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À atenção de Ricardo Monteiro: É feio recorrer à mentira para manipular a opinião pública contra os professores

30 de dezembro, 2018

Em programa da TVI 24, na noite de sábado, dia 29 de dezembro, o jornalista e comentador Ricardo Monteiro afirmou que os professores portugueses eram dos mais bem pagos da OCDE e que durante o período da troika não houve professores que foram para o desemprego.

Ora bem, uma coisa é dizerem-se coisas com as quais não estamos de acordo, outra é dizerem-se mentiras para fazer passar uma mensagem necessariamente falsa.

Vamos lá, então, repor a verdade,:

- Os professores de Portugal, de acordo com o estudo a que Ricardo Monteiro se referiu, ganham abaixo da média na OCDE. Aliás, em março, em conferência internacional realizada em Lisboa (Centro Cultural de Belém) a OCDE manifestou preocupação com o baixo nível salarial dos docentes em Portugal e com o desgaste que os seus salários tiveram no período da troika. Isto acontece apesar de os professores portugueses serem dos mais qualificados no conjunto dos países da OCDE e, em Portugal, ser, dentro dos grandes grupos profissionais da Administração Pública, o mais qualificado.

- Também não é verdade que os professores ganhem mais que outros trabalhadores com idêntica habilitação. Na Administração Pública os licenciados (agora, os detentores de mestrado) têm carreiras com índices salariais semelhantes no ingresso e no topo. O que acontece é que há empresas que exploram engenheiros, arquitetos e outros profissionais, no setor privado, pagando-lhes miseravelmente por trabalho muito qualificado. Mas isso também acontece com milhares de docentes que exercem atividade, por exemplo, nas AEC, principalmente quando são contratados por empresas privadas. O que não acontece em Portugal, e deveria, é qualquer tipo de reconhecimento pela elevada importância social da atividade desenvolvida pelos docentes, correspondendo o salário, apenas, ao grau académico.

- Durante o período da troika cerca de 15.000 professores ficaram desempregados. Para além disso, o número de vínculos precários aumentou muito, o horário de trabalho dos professores agravou-se, os salários sofreram cortes significativos, as carreiras mantiveram-se congeladas, quem entrou na carreira manteve o salário que tinha como contratado e deu-se um grande envelhecimento do corpo docente por se terem alterado as condições de acesso à aposentação. Dir-se-á que isso aconteceu com outros profissionais, o que é certo, daí que, tal como também aconteceu com esses profissionais, os professores pretendem e têm o direito de recuperar todo o tempo de serviço que esteve congelado, nada mais nada menos que 9 anos, 4 meses e 2 dias.