Negociação
Infelizmente, a ministra Lurdes Rodrigues mostra todos os dias que não conhece os educadores e professores portugueses

O Ministério da Educação está doente

11 de outubro, 2006

A sociedade portuguesa viu-se recentemente confrontada com duas realidades novas: a primeira consubstanciou-se na mais extensa e diversificada plataforma sindical docente algum dia construída no nosso país; a segunda irrompeu, com extraordinária vivacidade, força e coesão, no passado dia 5 de Outubro, quando mais de 20 mil docentes desfilaram nas avenidas e praças de Lisboa, na mais grandiosa manifestação de professores dos últimos 30 anos.

A classe docente foi, nesse dia, símbolo e sinal do descontentamento que, dia a dia, invade o povo português, profundamente desiludido e revoltado com a política desenvolvida pelo Governo socialista.

Porém, a palavra de ordem do timoneiro do Governo é trágica e constrange tragicamente todos os ministros, a começar pela ministra da Educação.

Na verdade, quando o 1º Ministro defende intransigentemente que o Governo não pode ceder em nada e faz da política uma cavalgada cega para nenhures, um ser frágil e inquieto a quem foram atribuídas grandes e complexas responsabilidades governativas tem tendência para fugir da realidade e refugiar-se em nebulosos pensamentos que ninguém consegue entender.
É este o caso da ministra da Educação que se recusa a perceber o significado da Marcha do dia 5 de Outubro e cuida que todos aqueles docentes, vindos de todo o País, desfilaram de modo inconsciente e ignaro, porque se conhecessem a proposta do ME em vez de protestarem contra ela, aplaudi-la-iam.
Esta afirmação,
que tem implícita a ideia de que os sindicatos mentem aos professores, dizendo que a proposta do ME contém malefícios que realmente não contém, é imprópria de uma figura do Estado e só justificável se dita por alguém que já nem o senso comum respeita tão envenenada está pelos seus esparsos e inconsequentes pensamentos. A realidade e a verdade impõem-se por si - a FENPROF, ao publicar integralmente a proposta de revisão do ECD no seu jornal, foi quem mais divulgou os propósitos liquidicionistas do ECD que o texto do ME encerra. E foi porque os docentes o leram criticamente que contra ele protestaram de forma tão vibrante e veemente.
Infelizmente, a ministra da Educação mostra todos os dias que não conhece os educadores e professores e por isso julga que eles formam um rebanho acéfalo, comandado pelos impostores dos dirigentes sindicais.

Ou alguém trava este desalinho ou a Educação afundar-se-á no mais pantanoso dos terrenos. O sinal está dado, aguarda-se que na reunião do próximo dia 12, o ME confronte desapaixonadamente a sua proposta com aquela que até lá será entregue pelas 14 organizações sindicais, democraticamente consensualizada.

A extremada subjectividade dos governantes do ME é inimiga da verdade. É urgente que a abandonem e se sentem serenamente à mesa das negociações. Da nossa parte reafirmamos uma vez mais a inteira disponibilidade para participarmos num processo negocial transparente, rigoroso e democrático, o que exige um inequívoco respeito do ME pelos parceiros sindicais.

                                                                                     O Secretariado Nacional da FENPROF
10/10/2006