Política Educativa Nacional
Em nome do esclarecimento, não deve ser omitido

A chamada “inflação de notas” dos alunos é uma situação absolutamente excecional no sistema educativo e surge, por norma, em colégios privados

19 de novembro, 2018

Em janeiro de 2015, a comunicação social divulgava que, segundo informação divulgada pelo Ministério da Educação, no Portal das Escolas, de um conjunto de 570 escolas analisadas, se detetara que 24 estavam sempre ou quase sempre “desalinhadas para cima” e 29 “muito desalinhadas para baixo”. Como na altura era referido, nas escolas cujo desalinhamento era “para cima” destacavam-se colégios privados, enquanto que, no desalinhamento “para baixo”, estes eram apenas 1/5 do total. 

Face à situação, que era anómala, ainda que não alarmante, a Inspeção-Geral de Educação e Ciência (a IGEC) anunciou que iria desenvolver uma ação inspetiva para detetar as razões do desvio (ao que parece, apenas do desalinhamento “para cima”) tendo o resultado sido hoje divulgado, de novo, na comunicação social. Para a FENPROF, o problema não está na ação inspetiva nem na divulgação do que foi apurado. O problema está na forma como a divulgação é feita, fazendo crer que o que se passa nas, apenas 12 escolas inspecionadas, 2/3 das quais privadas, é a situação que se vive em todo o sistema educativo nacional, o que não é verdade. 

Se nos situarmos nas escolas públicas em que esta ação decorreu, verificamos que das cerca de 1.200 EB 2.3, Secundárias e EBS, só em 4 (0,03%) a IGEC considerou necessário verificar o que se estava a passar. Ou seja, em 99,97% não se considerou necessário fazer qualquer verificação da existência de desvio, por não existir ou se encontrar dentro de margens que se consideram normais. Provavelmente, também deveria ter verificado o que se passa nas 23 escolas públicas (das 29) em que o desalinhamento é “para baixo”, mas, ou por falta de inspetores ou de interesse nessa ação, isso não foi feito. 

A mensagem veiculada para a população portuguesa em geral, ao não integrar toda a informação útil, põe em causa o grau de responsabilidade, seriedade e profissionalismo dos docentes, o que reforça a suspeita de que não terá tido como proveniência a IGEC, mas sim o aparelho de propaganda do Ministério da Educação, o qual tem sempre procurado desvalorizar socialmente os docentes. 

A FENPROF considera que, se havia intenção de divulgar o resultado da ação inspetiva, deveria ter havido seriedade na forma de divulgação dos dados agora na posse do ME.  

Assim, a FENPROF considera que deveria ter ficado claro que: 

  • A ação inspetiva realizou-se em, apenas, 12 escolas;
  • Dois terços (2/3) dessas escolas são privadas;
  • Mesmo nessas escolas, a “inflação” na classificação interna foi, por norma, imposta pelas direções, não decorrendo, por isso, de qualquer dificuldade dos docentes em avaliar os seus alunos;
  • Os desvios entre as classificações interna e de exame são absolutamente normais, pois as provas de exame não avaliam outra coisa que não seja o desempenho de um aluno num tempo determinado em que responde às questões colocadas, enquanto na avaliação interna são muitos os aspetos que, num quadro de avaliação continuada, são corretamente considerados.

Já agora, em nome da seriedade destes processos, a comunidade educativa tem o direito de conhecer quais as medidas adotadas pelo Ministério da Educação para corrigir a situação de escolas que não cumpriram com as recomendações da IGEC (20% das inquiridas).

 

O Secretariado Nacional