Nacional

Sem esta luta, tudo ficará ainda pior! Não deixaremos que assim seja!

27 de setembro, 2013

Andreia, 37 anos. Quase 11 anos de serviço. Foi colocada, na última bolsa de recrutamento. Tem dois filhos. Não sabe quanto tempo vai poder continuar na profissão para que se preparou e que tem exercido.

Em 14 contratos de trabalho já esteve em Coimbra, Cabanas de Viriato, Porto, Vale de Cambra, Oliveira do Hospital, Poiares, Sertã, Santa Catarina da Serra, Caranguejeira…

O seu curso de Biologia é do ramo de Formação Educacional, um curso que serve especifica e declaradamente para formar professores. Licenciou-se com 16 valores. Posteriormente, fez um mestrado em Ecologia.

Andreia já foi diretora de turma, coordenadora de CEF. Já foi formadora e docente de Ciências Naturais do 3.º CEB e da área de higiene, saúde de segurança no trabalho. Trabalhou com turmas regulares, em CEF e em PCA. Lecionou também Ciências da Natureza do 2.º CEB, técnicas laboratoriais, Biologia do 12.º ano, Saúde e Socorrismo. Trabalhou com cursos profissionais, com educação e formação de adultos, no ensino noturno. Foi dinamizadora do Projeto Ciência Viva, do antigo PROSEP. Foi membro do Conselho Eco-Escolas.

Andreia tem dois filhos, uma família, um futuro incerto. O trabalho que ela faz é preciso nas escolas. Já cumpriu quase 11 anos de serviço para um patrão que não lhe deu vínculo e que, agora, acha que ela tem de se sujeitar a um exame para mostrar que pode ser… professora.

Maria da Conceição, 43 anos, mais de 17 de serviço oficialmente contabilizados. São bem mais os de dedicação à profissão.

Nos muitos contratos a termo que foi tendo de fazer, foi avaliada com Satisfaz, quando era essa a designação. Depois, teve Bom, Muito Bom e até Excelente, de acordo com o processo de avaliação do desempenho promovido pela tutela.

Lecionou na Mealhada, em Lamego, Alcaíns, Vale de Cambra, Anadia, Castelo de Paiva, Arouca, Figueira da Foz, Murtosa, outra vez Figueira da Foz, Marinha Grande…

Está desempregada. O governo arranjou forma de se “libertar” desta professora.

Maria da Conceição fez um curso de Línguas e Literaturas Clássicas e Portuguesas no ramo de Formação Educacional, um curso superior para formar professores.

O governo quer agora que esta professora prove através de uma espécie de exame que tem condições mínimas para… ser professora.

Patrícia Isabel é mais nova. Ainda tem 31 anos, mais do que o tempo espectável para poder organizar projetos de vida profissional e pessoal.

Cumprindo o que lhe foi exigido, fez o curso de Ensino da Informática. Repito de ENSINO da Informática.

(Se o governo desconfia da qualidade desse e de outros cursos e agora entende que Patrícia apresenta os requisitos mínimos para ser professora de informática, por que não disse já alguma coisa sobre a instituição e o curso em se licenciou com 15 valores?! Se não confia na formação, porque não inspeciona e atua sobre as instituições que a fazem, preferindo impor um absurdo exame a quem até já deu provas concretas no desempenho da profissão?)

Patrícia já foi professora em Arronches, no Fundão. Esteve em Coimbra e Arganil.

Foi também formadora de RVCC, Coordenadora de TIC, colaborou na gestão e manutenção dos equipamentos e sistemas tecnológicos instalados nas escolas onde esteve contratada, promoveu a rentabilização dos meios informáticos ali disponíveis e na sua utilização por toda a comunidade educativa.

Patrícia está fora da profissão para cujo exercício se preparou e das escolas que beneficiariam com o seu trabalho. Está desempregada. Em todos os contratos que celebrou, o desempenho foi sempre avaliado como Bom.

Miguel Almeida, também de 31 anos de idade…

Licenciou-se com 15 valores como Educador de Infância. Tem formação especializada e pós-graduação em Educação Especial. Já trabalhou nessa área, incluindo na Intervenção Precoce. Tem 9 anos de serviço.

Até quando os cortes que o governo faz o irão deixar continuar a trabalhar? Até quando as políticas de brutal austeridade que destroem o país vão continuar, também, a dar cabo da vida e das legítimas aspirações do Miguel Almeida?

Ana Isabel tem 36 anos e não está colocada.

15 contratos a termo como professora, perfazendo mais de 10 anos de serviço!

Coimbra, Figueira da Foz, Condeixa, S. Pedro de Alva, Anadia, S. Pedro de Alva, Oliveira do Bairro, Ílhavo, Mealhada, Condeixa, Vieira de Leiria, Leiria, regresso a Coimbra, Porto de Mós, Vale de Cambra…

Diretora de Turma, Coordenadora de Departamento, CEF, Cursos Profissionais, EFA, nível secundário…

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Outros destes professores que fizeram chegar os documentos para a construção deste (I)MURAL foram já corretores de exames, de provas de aferição, membros de secretariados de exames. Deram apoio a alunos com dificuldades pontuais de aprendizagem; acompanharam outros com necessidades educativas especiais. Dinamizaram clubes e outras atividades de enriquecimento curricular. Responsabilizaram-se pelo apoio ao estudo e outras áreas não disciplinares. Propuseram e deram andamento a projetos de combate ao insucesso e outros que tornaram melhores as escolas, mais rico o tempo que os alunos nelas passam. São profissionais, repito, profissionais que fizeram já de tudo o que as escolas precisam. São professores ou educadores cujo desempenho tem sido avaliado, pelo menos, com Bom. Mas, como a Ana Isabel, o Miguel Almeida, a Patrícia Isabel ou a Maria da Conceição, foram empurrados pelo governo para fora das escolas e da sua profissão. Na “melhor” das hipóteses, como a Andreia Raquel, há os que ainda conseguiram uma colocação mas que, a continuar a sanha destruidora de emprego docente que comanda as políticas de Nuno Crato e do seu governo, pode bem ser a última.

Esta ação que a FENPROF promove visa mostrar à sociedade quem são, em concreto, os professores remetidos para o desemprego ou, cada vez em menor número, obrigados a desempenhar a profissão sempre sob uma incerteza intolerável, sujeitos a uma precariedade sem limite nem respeito. A FENPROF quer evidenciar que o país está a perder tudo aquilo que estes profissionais podiam e deviam estar a produzir nas escolas. O governo desperdiça criminosamente qualificações e experiência profissional! A FENPROF quer mostrar quem são muitos daqueles a quem o governo, a coberto de uma argumentação mentirosa, quer agora fazer uma prova como se eles não tivessem dado já todas as prova de que estão à altura de serem o que são: professores!

Esta ação pretende ainda, mostrar, para além dos números arrepiantes, das percentagens escandalosas, quem são as pessoas em concreto e que projetos de vida o governo continua a imolar com as suas políticas de arrasadora austeridade. Nuno Crato e o governo têm um programa para a Educação que começa na retirada de milhares de docentes às escolas e acaba com a completa degradação da Escola Pública.

A FENPROF reafirma: ESTES PROFESSORES ESTÃO A FAZER FALTA ÀS ESCOLAS E AO PAÍS!

Agradecemos a todos/as os/as colegas que enviaram os seus “currículos”. Agradecemos em particular aos/às que estão hoje aqui, a participar na ação, disponíveis, como é preciso, para dar o seu testemunho de viva voz.

E dizemos que há um caminho possível e necessário para atacar os gravíssimos problemas do desemprego e da precariedade laboral docente: correr, quanto antes, com o governo PSD/CDS e não deixarmos que um outro que lhe suceda volte a insistir nas mesmas políticas. Mas para isso é imprescindível que os professores deem o seu contributo e que, aqui em particular, os/as colegas desempregados/as e contratados/as lutem com muito mais força. Que lutem em todas as oportunidades que surjam, em todas as oportunidades de contestação ao governo e às políticas que trouxeram a Educação e o país à situação de verdadeira catástrofe que vivemos.

Sem essa luta, tudo ficará ainda pior!

Não deixaremos que assim seja!

João Louceiro
(SN da FENPROF)