a situação dos portugueses é mais grave. Aliás, até o FMI, a comissão europeia ou o Banco de Portugal já manifestaram preocupação em relação à situação e disseram reconhecer erros. Mas quando chega a altura de continuarem a encher os bolsos dos mesmos de sempre – o capital financeiro – à custa dos habituais – os trabalhadores e reformados – lá se vai a conversa e aí estão mais medidas e mais roubos. O Orçamento do Estado que o governo apresentou não é mais do que um verdadeiro assalto organizado pelos membros do governo, não se estranhando que, de vez em quando, haja vozes que consideram que a penalização dos atuais membros do governo deveria ser mais que política…

5.
Como lês a pressão enorme que é feita interna e externamente sobre o Tribunal Constitucional?

MN: A pressão sobre o TC é de uma falta de pudor a todos os títulos condenável. O governo pretende um TC com decisões políticas e isso é absolutamente inaceitável. Aliás, o que o governo pretende é, definitivamente, não ter de governar, pois meter a mão ao bolso dos cidadãos e fazê-lo sem quaisquer regras e respeito pelas leis, não é governar, é cometer um crime que, pelas implicações sociais que tem, deveria impedir os governantes de continuarem a passear-se de espinha direita. Para não ser mal entendido, limitei-me a utilizar uma expressão de Passos Coelho dirigida a governantes anteriores que desenvolviam políticas desfavoráveis aos trabalhadores, mas que, valha a verdade, nunca chegaram a este ponto absolutamente repugnante.

6.
Por último, que apelo achas que deve ser feito aos professores e investigadores para as lutas que temos pela frente já anunciadas e outras que inevitavelmente se seguirão?

MN: Que ninguém fique de fora. A luta não é mais de uns que de outros; a luta não é dos que votaram neste ou naquele partido, como não é dos que professam esta ou aquela religião ou são ou não sindicalizados. A luta é de todos porque é o futuro de Portugal que está a ser posto em causa, é o futuro dos nossos filhos que é posto em cheque. Não poderia uma geração que herdou Abril após uma longa e penosa luta dos seus pais, ter para oferecer aos seus filhos duas mãos cheias de nada e um país sem futuro. Seria razão suficiente para que os nossos filhos nunca nos perdoassem esse comportamento comodista e irresponsável. Por isso, repito, que ninguém fique de fora, pois a luta é de todos.