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Cristina Barcoso Lourenço - Professora do quadro de escola, relatora, elemento do CCAD e representante do Agrupamento no CCAP

A aplicação dos modelos de avaliação no meu Agrupamento e a participação no CCAP

13 de agosto, 2011

Este relato apresenta a minha percepção, dos dois ciclos do modelo de avaliação imposto pelo ME aos docentes, enquanto professora de um Agrupamento que integrou a rede de escolas associadas ao Conselho Científico para a Avaliação de Professores.

Divido este relato em duas partes. Na primeira, apresento o sentir colectivo de um Agrupamento nos dois ciclos avaliativos e na segunda a participação na rede de escolas.

Posição do meu Agrupamento

No anterior ciclo avaliativo, o meu Agrupamento organizou plenários de discussão sobre o modelo de avaliação de onde saíram moções e abaixo-assinados a solicitar a sua suspensão. Paralelamente constituímos grupos de reflexão crítica sobre as fichas que tivemos de construir e promovemos sessões de trabalho cooperativo para a redacção das fichas de auto-avaliação. Perante a (suposta) inevitabilidade da entrega dos famigerados objectivos individuais, muitos de nós resistimos e optámos por não o fazer, desafiando as ameaças que se faziam sentir. Mas fomos mais longe, vislumbrando-se a teimosia da tutela em suspender o modelo de avaliação, a esmagadora maioria dos docentes optou por prescindir das menções de Muito Bom e de Excelente. Não o fez por considerar que não haveria docentes “muito bons” ou “excelentes”, mas por entender que, à luz do modelo de avaliação, isso poderia criar clivagens inúteis e provocar um mal-estar, dissipando-se o clima harmonioso que se vivia na escola. Atitude igualmente digna tiveram os docentes que, pela natureza dos cargos que exerciam, podiam ter tido acesso às menções máximas. Uniram-se e prescindiram dessa atribuição. Tomámos a atitude certa e mantivemo-nos unidos, não obstante termos constatado que alguns colegas “furaram” a união por oportunismo ou por medo e lá foram considerados docentes “muito bom”.

Neste ciclo avaliativo a união desapareceu. Por imposição do ECD, os docentes do 2º e 4º escalões, mas também os do 6º para fugirem às quotas, os contratados, e outros (cerca de 10%) que embora não se revejam neste modelo querem usufruir das suas pretensas vantagens de progressão acelerada na carreira, requereram a observação de aulas. Assisti ao apontar de espingardas entre muitos deles, ao individualismo, à concorrência e desconfiança. Apesar do ciclo avaliativo só estar concluído para os docentes contratados, o clima de escola alterou-se. Houve educadores e professores a reconhecerem-se como protagonistas de actividades/projectos que só fizeram sentido porque foram desenvolvidos cooperativamente, ou a intitular de grandes e relevantes projectos o que eram as suas rotinas. Tudo em nome do 10, tudo escrito e descrito, com evidências ou na ausência delas, com vista a demonstrar (ou obrigar) aos relatores/avaliadores (sem formação em supervisão avaliação de professores) que a sua classificação deve situar-se entre o Muito Bom e o Excelente.

Vejo o clima harmonioso do meu Agrupamento a dissipar-se. Em nome do quê? Duma melhoria do desempenho profissional dos docentes? Do sucesso escolar dos alunos? Não me parece…

O meu Agrupamento na rede de escolas associadas ao CCAP

Em 2008, a Directora do meu Agrupamento apresentou a proposta em Conselho Pedagógico do Agrupamento se candidatar à rede de escolas associadas ao CCAP. Os motivos que presidiram à candidatura foram a convicção que estaríamos mais e melhor informados sobre o modelo de avaliação e podermos ser uma voz crítica e transmissora do pensamento colectivo do Agrupamento.

Com a candidatura aceite, a Directora e eu, enquanto elemento da CCAD, participámos em seminários e sessões de trabalho que envolveram as 30 escolas da rede. Fomos inseridos numa equipa que incluía mais duas escolas/agrupamentos, peritos e conselheiros. Neste âmbito visitámos as escolas da equipa com vista a conhecermos, através de entrevistas em painel que envolveram diversos docentes, como estava a ser implementado o modelo de avaliação e construímos relatórios.

Considero relevante a metodologia seguida e reconheço que a visão partilhada e participada de uma rede de escolas fez sentido. Mas, de que serviu essa experiência quando a nível nacional todas as escolas e agrupamentos tiveram de cumprir, com maior ou menos compromisso/adesão, o modelo de avaliação? Terão as 30 escolas servido de barómetro ao CCAP e, por inerência ao ME, do que estava a ser feito e contestado? Considero que a rede de escolas devia ter-se constituído como uma experiência, como um grupo de escolas piloto que experimentava um modelo, avaliava os seus pontos fortes e fracos, de modo a poder apresentar as suas conclusões que seriam discutidas em todas as escolas e sindicatos. Mas nada disto aconteceu e o impacto do trabalho da rede de escolas junto da comunidade docente foi perturbadoramente incipiente e silencioso.

No presente ciclo de avaliação, o CCAP produziu documentos (propostas e recomendações) que se transformaram em diplomas legislativos (padrões de desempenho) com vista a facilitarem o desempenho das escolas na construção de fichas de avaliação. O modelo de avaliação sofreu ligeiros ajustamentos, mas na sua essência manteve-se excessivamente burocrático, o “mundo” das fichas e dos portefólios é complexo e improfícuo; perturbador da vida das escolas porque continua a não ser aceite e reconhecido como relevante; economicista, porque continua a admitir quotas e a não premiar verdadeiramente o mérito; inútil, porque as carreiras continuam congeladas e pouco credível do ponto de vista científico e pedagógico pois os relatores não possuem formação em supervisão e avaliação de professores.

Neste ano o trabalho do CCAP com a rede de escolas resumiu-se à organização de dois seminários (Janeiro e Maio), e de sessões de trabalho destinadas essencialmente a saber como estava a decorrer a implementação do modelo de avaliação e a pertinência e relevância da documentação produzida. Muito pouco para o dinamismo inicial, muito pouco para a sua missão de “implementar e assegurar o acompanhamento e a monitorização do regime de avaliação do desempenho do pessoal docente da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário” (http://www.ccap.min-edu.pt/missao.htm).

Um ciclo/modelo, dois ciclos/modelos e... em Setembro teremos um novo (terceiro!!) modelo de avaliação de um novo ministro que já anunciou os seus princípios generalistas.

Antevejo mais um modelo imposto e não negociado, mais um modelo perturbador e não aglutinador de sinergias eficazes que conduzam à melhoria do desempenho profissional e, por consequência, à promoção de uma escola pública de sucesso.

Espero que esta visão premonitória seja um equívoco.

Cristina Barcoso Lourenço
Professora do quadro de escola, relatora, elemento do CCAD e representante do Agrupamento no CCAP

Agrupamento de Escolas de Montenegro